Capítulo 16 - Durante aquela viagem

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1995

Foi bom estar em casa naqueles dias, mas era apenas o curto feriado de Páscoa e no domingo mamãe, Wesley e papai me levaram para Kings Cross.

Não havia muitos alunos na plataforma. Com certeza a maioria havia preferido ficar na escola.

Despedi-me de mamãe e Wesley e atravessei a barreira entre as plataformas 9 e 10 com papai.

- Aproveite bastante o resto do ano letivo - disse ele.

- Vou sentir saudade.

- Eu também, filha.

- Pai, você acha que um dia voltará a lecionar em Hogwarts?

- Não vejo essa possibilidade. Você sabe.

- É, eu sei.

Papai acariciou meus cabelos. Por trás dele vi duas meninas apontando para nós e rindo. Não entendi totalmente porque elas faziam isso, mas preferi não comentar com papai.

O trem deu o primeiro apito.

- É melhor você ir.

- A gente se vê nas férias, pai.

- Com certeza meu amor.

Eu o abracei e ele retribuiu o abraço. Depois de ganhar um beijo na cabeça, segui com minha mochila em direção ao trem. Quando encontrei uma cabine vazia, a deixei sobre o assento e fiquei na janela acenando para papai na plataforma enquanto o Expresso de Hogwarts se afastava.

Quando a estação não passava de um pontinho bem longe eu me sentei e tirei um dos livros que estavam na mochila. Dessa vez não era algo da escola. Era um dos livros que eu tinha em casa e ainda não tinha tido a oportunidade de ler.

Devo ter passado cerca de meia hora lendo até que as meninas que haviam ficado rindo e apontando para mim e papai na estação apareceram na entrada da cabine. Agora que elas estavam mais perto, percebi que um dos rostos era conhecido, era a menina que eu havia tido o desprazer de conhecer na primeira viagem que fizera no Expresso de Hogwarts. Já a outra, eu não sabia quem era. Ambas, entretanto, usavam o uniforme da mesma casa. Sonserina.

- Olha quem está aqui - a menina que me era familiar entrou na cabine e se sentou de frente para mim acompanhada pela outra. - A filha do lobisomem. Achei que você fosse ser expulsa da escola junto com o seu pai...

Eu fechei o livro e olhei para ela.

- É um risco pessoas do tipo de vocês circularem entre a gente!

- O que você quer dizer com isso? - perguntei ao mesmo tempo curiosa e com raiva já prevendo qual seria a resposta.

As garotas riram.

- Ora, todo mundo sabe quem são os lobisomens! Mesmo os muggles sabem que não são pessoas dignas de confiança. São perigosos - uma delas respondeu.

- Claro que eles acham que tudo é uma lenda, mas estão certos na parte que os reconhece como uma ameaça. Feras incontroláveis - a outra continuou.

Não sei se foi a expressão "feras incontroláveis" ou as insinuações da garota, mas algo despertou de repente dentro de mim e eu avancei para cima da menina e agarrei seus cabelos. Ela começou a gritar e a amiga dela se jogou sobre mim e agarrou meus cabelos. Começamos a rolar pelo chão da cabine enquanto nos esbofeteávamos.

- Meninas! - ouvi o grito de um garoto que acabara de entrar na cabine.

Com medo de que fosse um monitor ou um professor nós paramos na mesma hora. Mas não era nem uma coisa nem outra. Eram apenas um casal de alunos mais velhos da Corvinal.

- O que está acontecendo? - perguntou o rapaz.

As meninas se levantaram e a garota que haviam vindo com ele me ajudou a levantar.

- Vocês não acham que tem espaço suficiente no trem para ficarem na mesma cabine se não apreciam a presença umas das outras? - o garoto disse com a voz firme.

As meninas, ainda com expressão de raiva no rosto, deixaram a cabine.

- A gente se vê na escola, aberração! - a última a sair sussurrou no meu ouvido.

Assustei ao ouvir aquilo e fiquei com raiva, mas não podia iniciar uma nova briga.

- Pronto minha flor. Elas já foram - disse a garota sentando e me acomodando ao lado dela.

- O que aconteceu entre vocês? - perguntou o garoto sentando do outro lado da cabine de frente para nós.

Eu dei de ombros - nada.

Ele sorriu - vou fingir que acredito.

- Qual o seu nome? - a garota perguntou enquanto eu tentava ajeitar meu cabelo.

- Lana Lupin - desde que as devidas alterações foram feitas nos meus documentos eu fazia questão de falar o sobrenome dele.

- Lupin... - o garoto repetiu. - "O" professor Lupin? Você é parente dele?

- Sim, - respondi mais animada com o entusiasmo dele - sou filha dele! - sorri.

- Que legal! - ele comentou. A garota ao meu lado também sorria.

- Seu pai foi um dos melhores professores que defesa contra artes das trevas que nós tivemos! - ela continuou. - Eu me chamo Violet Nolan e ele William Conway - ela fez as apresentações.

Quase não acreditei ao ouvir aquele nome. Tinha notado algo familiar em seus olhos azuis, mas os cabelos negros e compridos o deixavam muito diferente. William reparou que eu olhava fixamente para ele.

- O que foi, Lana? - perguntou.

- Você... pintou os cabelos? E deixou crescer?

- Nós já nos vimos antes? - ele quis saber.

- Quando fui ao beco diagonal antes do início das aulas, comprar o material com meu pai. Você era loiro - eu sorri e não me atrevi a mencionar que pensara em convidá-lo para ir ao baile comigo e que também o vira dentro do castelo com Violet. Depois que ele confirmou quem era percebi que a garota era a mesma que estava com ele naquele dia.

- Verdade. Encontrei com o professor. Mas não me lembro de ter visto você, desculpa.

- Tudo bem! - sorri.

- Que pena o professor Lupin ter saído - ele comentou.

- Tem gente que não entende que nem todos os licans são maus - acenei com a cabeça indicando as meninas que haviam saído.

- Ahh... agora começo a entender o motivo da briga - comentou William.

- Pois é - eu disse.

- Esquece isso - disse Violet. - Tenho certeza que seu pai é uma boa pessoa. Mas sei como o preconceito atrapalha muitas coisas.

Sorri. Senti-me bem em companhia dos dois.

- Que tal uma partida de Snap Explosivo*? - sugeriu William.

Gostei da ideia e nós três passamos o resto da viagem jogando. Claro que cada vez que o trem balançava mais forte as cartas voavam pelos ares, mas isso deixou o jogo ainda mais divertido dado a sua instabilidade. Antes de chegarmos a Hogwarts eu ainda dividi com Violet e William os chocolates que eu tinha ganhado de papai, mamãe e Wesley. Senti que havia conquistado mais dois amigos e isso me deixou muito feliz.

*Nota: Snap Explosivo - Jogo de baralho onde usa-se as cartas para construir um castelo que pode explodir a qualquer instante.

***
Não fiquei feliz por ter brigado com as garotas, mas infelizmente não me controlei. O jeito agora era torcer para que isso não gerasse problemas.

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Livro 2 - Magia em todo lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora