DIA VIII - Limiar

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Em algum momento de um sonho regado a doces, experimentos químicos e mais doces, Gumball pode ouvir um "boom dia" muito animado.

- Para uma criatura das trevas, você é muito feliz pela manhã. 

- Posso fazer um comentário antes de ser atingido outra vez pelo seu mau humor matinal? - Marshall perguntou sorridente, sem esperar por uma resposta. - Você fica lindo com minha blusa, preto é a sua cor, realmente, mas fica mais lindo ainda pelado.

Dito isso, Marshall afastou um pouco as cobertas de Gumball e levantou sua blusa devagar, como se a lentidão evitasse que o mais novo percebesse os movimentos. 

O príncipe cobriu-se de maneira brusca e tentou sentar-se para evitar o contato, mas falhou miseravelmente - e o pior: mostrou isso ao gemer de dor pela ação. Marshall riu da ironia da situação.

- Cale-se - Gumball finalmente sentou-se, fazendo uma careta.

- Quem diria! Como você tinha dito mesmo? "Sorte a sua que sabe voar"? Foi isso mesmo? - Marshall disse baixo, o sarcasmo quase pingava de sua boca.

- Oh Marshall, vou ter que te calar? - Gumball perguntou, fazendo menção de beijar o outro. Mas Marshall distanciou-se, assustando e deixando Gumball envergonhado. Ele não queria mais beijá-lo? Fizera algo de errado na noite passada?

- Nem vem - Marshall se pronunciou. - Você deve estar com bafo! 

O príncipe relaxou. O vampiro não mudara nem mudaria tão cedo. Tratava-se, basicamente, de uma antítese encarnada num corpo indefinido. Seu bom humor e seu jeito criança de ver o mundo contrastavam com seu olhar sinistro, com a voz grave  e com sua condição invejável de vida eterna. Vida mesmo, os testes indicavam que Marshall não estava totalmente morto. Falando em testes, "Hoje é dia de resultados!", Gumball pensou.

- Disse o cara que nunca trouxe escova de dente nas vezes que dormiu aqui! Bem, nunca te vi escovando os dentes, pra falar a verdade! Isso é nojento, Marshall Lee! - Gumball divagou enquanto se levantava e se arrumava com certa dificuldade. - Mas isso não vem ao caso, temos trabalho a fazer hoje. Finalmente, resultados!

Marshall decidiu que, para o bem da nação, ele deveria ignorar o que saía da boca do príncipe e se concentrar em não lembrar de Gumball cavalgando vagarosamente em cima de si. "Aquelas pernas... Aquela bunda! Como pude me esquecer da bunda?

" Melhor eu me distrair com o falatório antes que faça alguma merda.", pensou o vampiro, com um ar de determinação.

- Hey, Marshall, venha até aqui, por favor. - Gumball gritou do banheiro e imagens um tanto obscenas para  aquele horário da manhã encharcaram a mente eternamente adolescente de Marshall. 

O vampiro, voou de mansinho até a suíte, onde sua excitação foi convertida em surpresa e desespero ao ser agarrado pelo pescoço e violentado com uma escova de dentes.

- Eu vou te denunciar para a polícia! - Marshall tentou dizer com a escova enfiada na boca.

- E eu vou te denunciar pra um dentista! - Gumball disse rindo, escovando os dentes do mais velho rapidamente, uma vez que este estava na iminência de soltar-se de seus braços. - E vai me dar outra escova, já que sua negligência quanto à saúde bucal me fez abrir uma novinha.

- Nem. - Marshall cuspiu a pasta de dentes. - Fudendo. - Cuspiu mais uma vez. - Gostoso. - Enxaguou a boca. - Como você fez hoje. - E saiu correndo do banheiro. 

Algumas horas de piadinhas e conversas sem noção se passaram até decidirem que deveriam almoçar. Assim, caminharam até o salão principal conversando animadamente, como sempre (Gumball tinha o dom de puxar assunto). Alguns doces sorriam ao vê-los, outros se distanciavam e, por fim, haviam aqueles que nem notavam a presença daqueles seres radiando felicidade e bem estar. 

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