DIA II - Dane-se a agenda

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- Não - Príncipe Gumball diz, sem tirar os olhos dos papéis que estava lendo.

- "Não" o quê? Tá doido? - Marshall pergunta ao entrar efetivamente no quarto, pela janela.

- Não era pra você estar aqui, não era pra você entrar pela janela e não é a resposta para sua pergunta de ontem.

- Oi? - Totalmente perdido, o mais velho plana ao lado do outro, na tentativa de ganhar um pouco de atenção. - Olha pra mim!

- Não preciso - O príncipe vira a página - Eu já respondi "não" pra tudo: Hoje não é dia de você vir, te dei uma agenda e ela deve ser seguida. Eu tenho portas de 3 metros nesse quarto, você não deve entrar pela janela.

- Okay, Príncipe da Chatice, e o outro "não"?

Gumball não responde, só levanta o dedo indicador, em pedido de um tempo ou de silêncio, Marshall não saberia definir e, qualquer fosse o objetivo, ele não seria alcançado. Marshall é um Rei, não vai ficar seguindo ordens de um principezinho.

- Marshall, me devolva meus óculos! Santa jujuba, você não poderia ser mais infantil!

Esse era o sutil limiar entre o controle e a falta dele e, enquanto tentava recuperar seus óculos, Gumball pensava em aumentar o número de aulas de yoga de 3 vezes na semana para 15.

- Responde minha perguntaa - Marshall dizia arrastado, sobrevoando o quarto rosa.

- Meu cabelo não é de goma de mascar.

- COMO NÃO? - Marshall se assusta e começa a gesticular exageradamente - Ele tem todo esse formato de bolha!

- Isso é porque eu penteio meu cabelo. Você deveria tentar! Tem quanto tempo que você não vê um pente? Uns 1000 anos? - Gumball responde já com raiva da brincadeirinha boba. Seu cabelo não era feio, era?

- Marshall, me devolva meus óculos, por favor. Eu preciso terminar de decorar meu discurso para o baile de hoje.

- Baile? Que horas?

- Às 22:00, e você não está convidado.

- Por que não fui convidado? - A pergunta vem junto à entrega dos óculos.

- Porque você é você, oras.

- Pois saiba que, quando eu era criança, ouvi uma história que contava sobre uma bruxa que não foi convidada para uma festa e enfeitiçou a princesa do castelo. Você quer ser enfeitiçada, princesa?

- Marshall! Você só fala coisas burras! Primeiro, isso é uma história real. Segundo, não era uma festa, era um batizado. Terceiro, o nome dessa bruxa é Malévola e você deve respeito a ela, porque ela teve uma vida muito difícil! Agiu assim porque teve sua confiança traída!

- Você também é mal compreendido? Porque me trata que nem uma Malévola, louco pra me ver adormecido eternamente - Marshall diz, teatralizando cada palavra, mas com um pingo de receio na voz.

- Isso não vem ao caso, vampiro.

- Sabe o que vem ao caso? Você está errado: bruxas não existiram, isso é só uma história.

- MARSHALL - Gumball solta uma gargalhada - Você é mesmo um idiota, é claro que existiram! Agora vai me dizer que princesas, príncipes, bruxas, magos, duendes, unicórnios, vampiros, zumbis e animais falantes não existiam!?

- Claro que não, Gumball! Você é bobo? - Marshall pousa em frente ao mais novo, encarando-o com curiosidade. Tão inteligente, mas tão inocente! Provavelmente ele lera todas as obras salvas de antes da Grande Guerra dos Cogumelos.

- Devo ser, porque se vampiros não existem, eu estou conversando com o que? Um holograma? - Gumball estava assustado, mas se divertindo com a ignorância do mais velho. Divertindo-se depois de tanto tempo de trabalho.

- Bem, não sei dizer sobre os vampiros de antes, mas essa Malévola era um conto de fadas.

- Okay, Marshall, quero que leia dois livros - Gumball andou até sua grande estante e tirou dois livros bem velhos e encapados de maneira a preservá-los - Drácula e Crepúsculo. Depois de ler, duvido que você continue pensando assim.

- Eu vou demorar uns 50 anos pra ler isso! Não pode me contar o que acontece?

Gumball faz uma careta. Dizem que não se deve confiar em quem não gosta de ler, mas Marshall parecia interessado pela história, então:

- Bem, não tenho tempo agora, mas tem ótimos filmes... Eu posso te emprest-

- Podemos ver depois da festa! Vou me arrumar e volto meia noite - Marshall disse, flutuando em direção à janela.

- Marshall, não! - Gumball protesta.

- Marshall sim! Ou a princesa quer ser posta em sono profundo?

E com isso Marshall some, mais uma vez, voando pela janela.

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