Waste

18

Virei bruscamente em uma curva para direita. Apenas mais alguns metros e eu já estaria de volta em meu apartamento.

Eu queria chegar logo. Um sentimento forte apertava meu peito. Eu não tinha certeza, mas talvez fosse saudade...

Girei o volante novamente, dessa vez adentrando no pequeno estacionamento do meu condomínio. Estacionei com cuidado e desci do carro, checando meus bolsos para ter certeza de que não havia me esquecido de nada. Fui até a porta traseira e peguei um pequeno buquê de rosas vermelhas que eu havia comprado para Lauren, eu havia visto esse buquê em uma floricultura enquanto vinha para cá, achei bonito e resolvi compra-lo. Caso ela me perguntasse, eu diria que significava um simples pedido para que ela ficasse boa logo, mas talvez essa não fosse a verdade.

Fechei a porta com cuidado e me dirigi para a porta de aço que dava para as escadas do prédio. Subi em passos lentos, conforme eu me aproximava do meu andar uma música calma invadia meus ouvidos, achei estranho pois nenhum de meus vizinhos loucos tinha o habito de ouvir músicas. Fumar crack sim, mas ouvir música nunca.

Subi as escadas do terceiro andar com cautela. Quando finalmente cheguei no quarto andar vi uma silhueta já conhecida de costas para mim, com os cotovelos apoiados no beiral da janela que ficava pequeno hall em meu andar. Lauren estava distraída, olhando a paisagem e fumando um cigarro.

- O que você está fazendo? - perguntei com a voz serena para não assustá-la, não funcionou, a garota deu um pequeno pulo e colocou uma mão sobre o peito do lado esquerdo. Eu estava encostada na parede segurando o buquê atrás de mim para que Lauren não o visse.

- Cristo!! - soltei uma breve risada com o susto de Lauren. Ela agora estava de frente para mim e eu podia ver seu rosto, ainda estava machucado, seu lábio cortado e inchado, seu olho direito com um círculo roxo ao redor, porém agora ela já conseguia mantê-lo aberto sem gemer de dor, tirando outros arranhões e hematomas espalhados pela face. - Eu vim aqui fora fumar. - respondeu minha pergunta erguendo o cigarro em sua mão, como se fosse brindar com ele.

- Ah sim... - me aproximei com a mão que segurava o buquê escondida atrás das minhas costas. - O música vêm lá de dentro? - apontei para a porta com a outra mão tentando desviar sua atenção. Seus olhos estavam vidrados em meus movimentos e seu cenho estava franzido dedurando toda sua curiosidade.

- Sim, Dinah disse que não teria problemas... - Lauren disse pausadamente, com incerteza. Seu corpo balançava de um lado para o outro tentando bisbilhotar o que eu estava escondendo, eu apenas me desviava e ria de sua reação. - O que você está escondendo aí? - agora ela estava na ponta dos pés, seu esforço era inevitável.

- Dinah? O que ela está fazendo aqui? - embora eu estivesse tentando desviar sua atenção novamente, eu estava mesmo curiosa para saber o motivo da visita inesperada de Dinah.

- Ela apareceu aqui mais cedo atrás de você, ela estava desesperada. Eu contei que quando eu acordei você já não estava em casa e não tinha deixado recado nenhum, mas ela disse que ia ficar e esperar até que você chegasse. Camila para de me enrolar e mostra o que você tem aí antes que eu tenha que descobrir à força.

Eu adoraria.

Mas agora não era a hora, as flores são frágeis e depois de ontem, Lauren estava bem parecida com essas flores quando se trata de fragilidade.

Lentamente fui desvendando a surpresa para Lauren. Sua expressão de confusão foi substituída por uma de surpresa. Ela pegou o buquê de minhas mãos e o cheirou. Ainda na loja eu havia cheirado as rosas, não tinham cheiro de absolutamente nada, acho que cheirar flores era apenas um ato clichê e educado.