DIA V - Noite dos Meninos

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- Eu sei, sou a melhor pessoa do mundo. - Marshall disse entrando no quarto (pela janela) com as mãos para o alto, como se uma multidão estivesse clamando o nome dele.

- Quem anda mentindo para você, Marshall? - Gumball disse, entregando ao mais velho o chocolate quente.

- Eu sou, e você sabe disso. EU encontrei, no meio daquela bagunça que você chama de sala de filmes, uma caixa escondida! Nunca pensei que você gostava desse tipo de coisa... Sabe o que tinha nela?

Gumball sabia que não tinha nenhum filme "comprometedor ", mas mesmo assim travou e esperou por uma resposta prendendo a respiração.

- FILMES DE TERROR! - Marshall disse, assustando o príncipe ao arregalar os grandes olhos negros e abrir uma boca de demônio aterrorizante.

- MARSHALL! - Gumball tapou o rosto com as mãos, na tentativa infantil de esconder-se, e Marshall arrependeu-se do susto que dera no menor.

- Ei! Calma, relaxa. - O vampiro disse lento, aproximando-se. - Você é muito corajoso! Olha só! Chamou um vampiro/demônio para dormir no seu quarto!

Gumball riu baixinho e abriu os dedos o suficiente apenas para poder espiar Marshall.

- É um ato de coragem! - Marshall continuou. - Tudo bem que eu sou muito sexy e você não resiste, mas AI! - Marshall levou um soco - A Fionna dá petelecos mais fortes que isso!

Em uma recaída de personalidade, digamos assim, Gumball agira como uma adolescente apaixonada ao dar um soquinho no ombro de Marshall. Mas ele não se importou com mostrar-se tão vulnerável, pois teve, naquela tarde, a confirmação de que Marshall era confiável e, por mais estranho que pareça, protetor.

- Pois saiba que eu sou muito forte! E resistente! - Gumball respondeu à afronta. - Faço yoga três vezes por semana.

- Nossa! - Marshall teatralizou a situação. - Yoga! Agora eu sei quem devo chamar quando estiver em perigo! Quem precisa de Fionna e de sua espada quando se tem Gumball, o cara da yoga?

- Cala a boca. - Gumball fez careta e sentou-se na cama, logo seguido por Marshall, que foi interditado por um pé rosado em seu peito. - Você não vai encostar nem a silhueta da sua bunda gorda na minha cama, vai ficar na poltrona! Está muito malvado hoje, precisa pensar no que fez.

- Oh! A terrível poltrona rosa do pensamento! - Marshall pegou a poltrona e colocou-a próxima ao pé da cama, sentando-se nela em seguida.

- Viu só? É por isso que você está aí nessa poltrona pequena e eu estou aqui nessa cama grande e quentinha!

- Tudo bem good girl, vou colocar o filme.

20 muitos de filme

- Vai dar merda isso. - Gumball constatou baixinho.

- Está com medo, princesa? - Marshall perguntou pendendo a cabeça para trás, a fim de ver o príncipe encolhido no meio dos edredons.

- Não, cala a boca.

40 minutos de filme

- AAAAAAAAH!

- Gumball, tudo bem ai? - Marshall indagou preocupado. Mais preocupado com os pulmões do garoto, para ser sincero.

- Claro que sim, porque não estaria?

- Bem, você gritou exatas 17 vezes em menos de 5 minutos. - Marshall disse com um sorrido de canto.

- Mentiroso! Não eram gritos. Eram expressões de surpresa! Você não sabe de nada, cala a boca.

60 minutos de filme

- Marshall Lee. - Gumball sussurrou quase inaudível e não obteve resposta. Então engatinhou pela cama e tentou novamente:

- Lee... 

- Oi, princesa. - Marshall pendeu novamente a cabeça para trás e deu de cara com o rosto de Gumball iluminado pelo filme.

- Eles vão ficar bem? - Gumball perguntou, olhando de canto de olho para a cena do esquartejamento de uma jovem coitada.

- Bem, essa menina ali já era, mas as crianças que ficaram juntas vão sobreviver, se é isso que você quer saber.

- Você promete? 

- Prometo! Esse é o segredo dos filmes de terror! Já percebeu que os idiotas que se separam ou que vão atrás do barulho estranho sempre morrem primeiro? Então! As crianças estão juntas e fugindo do assassino, vai dar tudo certo. - O príncipe abriu um sorriso enorme, como se a resposta de Marshall fosse salvar as crianças órfãs de uma morte lenta e dolorosa.

- Nós... Nós podemos ficar juntos? Juntos como eles?

- Quer que eu... Fique aí com você? - Marshall perguntou lento, sem saber muito bem como lidar com aquilo.

- Não! Você ainda está de castigo! - Gumball demorou um pouco para continuar a falar, como se estivesse ponderando entre fazer ou não o que tinha em mente - Posso me sentar com você?

- Então Sua Alteza Príncipe Gumball quer se juntar a um plebeu? - Marshall disse rindo e Gumball encolheu os ombros.

- Vem cá, princesa. - Dito isso, Marshall pegou Gumball no colo e colocou-o ao seu lado. 

80 minutos de filme

Gumball colocou as penas em cima das coxas de Marshall.

- O que é isso, Gumball? Mais um dos seus sinais? - Marshall pousou a mão no joelho do menor.

- Não é nada disso! Eu só não quero que nada que esteja debaixo dos móveis me puxe para o inferno pelo pé! - Gumball disse, escondendo o rosto no ombro do mais velho e encolhendo-se.

- Claro! E eu não sou lindo. - Marshall disse rindo, abrindo os braços para que o príncipe pudesse se aconchegar.

Aquela, definitivamente, não era a posição mais confortável do mundo e se o filme durasse mais 20 minutos ambos concordariam que Gumball deveria sentar no colo de Marshall. Infelizmente, aquela carnificina só tinha uma hora e meia.

- O filme foi ótimo! - Gumball disse, encaminhando-se para o banheiro.

- A minha parte favorita foi quando você gritou e escondeu o rosto no travesseiro simultaneamente! E a sua? - Marshall apoiou-se nana porta do banheiro.

- Cala a boca! - Gumball respondeu rindo, com a escova de dentes na boca.

Ao terminar a higiene bucal, o príncipe foi se deitar e, antes de abagar a luz do abajur, olhou para o vampiro, que continuava na porta do banheiro, e disse:

- Você pode sobrevoar a poltrona, se quiser, mas na minha cama seu traseiro não encosta.

Dito isso, o príncipe de Aaa deitou-se e dormiu, deixando um Marshall com a cabeça cheia de coisas na porta do banheiro. Ele pensava em como ambos se aproximaram tanto em tão pouco tempo e pela primeira vez, Marshall pôde sentir algum sentimento correspondido. O sentimento de solidão não o atormentou uma vez sequer naquela semana, pois ele sabia que poderia entrar pela janela do príncipe a qualquer hora. Mas mais confortável que esse sentimento é a cama de Gumball.

"Bem, ele disse que eu não poderia tocar na cama dele, mas não disse que não poderia tocá-lo." - Marshall pensou um tanto malicioso, mas não conseguiu manter aqueles pensamentos impuros quando viu o rosto rosado do menor tão sereno. 

- Nota mental. - Marshall sussurrou enquanto ponderava entre abusar ou não de Gumball. - Um: Não deixar Gumball dormir quando estiver com planos em mente. Dois: Não olhar para o rosto dele caso ele durma e violá-lo seja uma opção.

"Ok, não posso me deitar em cima dele porque sou maior e provavelmente mais pesado... Mas posso dar um jeito nisso." 

Marshall então transformou-se em um pequeno - e por quê não dizer fofo - morcego demônio de cerca de 20 centímetros e deitou-se no travesseiro de Gumball. É claro que o risco de ser esmagado ou asfixiado valeria a pena.

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