Capítulo 15 - Aquela época do mês

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1995

Os dias estavam sendo ainda mais mágicos em Hogwarts com o torneio acontecendo, mas era o feriado de Páscoa e eu não aguentava mais de saudades dos meus pais já que tinha passado as férias de final de ano e na escola. Quis aproveitar a oportunidade de passar alguns dias, mesmo que poucos, em casa.

Só havia um problema. Naquela semana a lua estava em sua fase cheia.

O expresso de Hogwarts chegou à Kings Cross à noite e como eu imaginava, quem me esperava na estação eram mamãe e Wesley. Assim que os avistei corri para abraçá-los.

- Ficamos com saudades, princesa - disse mamãe sorrindo.

Wesley também sorria e se ofereceu para carregar minha bagagem. Eu havia trazido apenas minha mochila com poucas roupas, alguns livros e pergaminhos para fazer as lições que foram dadas pelos professores.

Fomos direto para casa. Mamãe não preparou um banquete de boas-vindas, pois sabia que os banquetes eram "lugar comum" em Hogwarts. Ao invés disso ela e Wesley tinham comprado pizza e refrigerante.

Eu adorei! Apesar de gostar muito da comida da escola, estava sentindo falta disso.

Enquanto comia, coloquei mamãe e Wesley a par de tudo que havia acontecido em Hogwarts até aquele momento. Eu estava feliz em reencontrar os dois, mas também estava ansiosa para rever papai, principalmente porque as noites eram de lua cheia e isso me preocupava bastante.

*
Na manhã seguinte, por volta das 10 horas, pedi para mamãe me deixar na casa onde papai estava e assim ela fez.

- Venho te buscar às 5 da tarde, Lana - disse ela antes que eu saísse do carro.

- Às 6, mãe. A lua não aparece antes das 7 - retruquei.

- Lana, você sabe que seu pai nem gosta que você esteja com ele nesses dias. Ele só abriu uma exceção dessa vez porque faz muito tempo que não te vê e essa vai ser a única oportunidade até às férias.

- Tá bom - concordei. - Pode ser cinco e meia? - insisti.

- Tudo bem - mamãe me deu um beijo na cabeça - a gente se vê mais tarde.

- Até mais, mãe.

Despedi-me dela e desci do carro. Segui para a casa e entrei usando a chave que papai tinha duplicado para mim. Ele teve a ideia depois de um dia, durante as férias, em que eu passei horas do lado de fora esperando por ele. Um simples movimento com a varinha e um chaveiro com três pequenas chaves virou dois.

Eu entrei em casa e fechei a porta.

- Pai - eu chamei sem gritar. Como a noite anterior havia sido lua cheia imaginei que ele ainda poderia estar dormindo.

Subi as escadas para o segundo andar e encontrei papai dormindo a sono solto. Ele roncava alto e a camisa que usava estava rasgada em vários lugares. Me abaixei ao lado da cama e vi alguns cortes em suas mãos, braços e rosto. Não dava para ver se tinha machucado também as pernas porque ele havia jogado um cobertor sobre elas.

- Você não merece isso, papai - acariciei levemente os cabelos dele. Meus olhos se encheram de lágrimas.

Ele se mexeu com o meu toque e resolvi sair do quarto para deixá-lo dormir.

Não tinha muito que fazer. A casa estava arrumada e as roupas limpas e guardadas.

Fui até a cozinha pegar um copo d'água e tive a ideia. Papai certamente iria acordar com fome. Eu poderia preparar alguma coisa para comermos. O problema era apenas um. Eu não sabia cozinhar. Já havia tentado algumas coisas simples, mas apenas para mim. Nunca tinha cozinhado para outra pessoa.

Abri a geladeira. Estava quase vazia. Papai não aderira aos hábitos muggle para conservar comida. Por sorte encontrei alguns legumes e uns pedaços de carne pré-cozidas. Havia também algumas batatas em um cesto e alguns temperos no armário. Não seria nada muito criativo, mas serviria para matar a fome.

Depois de colocar os vegetais em uma panela deixei cozinhando e fui para a sala. Não é porque estávamos de férias que não tínhamos tarefas para fazer. Nem vi o tempo passar enquanto estudava. Só quando papai chegou à sala é que parei.

- Tem algo cheirando bem na cozinha - disse ele com uma voz rouca.

- Pai! - coloquei o pergaminho e a pena sobre a mesa da sala e corri até ele. - Senti saudade - disse enquanto o abraçava.

- Também fiquei com saudade, filha - ele me abraçou de volta. Papai tinha trocado as roupas rasgadas por outras com remendos.

O abraço não pode ser demorado. Eu precisava checar a panela no fogão. Papai me seguiu até a cozinha. Ele mancava e usava uma bengala como apoio.

- Não precisava Lana. Eu ia cozinhar alguma coisa pra gente.

- Ah, pai. Eu sabia que você ia estar... cansado hoje - eu experimentei um pedaço de batata e coloquei os pedaços de carne dentro da panela.

Papai estava sorrindo e eu sorri de volta.

- Ainda não está pronto - anunciei. - Mais uns minutinhos cozinhando.

- Dever de casa? - perguntou ele apontando para os pergaminhos sobre a mesinha da sala.

- É, até nos feriados - sorri.

Ele riu - vamos, eu ajudo você.

Meia hora depois, com a ajuda de papai, eu já tinha terminado os deveres e o cozido também estava pronto. Nos sentamos à mesa depois de colocar toalhas, pratos e talheres sobre ela.

Não sei se a comida havia ficado realmente boa ou se papai estava com muita fome, a verdade é que eu nunca o vira comendo com tanto apetite.

- Que bom que você gostou - comentei.

- Está perfeito filha - ele comeu mais um pouco. - Mas não precisava tanto trabalho.

- Não é trabalho nenhum quando é pra você papai - acariciei os cabelos dele enquanto me levantava. - Esqueci de pegar o suco que eu fiz - disse voltando à mesa com uma jarra e dois copos e servindo a nós dois.

Eu comi uma vez só, mas papai repetiu pelo menos três vezes até ficar satisfeito.

- Estava tudo ótimo.

Eu sorri para ele.

- Pai, o que aconteceu com você ontem à noite? Você se transformou, não foi?

- Lana, eu precisei filha. Havia alguns licans agindo de forma suspeita. Era o melhor jeito de investigar sem ninguém sair ferido.

Peguei uma das mãos dele exibindo os cortes.

- Isso é mínimo perto dos benefícios que uma incursão como essa pode ter.... - ele segurou minha mão. - Não precisa se preocupar. Já averiguei tudo o que precisava. Hoje à noite vou ficar quietinho em casa - papai me puxou para me sentar no colo dele. Eu passei o braço por trás do seu pescoço.

- Papai, você não acha que eu estou um pouco grandinha para caber no seu colo?

Ele beijou minha bochecha - discordo. - Ele sorriu.

Eu deitei minha cabeça sobre o ombro dele.

- Mas me diz, como estão as coisas em Hogwarts?

Contei tudo a papai. Sobre como tinha conhecido Jimmy. As tarefas do torneio Tribruxo. Sobre o baile de inverno e é claro agradeci o presente que ele havia me enviado. Perguntei também sobre meus avós, mas papai disse que teria que procurar em meio às coisas dele para ver se encontrava alguma foto. Ele me disse, no entanto que eu estava ficando parecida com a minha avó que também tinha cabelos escuros e olhos claros como os dele.

Foi ótimo passar o dia com o papai, mas a tarde logo foi indo embora. Mamãe chegou pontualmente às cinco e meia. Dei um abraço apertado em nele e prometi que ficaria com muita saudade até quando nos víssemos novamente em minhas próximas férias. Ele fez a mesma promessa.

***
Ansiosa para saber mais sobre meus avós! Espero saber um dia!

Não passem para o próximo capítulo antes devotar nesse!

Livro 2 - Magia em todo lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora