Capítulo 4 - Calmaria na tempestade

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1994

Quando finalmente a lua mudou de fase eu já havia arrumado minhas coisas e estava pronta para voltar para a casa onde papai estava. E eu esperava ansiosamente por aquele dia. O que eu não esperava era a chuva torrencial logo pela manhã.

- Você tem certeza que não prefere esperar essa chuva passar filha? - minha mãe perguntou parada ao lado da porta do meu quarto.

- Não - respondi. - Nós já vamos? - sorri.

- Vamos sim, senão chego atrasada na faculdade.

Eu peguei minhas coisas e também uma capa de chuva. Depois segui mamãe para a garagem de onde saímos. Não demorou muito até chegarmos a casa onde papai estava, e a chuva ainda não havia parado. Ainda dentro do carro, eu vesti a capa.

- Posso te buscar semana que vem? - mamãe me perguntou.

Eu sorri - pode.

- Eu sinto sua falta - ela esticou os braços para me abraçar.

Eu correspondi o abraço e nós rimos do barulho que a capa de chuva fez ao ser apertada. Abri a porta do carro e percebi que papai, provavelmente usando mágica, já havia aberto o portão que dava acesso ao jardim. Terminei de me despedir de mamãe, peguei minhas coisas e corri para casa.

Depois que passei pelo portão ouvi o seu barulho ao ser fechado e corri para a porta da frente da casa onde papai me esperava. Ele se afastou para me deixar passar e depois fechou a porta.

- Você deveria ter esperado a chuva passar, filha - papai agitou a varinha e todas as gotas d'água que cobriam a minha capa secaram. Eu a tirei e coloquei, junto com minha mochila, no chão e o abracei. Quando ele me abraçou percebi que ele estava usando uma bengala para se apoiar.

- Eu não aguentava mais esperar - respondi, afastando um pouco para olhá-lo nos olhos - você está bem?

- Sim filha, estou. Eu olhei para a bengala e ele seguiu meu olhar.

- Ah, isso - ele se dirigiu para a sala mancando um pouco e sentou em uma das poltronas.

Eu o segui e fiquei de pé em frente a ele esperando que continuasse - o porão não estava assim tão bem vedado, e os raios da lua conseguiram passar. - Ele suspirou - mas eu resolvi o problema no dia seguinte. Entretanto cada vez que me transformo parece que levo mais tempo pra me recuperar.

- Faz pouco tempo que você se transformou em Hogwarts, papai. Foi uma noite difícil. Você se machucou bastante. Tenho certeza que mais algumas semanas e você vai estar bem melhor.

Ele deixou a bengala no chão e me puxou para junto dele. Eu tirei os sapatos, sentei ao lado de papai e o abracei com carinho. Ele começou a acariciar meus cabelos.

- Lana, no dia em que sua mãe veio te buscar, eu disse a ela que havia te contado sobre o incidente no porão. Ela contou mais alguma coisa sobre aquele dia?

Acenei positivamente com a cabeça e depois olhei para ele. Papai sorriu para mim.

- Então acho que você já sabe de tudo o que aconteceu naquela noite.

- E no dia seguinte - completei.

Senti que papai ficou um pouco desconfortável com a revelação, mas de certa forma acho que ele já imaginava que mamãe me contaria tudo.

- Bom, então acho que agora você sabe toda a história - ele ficou sério. - Me perdoa?

Eu o soltei do abraço e passei a acariciar seus cabelos.

- Te perdoar pelo que pai? - sussurrei.

- Você entendeu o perigo que você correu?

- Claro que eu entendi papai, mas sei também que você faria tudo para me proteger. O que aconteceu não foi de propósito. Não foi culpa sua.

- Lana... - papai tinha os olhos cheios de lágrimas.

- Tenho orgulho de ser sua filha - eu também tinha lágrimas nos olhos.

- E eu me orgulho de ser seu pai - ele sorriu e me deu um beijo na testa.

- Pai, como é que você foi contaminado com a licantropia? - perguntei depois de um tempo em silêncio.

Ele sorriu. Acho que já tinha se acostumado com a minha curiosidade. No entanto pareceu pensar bastante antes de responder. Fiquei na dúvida se devia ter feito aquela pergunta.

- Eu era muito pequeno, mais novo que você - papai ajeitou uma mecha do meu cabelo. - Meu pai, seu avô, teve um desentendimento com um homem e o jeito que ele encontrou de se vingar foi me contaminando. Ele podia ter me matado, mas acho que imaginou que o sofrimento seria maior desse jeito, e estava certo. Naquela época ainda não existia a poção Wolfsbane e tudo era mais difícil. Uma vez por mês eu tinha que ficar escondido em algum lugar seguro para não machucar as pessoas. Foi assim em casa e em Hogwarts, porque a poção só foi descoberta, por Damocles Belby, lá pela metade dos anos 70.

Senti que faltavam muitos detalhes, mas respeitei a decisão do papai de contar a história dessa forma. No entanto, havia ainda algo que eu queria saber e não conseguiria deixar de perguntar.

- A transformação dói?

Papai deu um pequeno sorriso e suspirou - sim. - Percebi que ele não queria dizer aquilo, mas não havia motivo para mentir - quando eu me transformo, meus músculos têm que se ajustar a nova forma do meu corpo e isso costuma causar alguns estiramentos, e isso dói. Minha pele também sofre com a transformação, por isso eu pareço cada vez mais velho e cansado.

- Você é lindo pai - sorri e acariciei seu rosto.

Papai não disse nada. Apenas me puxou para o seu colo e me abraçou firme. Eu retribuí o abraço. Lá fora a chuva continuava batendo com força no vidro da janela. No entanto não havia, para mim, calmaria maior do que aquela.

***
Preciso explicar porque amo tanto esse homem?

Mas como é difícil fazer ele entender isso! O fato dele ser lobisomem não muda em nada o que sinto por ele. Um dia conseguirei fazer ele entender.

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Livro 2 - Magia em todo lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora