40° Capítulo

53 7 2
                                    

Eu não sabia onde me dirigia. Aliás, eu seguia pela rua onde havia sido deixada há momentos atrás, sem pensar ou ponderar .

Era a melhor surpresa que alguma vez recebera. Recordo-me de quando era apenas uma adolescente e de sentir um aperto no coração sempre que uma amiga ou rapariga com quem me dava consideravelmente bem, gabava-se das surpresas e partilhava as fotos com o namorado à boca cheia enquanto eu apenas acenava e sorria, morrendo por dentro com o pensamento de ser uma esquisitoide sem nenhum tipo de experiência amorosa.

Agora, já uma mulher desenvolvida, aqui estava eu a caminho de um dos restaurantes mais chiques de Miami Beach, a beira da praia, enquanto o luar se refletia no imenso mar à frente, a sentir-me bonita como já não acontecia há muito tempo.

Avistei Niall ao fundo que caminhou na minha direção mal os nossos olhares se cruzaram. Ele estava espantoso.

O cabelo inclinado para cima, o sorriso envergonhado e o blazer preto que conjugava na perfeição com as calças de ganga Levis, davam-lhe um charme que não passava desprecebido aos olhares de todas as figuras femininas que passavam por nós, agora a escassos metros um do outro.

Parei então, inclinando ligeiramente a cabeça para cima para conseguir olhar nos seus olhos azuis, que adquiriram um brilho especial. A tonalidade dos mesmos desapareceu do meu campo de visão quando os seus braços rodearam o meu corpo e me elevaram no ar, apertando a cintura e transmitindo tanto calor corporal como um bronzeamento na praia.

Inalei o seu cheiro, a colónia que tão bem o caracterizava a invadir os meus sentidos fazendo-me as pernas bambas mal fui pousada com cuidado no chão.
Niall, parecendo aperceber-se, manteve o aperto na minha cintura beijando os meus lábios suavemente.

- Sophie- um suspiro foi deixado, fazendo a brisa da noite afastar-se da nossa presença, respeitando o momento.- Estás uma brasa.

- Hey, se queres sair comigo primeiro tens de me pagar um café!- disse, frazendo o sobrolho e deixando que o seu braço guiasse os meus ombros até ao restaurante. Ele conseguia sempre deixar-me sem palavras, e tinha de esconder a vergonha, com piadas. Sempre fora assim.

A decoração à entrada era tão sofisticada que tive um medo antecipado de sujar a toalha ou entornar a bebida que, conhecendo a minha faceta de trapalhona, era o mais certo. Mas isso parecia não ter qualquer relevância para ele.

O meu aspecto exterior, a maneira como deixava as minhas inseguranças por vezes levarem a melhor, as borbulhas que cresciam junto ao meu nariz sempre que se aproximava a face de menstruação e que me deixava, sempre,muito irritável e cheia de dores... Tudo, tudo o que para mim era um problema parecia uma coisa mínima aos seus olhos. Eu até podia ter vindo de calções e top, sem um pingo de maquilhagem e com o cabelo atacado( Jesus senhor, que eu nunca faça isso!) que para ele estaria "uma brasa".

A sua personalidade era, na minha opinião, a definição ideal de perfeição. Não porque não possuia defeitos, ou pelo seu aspecto angelical mas porque me aceitava com a longa lista que eram os meus. Porque me puxou a cadeira mal nos sentamos. Porque pediu ao empregado que tocasse uma versão instrumental da minha música preferida dos Coldplay. Porque olhava para mim agora, enquanto eu não conseguia parar de sorrir, um sorriso demasiado grande para o perímetro da minha cara.

- O que é que foi?- perguntei, fazendo um riso forçado.

- Já te perguntaste porque o céu é azul?- ele disse, bebendo um pouco do vinho que tinha sido propositadamente escolhido para aquela noite.

- Já, imensas vezes...- acabei por responder calmamente, reencostando-me na cadeira e deixando que a vela reluzir sobre as entradas que chegaram.

- É a galáxia .- ele disse, dando uma garfada e erguendo o garfo na minha direcção.- Estamos a ver as galáxias passadas. Sabes, as estrelas chegam em anos-luz à terra, e se chegassem todas as mesmo tempo o céu seria de uma cor esbranquiçada. Ao invés...- era pato. Pato com um molho especial. - vemos um azul carregado, mas limpo em cima de nós, apenas enfeitado com pequenos astros brilhantes.

- Fazes-me sentir burra...- confessei, corando ligeiramente.- Queria essa resposta desde que era miúda e teve de ser dada pelo meu namorado... Belo trabalho pai.

- São apenas factos que encontrei. Não fazem de mim um Einstein.- disse, lançando a língua.- Força. É a tua vez de me contares uma teoria que tenhas.

Bom...- pensei por um momento. Não queria passar por inculta mas a realidade era que detalhes a meu ver interessantes poderiam ser um disparate. Ainda assim, arrisquei.- J.K Rowling, a autora de Harry Potter foi recusada por umas 30 editoras, antes de finalmente assinar contrato. E tudo porque deu um exemplar do livro à filha de um importante editor, que depois de a criança ter devorado o mesmo, finalmente lhe arranjou trabalho. Portanto, aí tens... Os livros mais lidos pelos crianças de todo o mundo podiam neste momento nem estar à venda.- Niall sorriu.- E mais, Elvis Presley teve C na sua cadeira de Música.

- São as nossas escolhas, mais do que as nossas capacidades, que fazem de nós quem somos.- concluiu, o loiro citando Harry Potter na perfeição.

- Exatamente.- dei uma garfada e deixei que a mistura de sabores se instala-se.- Não voltes a estar longe de mim tanto tempo... Pareceu uma internidade.

- Não foram muitos dias Sophie....

- Eu não estou a falar dos dias.- respondi sinceramente.- Estou a falar espiritualmente. Com tudo o que se passou, senti-me numa bola de neve que apenas crescia e crescia e crescia, problema atrás de problema até parar por pouco. E... Eu senti a tua falta.- acabei, um pouco embaraçada com o que acabara de confessar.

Niall Pov
Era a sinceridade dela, a maneira como se expunha diretamente para mim, deixando-me ver os seus pensamentos e sentimentos mais profundos. A maneira como o seu cabelo caia pelos ombros em ondas perfeitamente desenhadas. Os olhos reluzentes à luz da vela. O tique de mexer na comida para fugir ao meu olhar após uma confissão e o pensamento que lhe passava na mente. "Que estúpida que fui ao falar. Porque não fiquei eu calada?". A maneira como os seus lábios tremiam... Eu conheço-a tão bem.

- Desculpa.- acabei por dizer, sentindo que me devia desculpar.- Desculpa se não te dei mais atenção. Tu mereces muito mais...- Ela merecia tudo e eu só lhe conseguia dar metade.

- Não, está tudo bem. A sério.

As sobremesas chegaram, e o resto do jantar foi passado calmamente. Ela confessou-me que estava nervosa por hoje. Eu confessei-lhe que o restaurante tinha sido escolhido por Taylor. É um bom tipo. Nunca me falhou em nada, assim como John.

Mas agora as coisas vão ser diferentes..Taylor vai tentar a sua sorte na música, tentar arranjar um trabalho noturno e viver das duas coisas que o fazem feliz e John vai tirar um curso de Filosofia, e deixar a representação por uns tempos depois de dar a volta ao mundo com Vitória- também poderia fazer isso com Sophie, mas eu tenho outros planos para nós dois.

Caminhamos então pela praia, após ter aproveitado a sua ida a casa de banho para pagar o jantar. Nunca permitiria que ela pagasse uma surpresa que tinha sido organizada por mim.

- Está uma noite muito bonita.- ela suspirou a meu lado e fui obrigado a concordar. Passei a mão pelos seus ombros e puxei-a mais perto. Ela gemeu a meu lado, uma expressão de agrado estampada no seu rosto.

Puxei-a para a areia, sentamo-nos a beira mar e cantei para ela. Deixei que a sua cabeça caisse no meu ombro, o seu corpo no meio do meu.

- Sophie?

-Hum?- disse, o som quase imperceptível .

- Vens morar comigo?- perguntei retirando do bolso, os documentos de uma nova casa, acabadinha de comprar.

Nada poderia estragar aquele momento e por mais maricas que pudesse soar, ao observar os seus olhos brilharem, eu sabia que apartir de agora, eu seria dela. Para sempre.

Não é o último capítulo ;)

Far away ( I.j.h.m.y.y sequel) n.hOnde histórias criam vida. Descubra agora