14 - Vadia fria

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Quando chegamos ao quarto do hotel em que Billy está hospedado, já havia escurecido. Entramos tropeçando pela porta, cansados, sujos e risonhos. Me estatelo no sofá, enquanto Billy pega um pedaço de papel no balcão da minicozinha.

– Cadê a Evay?

Ele levanta o bilhete.

– Ela voltou para Los Angeles. Disse que o ar poluído daqui estava invadindo seus poros.

– Você não parece muito abatido em relação a isso.

Billy pega duas cervejas na geladeira e encolhe os ombros.

– Tem muito mais de onde ela veio. Menos uma merda pra me encher o saco.

Ele levanta o violão, que está do outro lado da mesinha de café, e arranha algumas notas. Depois, alcança embaixo da almofada, tira uma sacolinha de plástico transparente e a joga para mim.

– Você ainda enrola os melhores baseados aqui deste lado do Mississippi ou já foi assimilada pela coletividade?

Sorrio com malícia e pego a sacola. Enrolar um bom baseado exige concentração. Se você usar muita maconha, estará
desperdiçando; se usar pouca, você acaba com o propósito. É um processo relaxante. Como tricotar. Lambo a ponta do papel e aliso. Em seguida, passo para o Billy. Ele olha com admiração.

– Você é uma artista.

Ele coloca o baseado entre os lábios e abre seu isqueiro. Mas antes que a chama toque a ponta, bato e fecho a tampa de metal.

– Não. Eu vou acabar fumando por tabela.

– E daí?

Suspiro. Olho para Billy direto no rosto.

– Estou grávida.

Seus olhos se abrem. E o baseado cai de seus lábios.

– Tá brincando?

Mexo a cabeça.

– Sem brincadeira, Billy.

Ele se inclina para frente, olhando para a mesa. Não diz nada por algum tempo, então eu acabo com o silêncio.

– Lisa não quer. Me disse para fazer um aborto.

As palavras saem desconectadas. Monótonas. Porque ainda não consigo acreditar que são verdadeiras. Billy vira para mim e sussurra:

– O quê?

Aceno. E conto todos os mínimos detalhes da minha saída de Nova York. Quando termino, ele está em pé, nervoso e andando de um lado para o outro. Ele murmura:

– Vou dar um tiro naquela filha da puta.

– O quê?

Ele faz um sinal para eu desconsiderar.

– Nada – depois, se senta e coloca uma mão na cabeça. – Sabia que ela era uma idiota, eu sabia, porra. Mas nunca esperei algo assim.

– Sabe de uma coisa? Foda-se ela. Você ganha bem, então não precisa da merda do dinheiro dela.

– Acho que vou fazer um aborto, Billy.

Ele fica quieto. Totalmente. Plenamente.
Completamente.

Mas sua surpresa e decepção martelam bem alto, como um grande bumbo.

Ou talvez seja minha própria culpa.

Lembra quando Susan Smith, há uns vinte anos, afogou seus dois filhos, pois seu namorado não queria uma mulher com filhos? Como o restante do país, eu achava que ela deveria ter sido pendurada nas pontas dos dedos e ter sua pele removida do corpo com um ralador de queijo. Fala sério, que tipo de mulher faz algo assim? Que tipo de mulher escolhe um homem em vez de sua própria carne e sangue?

Atraída 2 (JenLisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora