Capítulo 1

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Capítulo 1; Fá-lo sorrir

- Estava a dormir, Jasper?

Levantei a minha cabeça com o som do meu professor de Geografia. Abanei a cabeça, não me preocupando em falar. Claro que estava a dormir, mas não iria admiti-lo em frente a todas aquelas pessoas que me estavam a olhar, naquele momento. O professor continuou a olhar para mim, com uma sobrancelha levantada, como se quisesse fazer-me sofrer. Provavelmente queria. Suspirei.

- Não. – Não resisti à vontade de esfregar os meus olhos, para ver se não era tão óbvio que ele me tinha acordado.

Embora todos estivessem a olhar para mim, senti a minha pele queimar com o olhar de uma pessoa específica. Cabelos castanhos, mas que brilhavam num tom encarnado, emolduravam uma face pálida, um pouco inocente, com olhos azuis enormes – Lucinda. Ela observava-me atentamente, até a sua amiga lhe bater no braço e ela voltar a olhar para a frente. Respirei fundo e voltei a deitar a cabeça nas minhas mãos. Os meus dedos infiltraram-se nos meus cabelos pretos e já despenteados e não hesitaram em puxar. Tenho que me manter acordado.

- Lucinda, preste atenção! – Exclamou, num tom de voz exasperada. Mordi o meu lábio inferior, para me impedir de rir.

- Peço desculpa, professor.

Revirei os olhos para a sua educação, ela era boa demais para metade das pessoas de toda a escola. O professor, no entanto, não parecia achar isso e tratava-a como se ela fosse como todos os outros adolescentes arruinados a que ele dava aulas, diariamente. Observei, do fundo da sala, a forma como o seu cabelo parecia uma mistura estranha entre vermelho e castanho. Não me parecia pintado mas, certamente, não era natural. Que tipo de pessoa nascia com cabelo vermelho?

Respirei fundo, antes de tentar pegar na minha caneta sem que as minhas mãos tremessem, do cansaço. Tentei anotar o que o professor escrevia no quadro de giz – ele era demasiado antiquado e pediu, ou ordenou, que as suas aulas fossem todas na única sala que ainda tinha quadro preto. Fechei os olhos, com força, quando ele pressionou o giz com demasiada força e um rangido ecoou pela sala. Suspirei, de frustração.

Um rapaz ao meu lado soltou um baixo foda-se e o professor virou-se de repente. Mais uma vez, olhos castanhos, quase tapados por óculos enormes, encararam-me, e eu estive prestes a levantar-me da sala e ir dormir, mas não o fiz. O tal rapaz ao meu lado não conteve o riso e isso, felizmente, fez o professor perceber que não tinha sido eu. Continuei a sentir-me observado, no entanto, e quando reparei que a Lucinda tinha voltado a olhar para mim, permiti-me sorrir-lhe. Ela virou-se, assustada, para a frente; não sabia bem como reagir à sua reação, então limitei-me a observar o resto da sala.

Não culpava nenhuma das pessoas à minha volta por estarem prestes a adormecer ou a fazerem apostas com o Diabo para poderem sair mais cedo, ou mais rápido, da sala. E, certamente, não culpava o rapaz ao meu lado – não sabia o seu nome e, sinceramente, não queria saber – por não ter conseguido aguentar sem praguejar durante toda a aula. Eu não sabia para que precisava daquela aula mas, no final, eu conseguia safar-me e a minha mãe ficava orgulhosa. Se não fosse por aquele professor, eu conseguia aprender a gostar de Geografia.

- O vosso trabalho de casa será fazer toda a página cento e vinte e nove. Espero que o façam, pois ajudar-vos-á a por em prática o que era suposto terem ouvido hoje. Perceberam?

Toda a sala murmurou um sim chateado e o professor deixou-nos sair. Deixei que toda a confusão cessasse antes de sair da sala, para evitar o barulho dos corredores. Sentia a minha cabeça latejar e queria voltar para casa e esconder-me debaixo de todos os meus cobertores, para poder descansar. Não sabia bem porquê, mas nunca conseguia dormir, durante a noite. Normalmente, eu conseguiria aguentar um dia inteiro sem adormecer, mas começar o nosso dia com Geografia, pouco depois das oito da manhã, não era desejável nem ao meu maior inimigo.

- Jasper, certo? – Forcei-me a ficar desperto, por mais uns momentos, quando ouvi uma voz suave. Compus a alça da minha mochila preta no meu ombro e deixei que a figura pequenina à minha frente se focasse, lentamente. Lucinda.

Ela parecia chocada por estar a falar comigo, e eu queria ter forças para ser sarcástico, mas estava a morrer de cansaço. Percebi que ela notou no meu sofrimento pois afastou-se e deixou-me passar, para sairmos da sala, mas seguiu diretamente atrás de mim. Vi duas raparigas à porta da sala, provavelmente à sua espera, e queria dizer-lhe para não perder tempo. Não consegui. Era como se a minha voz estivesse presa na minha garganta, mas eu sabia que era só cansaço. Tinha dormido, no máximo, uma hora. Felizmente, teria o próximo bloco livre, e podia ir para a biblioteca fingir que estava a estudar.

Assim que saímos da sala, passei pelas duas raparigas e encostei-me à parede. O corpo pequeno da Lucinda voltou para perto de mim e ela, como que sabendo que eu não me iria mexer muito, colocou-se à minha frente. Não sabia bem porque é que ela estava a tentar falar comigo, mas sabia que os seus olhos estavam repletos de preocupação e eu não queria que ninguém se preocupasse comigo. Suspirei baixinho.

- Certo. – Respondi apenas. Vi um sorriso aparecer nos seus lábios e perguntei-me o seu porquê, até que percebi que eu era a razão. Sorri, com esse pensamento.

- Está tudo bem? – Questionou, e eu tentei não revirar os olhos, mas não consegui evitá-lo. – Desculpa. Pergunta estúpida. Mas, posso ajudar?

- Porque é que queres ajudar? – Em minha defesa, não consegui evitar! O sarcasmo e a rudez apareciam naturalmente nas minhas palavras; não era culpa minha, mas eu senti-me culpado, quando ela deu um pequeno passo para trás.

A Lucinda afastou-se e eu queria pedir-lhe desculpa, mas não consegui. Voltei, apenas, a compor a alça da minha mochila e a caminhar para a biblioteca. Eu não era, exatamente, o que as pessoas chamariam de social, mas eu não me importava. Já a Lucinda...as suas amigas comandavam na escola e, embora ela fosse diferente de todas elas, acabava por ser arrastada para aquele mundo horrível de falsas aparências.

Quando cheguei à biblioteca, a primeira coisa que fiz foi sentar-me na mesa mais ao fundo e deitar a minha cabeça. Suspirei, ao ouvir o silêncio que me rodeava. Coloquei os meus fones nos ouvidos e escolhi a lista de reprodução que a minha mãe me obrigou a criar, para quando não conseguisse adormecesse. Nunca iria admiti-lo, mas dava muito jeito. O argumento dela, no entanto, era que, quando eu era pequeno, só conseguia adormecer com música – não iria admitir que ainda tinha necessidades infantis.

yello

eu sei o que estão a pensar: estás sempre a queixar-te de que tens muitas histórias mas estás sempre a publicar mais

MAS A CENA É:

eu cheguei à conclusão de que só me sentia muito pressionada porque publicava as coisas aqui e porque sentia a "necessidade" de as acabar. depois fui à minha pasta para histórias e percebi que, das 50 e tal que tenho, só umas 12 ou 13 é que tenho acabadas, e THAT'S OKAY porque as ideias vêm e vão e eu não posso odiar-me por não as levar a sério - i mean, eu adoro a ideia para a IC e para a solitude e para todas as outras que tenho despublicadas

maaaaas também gosto desta e da arte do segredo - plus,  eu publico quando bem me apetecer e vou escrevendo ao meu ritmo, por isso ahm, um aviso? se alguém vier para aqui a reclamar de eu demorar a atualizar, eu apago o comentário 

porque eu já ponho pressão suficiente em mim mesma, não preciso de outras pessoas

agora estou a rir porque acabei de assumir que pessoas iam ler isto aaaaah funny

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora