Capítulo 13

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Capítulo 13; Fá-lo confessar

Depois de jantar, a minha mãe obrigou-me a mostrar o nosso jardim à Lucinda. Eu percebia o que ela estava a fazer, e esperava que a Lucinda também, mas quando ela elogiou o jardim, cheguei à minha conclusão – ela conseguia ser ingénua, quando queria. A minha mãe era uma grande fã da Lucinda, isso era óbvio; e isso, infelizmente, levava-a a ser uma adepta de uma relação que ela inventara entre nós os dois. Não existia nada de romântico entre mim e a Lucinda, mas ela não parecia compreender isso. Mas, se a Lucinda não o entendera – ou fingira não entender -, não seria eu a dizer-lhe.

Sentámo-nos num dos bancos de jardim, e eu limitei-me a olhar para o céu escuro daquela sexta feira. Tê-la a conhecer a minha mãe parecia-me um passo enorme, na nossa relação. Há pouco menos de quatro horas estava a admitir-lhe que confiava nela, não sabia se conseguia ser tão transparente durante muito mais tempo. Sentia-me vulnerável, como se a Lucinda, depois de conhecer aquelas partes da minha vida, me fosse atacar e deixar-me ainda mais fraco. Eu sabia que ela não o iria fazer, mas o medo permanecia dentro de mim. Continuava a ser difícil, para mim, admitir que tinha medo; mas já tinha percorrido um longo caminho, passado um mês com a Lucinda.

- Eu reparei na reação da tua mãe, quando lhe chamei pelo teu último nome. – Comentou, baixinho. Mordi o meu lábio, ignorando-a o mais subtilmente que consegui. – Jasper, o teu pai?

- Não é muito relevante, sendo sincero. – Disse apenas, mas percebi que ela estava curiosa. – Posso dizer-te noutro dia qualquer?

Ela revirou os olhos, mas também não me deu a resposta que eu queria. Limitou-se a suspirar e a olhar, tal como eu, o céu que nos envolvia. Sem a pressão da escola, por dois dias, era muito mais fácil respirar. Apesar de eu conseguir ter boas notas e sobreviver, mesmo com as insónias, era cansativo – mais cansativo do que, na minha opinião, deveria ser. A Lucinda permaneceu calada, durante uns minutos, e eu desejei ter os meus fones comigo, para que aquele momento não me parecesse tão íntimo. Sentia-me como se aquele fosse um momento que eu iria recordar para sempre, de tão importante que, provavelmente, era.

- Ouve. – Começou, e eu deixei-me estar calado, tal como ela pediu. – Eu também não gosto muito de falar sobre mim, já deves ter percebido isso; e também não quero forçar-te a, do nada, contares todo o teu passado. Mas, quero que saibas que podes confiar em mim, com tudo. Está bem?

- Está bem. – Assenti ao falar, e ela sorriu-me, sem mostrar os dentes. Respirei fundo e deitei a minha cabeça nas minhas mãos.

Não senti nenhuma mão nas minhas costas ou no ombro como as personagens dos livros sentiam. Ela não era assim. Mas, mesmo sem ela me tocar, eu sabia que ela me estava a ouvir, simplesmente porque era ela. Ser a Lucinda significava ser das melhores pessoas que eu conhecia e, portanto, ela não faria mais nada, senão ouvir-me. Não tinha a certeza se seria bom contar-lhe, porque toda a gente tinha pena daquelas pessoas cujos pais estavam divorciados ou, simplesmente, afastados, e eu não queria ser uma dessas pessoas. Queria ser o Jasper, apenas isso.

- Quando tinha seis anos, numa noite qualquer, não me lembro bem, acordei a meio da noite. Como instinto, corri até ao quarto da minha mãe, para ver se ela estava bem. Esperava ver os meus pais abraçados, porque obviamente o grito tinha sido feminino e, como era óbvio para o Jasper de seis anos, o meu pai haveria de estar a confortá-la. Não estava. Aliás, não estava em lado nenhum. A minha mãe viu-me e correu até mim, abraçou-me e a primeira coisa que me disse foi que ela nunca me iria deixar. – Percebi que ela estava chocada por eu estar a falar tanto, mas não me calou. – Como eu era extremamente inteligente na altura, somei tudo o que sabia e percebi, na altura, que o meu pai haveria de ter saído de casa. Já tinha visto em filmes e, mesmo no meu bairro, de pessoas que abandonavam os seus parceiros para recomeçarem e tudo mais.

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora