Capítulo 3; Fá-lo suspirar
Quando cheguei a casa, deixei que o silêncio que pairava no ar assentasse no meu cérebro. A minha mãe estava, provavelmente, a trabalhar, o que significava que tinha a casa apenas para mim. Atirei a minha mochila para o sofá e, antes de me tentar forçar a fazer os trabalhos que tinha, para depois tentar descansar, fui até à cozinha para buscar comida. A nossa casa era, definitivamente, maior do que aquilo que duas pessoas precisariam, mas a partir do momento em que isso significava ter um frigorífico enorme, eu não me importava.
A Lucinda não me saía da cabeça, por muito que me custasse aceitá-lo. Ela fora tão simpática e, se eu já tinha pena dela por estar rodeada por todas aquelas pessoas odiosas, tinha ainda mais, por achar que eu seria, talvez, melhor que eles. Os seus olhos azuis e o seu cabelo quase vermelho não me saiam da cabeça, e eu odiava não conseguir para os meus pensamentos. Claro, isso já era normal, mas nunca me acontecera com a Lucinda – ou com outra pessoa, sequer. Abanei a cabeça, recusando-me a ser como aqueles rapazes dos livros que as raparigas, normalmente, gostam de ler. Era tudo menos isso.
Notei que ainda não tinha ligado a televisão, como era normal fazer, então tomei isso como um sinal de que deveria fazer os trabalhos da escola. Peguei nos meus livros e cadernos e forcei-me a acabar tudo o que deveria, antes de a minha mãe chegar. Ela iria dizer-me que eu estava a esforçar-me demais – quando, na realidade, era o completo oposto – e forçar-me a parar e a relaxar. Eu sabia que ela só queria o melhor para mim, mas a verdade era que ela não sabia como eu era na escola; as minhas notas eram boas, por isso não existiam muitas razões de queixa.
- Jasper! Estás em casa? – Tive que rir, com os gritos da minha mãe.
- Na sala. – Gritei de volta, com o riso ainda presente na minha voz. A minha mãe logo apareceu e vi as suas sobrancelhas a juntarem-se, com a confusão de livros que eu havia criado na mesa de café.
- Jasper...
- Faltam-me apenas dois exercícios de Geografia, prometo. – Ela revirou os olhos mas assentiu, aceitando. - Aquele homem é um idiota.
- Não digas isso dos teus professores, Jay. É rude. – Revirei os olhos e foquei-me, mais uma vez, no caderno pousado nas minhas pernas.
Nos próximos vinte minutos, consegui acabar a página que o professor nos mandava fazer. Decidi, enquanto a minha mãe fazia o jantar e não me conseguia ver, tentar adiantar os trabalhos para o final da semana. Infelizmente, a atitude da minha mãe estava a passar para mim e, passados outros dez minutos, só tinha duas alíneas – de um exercício de doze – feitas. Suspirei e forcei-me a sentir-me responsável por ter, pelo menos, feito o trabalho que me fora mandado, a tempo.
A minha mãe era, em poucas palavras, uma pessoa despreocupada – ou, pelo menos, uma mãe despreocupada. Quando começou a achar que eu não conseguia dormir devido ao nervosismo que a escola fornecia, assumiu uma atitude de extremo relaxamento. Para ela, era preferível eu não acabar os meus trabalhos, quando estava cansado, para conseguir dormir e estar atento nas aulas. Isso resultaria maravilhosamente se eu não tivesse professores tão idiotas como os que tinha. A verdade é que eu acabava por nunca dormir, então decidi fazer o meu máximo nos meus tempos livres, na escola e no tempo até ela chegar a casa.
Odiava ter que suportar todo o peso que cada disciplina, só por si, trazia, mas era inevitável. Por muito que eu odiasse a escola e aquele sistema nojento, eu tinha que sucumbir a ele, se queria atingir os meus próprios objetivos. Então, obedecia a cada professor e acabava com notas que, honestamente, nem eu esperava atingir. Essa rotina funcionava minimamente bem comigo, até ao ponto em que as cinco horas de sono passaram a duas e eu acabava a adormecer nas aulas. A minha mãe, claro, era ignorante a tudo isso. Era aí que a Lucinda aparecia, na minha mente. As duas horas de sono não eram, de todo, suficientes para tudo o que a escola exigia de nós mas, com a Lucinda, eu sentia-me desperto. Foi isso que me assustou.
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Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...