O natal estava próximo. Camila e eu havíamos nos aproximado um bocado nas últimas semanas. Ela sempre me acompanhava no tratamento dos soldados, muitas das vezes sem que estivesse filmando, só ficava ali, conversando comigo e esperando o tempo passar. Acho que sua intenção era me distrair ao mesmo tempo em que ocupava seu tempo livre. Tanto ela quanto eu vivíamos dentro da base, lidando única e exclusivamente com o que estava em nosso terreno. Não sei se ela tinha autorização para deixar os portões, nunca perguntei a respeito. Em muitas das vezes que vinha me ver, trazia Dinah consigo, a loira não gostava de ficar sozinha e ambas pareciam sentirem-se "seguras" em minha presença. Os boatos que correm acerca das bases militares são bastante assustadores, muitos envolvendo estupro e até mesmo assassinato, imagino que a ideia de algo parecido acontecendo com elas, devesse lhes causar pesadelo. Apesar de terem Austin compondo o seu time informativo, o rapaz era ainda mais assustado que as duas mulheres, não servia para nada além de segurar aquela maldita câmera, mas ainda assim vivia no pé delas. Sempre que estavam em minha companhia, não demorava muito para o garoto franzino aparecer. Ele era um pouco inconveniente, como se quisesse vigiar os passos delas a todo momento, ou talvez só estivesse receoso de ficar sozinho entre os militares também. Vai saber.
Hoje era um daqueles tranquilos dias onde não recebemos nenhuma coordenada para verificar e a base fica com sua frota completa. Por mais tumultuado que fosse, a sensação de "casa cheia" trazia um clima de alívio pro local. Era bom tirar um descanso vez ou outra. Esses dias aconteciam raramente, mas eram muito esperados por todos nós. Não que estivéssemos fugindo da nossa responsabilidade, mas o corpo e a mente sempre precisam de descanso, e isso não é prioridade no exército. Nossas maneiras de passar o tempo não eram muito elaboradas, geralmente jogávamos cartas ou incentivávamos alguns jovens soldados a dançarem musicas da cultura pop americana. Decidi dedicar o meu tempo livre à leitura de um livro. Estava sentada em uma desconfortável cadeira de ferro quando notei Camila se aproximando, ela usava uma calça camuflada exatamente igual a minha, provavelmente alguma das meninas ou até o mesmo um superior teria oferecido a ela, o mesmo par de coturnos de quando chegou e uma blusa rosa com mangas abaixo dos ombros.
- O verde da calça casou perfeitamente com o rosa. - fiz uma simpática observação, arrancando alguns sorrisos da jovem jornalista.
- Vou precisar concordar. Ficou maravilhoso! - ela puxou uma cadeira, posicionando-a de frente para mim. - Atrapalho?
- De forma alguma. - fiz uma pequena dobra no canto superior da página que estava lendo e fechei o livro acomodando-o em meu colo.
- Orgulho e Preconceito? - Camila depositou seu olhar na capa da edição para confirmar o que acabara de dizer. - Então você é uma romântica?
- Você me pegou aqui. - assenti com um breve sorriso em meus lábios.
- É uma ótima obra. Se eu tivesse que escolher um romancista preferido, Jane Austen ganharia de lavada. - acrescentou em menção à autora daquele título.
- Você também é uma romântica. -conclui observando-a buscar uma posição confortável para suas costas, o que seria impossível dado aquela cadeira.
- Nunca disse que não era. Só me surpreendi com a escolha da Primeiro Sargento. Achei que você se comportasse como eles. - ela apontou com o nariz para o lado direito, onde pude observar alguns soldados medindo os músculos e limpando suas armas.
Balancei a cabeça negativamente.
- Se eu fosse exibir os meus braços e abdômen, deixaria metade daqueles homens envergonhados. - disse em tom de brincadeira, fazendo com que Camila me oferecesse um belo sorriso, seguido de uma risada delicada.

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Base 17
Fanfiction"E na guerra? Existe amor?" Quando o atentado terrorista de 11 de Setembro desola a nação americana, o governo dos Estados Unidos da América chama para si a responsabilidade e direito de capturar os responsáveis e, consequentemente, combater o terr...