1994
Desci do ônibus e corri até a porta da nossa casa de campo e bati três vezes. Não obtive resposta. Talvez ele estivesse dormindo, ou pior, não estivesse em casa. Bati mais três vezes, dessa vez com força.
Ouvi, lá dentro, o barulho de um jornal sendo dobrado e os passos de papai ficando cada vez mais audíveis à medida que se aproximava da porta. Assim que ele a abriu eu me joguei sobre ele o abraçando com força.
- Lana, - ele ficou surpreso. - O que faz aqui?
Eu apenas levantei a cabeça e olhei para ele. Meus olhos embaçados, cheios de lágrimas.
- O que aconteceu? - ele se abaixou ficando com os olhos na altura dos meus.
- Nada - sacudi a cabeça em uma negativa pouco convincente e o abracei de novo.
Papai fechou a porta e me conduziu para o sofá de dois lugares que havia na sala. Ele se sentou e eu me sentei em seu colo com as pernas esticadas sobre a parte vazia do sofá.
Uma das várias qualidades que eu apreciava nele, era a sua paciência. Ele sabia que havia algo errado, mas iria esperar até que eu estivesse pronta para falar. No entanto, havia uma resposta pela qual ele não poderia esperar.
- Lana, - eu não olhei para ele dessa vez.
Queria ficar quietinha ali recebendo os carinhos dele.
- Sua mãe sabe que você está aqui? - ele perguntou enquanto afagava meus cabelos.
Respondi que sim apenas com um aceno de cabeça.
Não sei quanto tempo se passou. Por mim ficaria para sempre ali abraçada com papai, mas eu sabia que ele queria saber o que tinha acontecido, mesmo que não pudesse me ajudar. Ainda sentada em seu colo, levantei o rosto. Ele passou os polegares sobre meus olhos enxugando as últimas lágrimas. Eu suspirei. Um suspiro longo e doloroso.
- Wesley não quer que eu volte para Hogwarts - meu coração doeu ao me lembrar de tudo que meu padrasto havia dito.
- Porque não? - papai perguntou sem exaltar a voz.
- Ele diz que não vê futuro para mim brincando de fazer mágica. Eu deitei minha cabeça novamente sobre o peito de papai.
Claro que Wesley não tinha dito só isso. Nunca vou me esquecer de nenhuma palavra. "Não sei de onde vem essa ideia! Olha pro seu papaizinho querido! Como ele ganha a vida? Recolhendo as sobras dos outros? O que ele exatamente faz para viver?". Me aninhei ainda mais entre os braços de papai. "Impressionante como você não dá valor às coisas Lana! Eu trabalho duro o dia todo. Coloco comida nessa mesa! E você dá importância? Não! Claro que não! Você não gosta de mim. Não, não gosta. Nunca gostou, nem nunca vai gostar! Nem você nem sua mãe. Pra vocês eu não tenho valor, mesmo fazendo tudo por vocês". Não diria nada daquilo a papai. Não achei necessário. Ele não precisava saber.
- Entenda que a magia está meio fora da realidade para ele Lana - papai ponderou. - Por isso reage assim - ele continuava acariciando meus cabelos. - Mas não se preocupe. Eu vou conversar com ele...
- Não! - levantei minha cabeça e olhei para papai. - Não precisa! - minha voz tinha um tom de urgência.
Papai deu um pequeno sorriso.
- Sei que você não está me contando tudo o que aconteceu.
Aquilo me impressionou. Como ele sabia? - pensei.
Respondi com um sorriso, entretanto, menor que o dele.
- Seja lá o que ele tenha dito filha, não fique com raiva dele. Wesley tem um emprego bastante estressante, e trabalha por muitas horas. Tenho certeza que foi da boca pra fora. Não foi de coração.
Deitei-me novamente sobre o peito de papai. Impressionante a sensibilidade que ele tinha. Wesley provavelmente estava preocupado com o meu futuro, mas também, ele não tinha como saber sobre a dinâmica do mundo bruxo, conhecendo ele tão pouco.
Papai era a exceção, não a regra. Mas Wesley também não sabia da licantropia. Nós decidimos que seria demais para ele e que sua reação podia não ser das melhores. O medo do desconhecido é uma ameaça tanto para muggles como para bruxos. Pode gerar reações catastróficas e exageradas.
Não era verdade o que Wesley dissera sobre eu não gostar dele. Claro que eu gostava. Durante 11 anos eu havia pensado que ele era meu pai, e eu o amava como tal. No entanto, acho que ele nunca havia entendido, e tenho medo que nunca entenda, que dinheiro nenhum no mundo é capaz de fazer um filho amar seu pai.
***
As coisas nem sempre são fáceis de serem compreendidas entre pais e filhos, mas o importante é nunca desistir.Esse capítulo foi mais curtinho. Vocês gostaram?
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Livro 2 - Magia em todo lugar
Fiksi PenggemarApós passar um ano inteiro com meu pai Remus Lupin, é hora de voltar sozinha para a escola. Depois que sua condição de lobisomem foi revelada, ele preferiu evitar o preconceito dos pais dos alunos e pediu demissão. Entretanto, Hogwarts sempre nos ag...