Capítulo 34 - Até o amanhecer

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Francesca estava deitada no sofá do escritório ao lado, o rosto pálido e úmido de suor. Sua respiração vinha em arfadas curtas, o corpo ainda tremendo de dor apesar dos analgésicos. O coto de sua perna estava firmemente enfaixado, as camadas de tecido já manchadas de sangue seco, enquanto John segurava sua mão com delicadeza, não tirando os olhos dela por nenhum instante.

Albert estava ajoelhado ao lado dela, segurando uma seringa com precisão. Ele injetou a dose de morfina lentamente, seus movimentos controlados, mas seu olhar traía o peso que carregava.

— Pronto — disse Albert, recuando e guardando a seringa em um canto da mesa. Sua voz era firme, mas baixa, como se quisesse evitar romper a frágil paz na sala. — Está medicada. Analgésico e morfina devem ajudar a segurar as coisas até conseguirmos ajuda médica de verdade.

John assentiu, mas sua expressão estava sombria. Ele olhou para a perna de Francesca e, com cuidado, levantou um pouco da faixa na altura da panturrilha. O que viu o fez recuar involuntariamente, o rosto se contraindo de nojo e preocupação. A carne ao redor do ferimento estava inflamada, com um tom escuro e arroxeado que se espalhava como um rio de morte. Veias negras serpenteavam pela pele, irradiando-se como raízes envenenadas a partir da ferida.

John ergueu os olhos para Albert, o rosto carregado de uma pergunta que ele não precisava verbalizar. Albert olhou de volta para ele, e os dois trocaram um olhar pesado, cheio de compreensão. Eles sabiam o que aquilo significava, mas nenhum dos dois queria dizer em voz alta. Não agora. Não ainda.

— Vamos deixá-la descansar — murmurou Albert, levantando-se. Sua voz parecia rouca, o tom quase de desculpas, enquanto ele tentava mascarar o que sentia.

Ele deu um passo em direção à porta, mas foi interrompido por uma voz fraca, quase um sussurro.

— Albert... — chamou Francesca.

Albert parou e se virou lentamente, olhando para ela. Seu rosto mostrava todo o peso das últimas horas: cansaço, dor, e uma tristeza que ele tentava esconder, mas que era impossível de disfarçar completamente.

Os olhos de Francesca estavam semiabertos, brilhando com lágrimas que escorriam silenciosamente por seu rosto. Albert se aproximou dela, os ombros tensos, como se carregasse o peso do mundo. Ele abriu a boca para dizer algo, mas parou ao ver o olhar dela, um misto de serenidade e dor que parecia cortar o ar da sala.

— Albert... — começou Francesca, sua voz ainda fraca, mas agora mais firme. — Eu sei como isso vai terminar.

Albert congelou, fingindo que não havia entendido. Ele olhou para John, como se procurasse apoio, mas o silêncio do companheiro era tão pesado quanto as palavras de Francesca.

— Não sei do que você está falando, Francesca — respondeu Albert, a voz mais baixa do que pretendia.

Francesca soltou uma risada curta, carregada de ironia e tristeza, e fechou os olhos por um momento. Quando voltou a abri-los, havia uma clareza dolorosa ali, como se ela estivesse aceitando um destino que ninguém mais queria reconhecer.

— Você sabe, Albert. — Ela respirou fundo, como se precisasse reunir forças para continuar. — Não tenho muito tempo. É melhor que seja rápido... não só para evitar mais sofrimento, mas para não correr o risco de me tornar uma daquelas coisas.

Albert balançou a cabeça, como se pudesse afastar a ideia.

— Nós não temos certeza disso. Pode haver um jeito... podemos tentar segurar...

— Não — Francesca o interrompeu, sua voz firme agora. — Você sabe o que vai acontecer. Vocês já fizeram isso antes, com o policial que chegou mordido. Eu sei disso. — Ela fez uma pausa, o tom suavizando. — E está tudo bem. Eu só... eu só não quero mais sofrer.

Zombie World: A Origem (Versão Estendida) - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora