27 de Dezembro de 2001 - Afeganistão.
Não tive muito tempo disponível para gastar com Camila. Uns homens da Al-Qaeda armaram uma emboscada para os nossos e perdemos quase todos os soldados presentes naquela incursão, os poucos que sobraram estavam extremamente feridos e necessitavam de todo cuidado e atenção que minha equipe e eu, pudéssemos oferecer. Apesar de não ter tido a oportunidade de estar em sua presença constantemente, a jovem mulher ocupava meus pensamentos e alimentava as minhas duvidas inconscientemente. Eu estava tentando seguir o conselho de Ally, me agarrei à pequena porcentagem de certeza que eu tinha e decidi me desprender dos receios que me rondavam. Me interessar por uma mulher era algo desafiador, eu não sabia direito como lidaria com isso, ao mesmo tempo em que temia muitas outras coisas que eu provavelmente precisaria enfrentar. Minha grande preocupação não eram meus companheiros de exército, aqui mesmo em nossa tropa, tínhamos algumas enfermeiras que se relacionavam com outras mulheres e isso nunca foi um fator muito determinante. Óbvio que elas ouviam piadas, mas não eram coisas muito diferentes das quais enfrentávamos desde que optamos por seguir carreira militar. As forças armadas segue uma doutrina machista e nós, mulheres que temos o patriotismo e a vontade de servir ao país em nossas veias, precisamos constantemente provar que somos tão capazes quanto qualquer homem ali dentro. Fazíamos isso desde o nosso alistamento. Eu ocupava o posto de Primeiro Sargento e era respeitada por isso. Portanto, assumir um relacionamento homossexual, se assim fosse o meu caso, não anularia isso. O que me preocupava era minha família, como meus país reagiriam. Por mais adulta e independente que eu fosse, os respeitava e me importava com o que pensariam de mim ou não. Não queria ser uma "decepção". Somado a tudo isso, ainda tinha Camila, eu não fazia a menor ideia se ela estava confusa como eu diante da nossa proximidade. Eu não tinha certeza se, em algum momento, consegui externar isso e provavelmente ela não fazia a menor ideia.
- Licença, ocupada?! - Camila adentrou a tenda médica.
Se ela ao menos soubesse que estava pensando nela...
- Não, pode falar. - larguei os papéis em cima da mesa e direcionei minha atenção para ela.
- Demos uma pausa nas gravações e vim ver como você estava. Tem sido bem agitado ultimamente. - ela disse enquanto puxava a cadeira à frente da minha mesa.
- Realmente! Tenho visto você acompanhada das câmeras, mas não tive tempo para mais do que cumprimentá-la.
- Vamos tirar o atraso por isso então. O que eu ainda não sei sobre você? - ela perguntou levando seus olhos em direção aos meus. - Como é sua vida fora daqui?
Abri um sorriso antes de começar a falar.
- Vejamos, eu moro sozinha em um apartamento em Nova Iorque. Trabalho no Fort Drum. Acho que é só isso. - relaxei o corpo contra o encosto da cadeira.
- Só? - a morena indagou aparentemente decepcionada.
- Você pensou que a vida militar fosse cheia de glamour? - soei divertida enquanto ela se recompunha.
- Não exatamente... - ela torceu os lábios antes de continuar. - Achei que você pudesse ser uma super heroína casada ou algo assim.
Ela sorriu e passou a mão por seu cabelo, ajeitando algumas mechas para trás da orelha.
- Casada? - sorri e arqueei uma de minhas sobrancelhas. Ela realmente achava isso? - Você vê algum anel? - estendi minha mão em sua direção.
Ela negou com a cabeça e pôs-se a sorrir.
- Não sei porque pensei isso. Você é tão interessante que minha cabeça automaticamente descartou a possibilidade de você estar solteira.
Ou eu não tinha a menor noção das coisas, ou Camila estava flertando comigo de novo e se ela realmente estava fazendo isso, parte de minhas perguntas seriam previamente respondidas.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Base 17
Fanfiction"E na guerra? Existe amor?" Quando o atentado terrorista de 11 de Setembro desola a nação americana, o governo dos Estados Unidos da América chama para si a responsabilidade e direito de capturar os responsáveis e, consequentemente, combater o terr...