Capítulo 17

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Capítulo 17; Fá-lo temer

- Dormiste? – Abanei a cabeça, preferindo manter-me silencioso. – O que se passa, Jay?

Não respondi. Limitei-me a esconder a cabeça nas minhas mãos e respirar fundo. A Lucinda tinha-me ligado mais de dez vezes e eu não percebia porque é que ela continuava sem desistir de mim – o rapaz que a tinha deixado seminua no seu quarto. Vi um prato com panquecas e uma chávena enorme com café a serem colocadas à minha frente. Sorri para a minha mãe, com lábios fechados, e ela suspirou. Claro que ela sabia que algo se passava, mas eu não lhe iria dizer o que tinha feito. Sentia-me igual ao meu pai; ele também nos deixara, depois de anos a acharmos que éramos importantes para ele. E isso enojava-me – ser igual a ele.

Sabia que a Lucinda ia tentar falar comigo, quando chegasse à escola. Ela ainda não tinha desistido de me mandar mensagens, a relembrar-me da promessa que lhe tinha feito. Eu tentei! Tentei durante toda aquela tarde não me afastar; foi demasiado, para mim. Gostava tanto dela que até doía, por muito cliché que isso fosse. Durante as imensas horas sem sono conseguira admitir isso para mim mesmo: eu gostava da Lucinda, muito mais do que deveria ou do que seria saudável – quer para mim, quer para ela. E, infelizmente, conseguia ver que ela também gostava de mim. Isso entristecia-me, porque ela poderia fazer tantas coisas com a sua vida, mas preferia gastar as suas forças num rapaz insone que só a afastava.

- Tem a ver com a Lucinda? – Assenti, e sabia que ela não ia perguntar mais nada, apenas porque já tinha reparado que era um assunto sensível. – Seja o que for, Jay, aquela rapariga adora-te. Por muito que aches que tenhas estragado as coisas, quando gostamos de alguém...isso não importa; o que vai importar são as coisas boas que fizeste, por ela. Pede desculpa e ela há de perceber.

- Não sei se consegui sequer olhar para ela, mãe. Eu fugi! Fugi porque achei que isso lhe iria provar que eu... - Abanei a cabeça, bebendo do meu café. – Eu sou igual ao pai!

Depois disso, senti uma dor agora na minha bochecha. Olhei chocado para a minha mãe, cujos olhos pareciam que iriam saltar da sua cara. Não sabia se ela estava irritada comigo, com o pai – mais uma vez -, ou com o que eu dissera. Durante uns minutos, forcei-me a manter-me paralisado, tal como ela estava. Não estava magoado por ela me ter batido; preferia que ela me batesse a mim, do que aguentar toda a sua raiva e descarregar em partes da sua vida que não iriam voltar a colar-se. Eu iria estar sempre lá para ela, mesmo como um saco de boxe – sempre. Podia ter-me afastado da Lucinda, mas da minha mãe? Nunca o iria fazer.

- Nunca voltes a dizer isso, Jasper. – Ordenou, com uma voz que eu associei à minha, quando estava a tentar conter-me. – Tu não és nada como o teu pai. Nada! Se, ao menos, soubesses quando eu estou orgulhosa de ti, das coisas que tu consegues fazer, mesmo com estas malditas insónias que sugam a vida de ti. O teu pai foi um cobarde, que não aguentava a vida em família porque, do nada, as coisas que apenas ele gostava desapareceram. Ele teve medo de olhar para o caminho que tinha à sua frente e aceitá-lo, e tu nunca, nunca tiveste esse receio. Jasper, tu és um rapaz fantástico. És o meu rapaz fantástico.

- Não fui um rapaz muito fantástico para a Lucinda.

- Se não o tivesses sido, ela não estaria a ligar-te agora, querido. – Apontou, com o olhar para o meu telemóvel, mas eu desliguei a chamada. – O que aconteceu? Eu sou tua mãe, eu sei, mas podes contar-me. – Sentou-se à minha frente, no balcão.

- Nós...eu beijei-a. E ela retribuiu. Por momentos, tudo me pareceu fantástico e quase tive a certeza de que nada iria correr mal, outra vez. Depois eu...eu não sou bom o suficiente para ela, mãe, não sou! Eu sei que não sou, e sei que ela, provavelmente, me odeia agora; só que ela é demasiado boa para o seu próprio bem e está a ligar-me porque pensa que a culpa é dela.

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora