Capítulo 11; Fá-lo voltar
Eram nove da manhã quando cheguei à conclusão que já não aguentava mais. Procurei a Lucinda por todo o lado e, quando não a encontrei, procurei em todas as minhas memórias qual seria a segunda aula, às terças feiras. Quando me lembrei, apressei-me pelos corredores apertados da escola e decidi esperar, à porta. Estava no meu bloco livre e, dali a cinco minutos, ela deveria sair da sala – de preferência, sozinha. Os meus fones estavam nos meus ouvidos e eu tentava focar-me na música, para receber algum tipo de confiança. Tinha dormido apenas duas horas e, ainda assim, não tinha bebido nenhum café; estava a tentar ser forte.
Algumas pessoas começaram a sair e eu esperei durante alguns segundos, até que a sua figura pequenina apareceu. Virei-me, automaticamente, para ela, apenas para enfrentar o seu olhar confuso. Nenhuma das suas amigas estava junto a ela, o que me fez suspirar de alívio. Quando percebi que ainda não tinha dito nada, fiz a única coisa de que me lembrei: puxei-a para perto de mim e abracei-a. Consegui perceber que ela ficou chocada, mas não negou o meu toque; aliás, ela apertou-me nos seus braços como se tivesse tido tantas saudades minhas, com eu tinha tido dela.
- Voltaste. – Murmurou, e eu fiz o meu máximo para ignorar os olhares que algumas pessoas estavam a dar-nos.
- Sim. – Confirmei, não sabendo bem o que haveria de dizer. – Eu...peço desculpa?
- Queres mesmo pedir desculpa? – Perguntou, a rir um pouco.
Afastou-se um pouco de mim e olhou-me atentamente, com grandes olhos azuis a encararem os meus cinzentos. Não sabendo bem como haveria de explicar, limitei-me a assentir e a agarrar a sua mão. Ela olhou para onde as nossas mãos se tocavam e, tomando a liderança, puxou-me consigo. Não queria que ela faltasse a aulas, por minha causa, mas estaria a mentir se dissesse que eu não faltaria por ela. Faria qualquer coisa para não sentir tanto a sua falta como sentia; e não sabia muito bem o que isso queria dizer. De qualquer das maneiras, segui-a pelas escadas e pelos corredores apertados da escola, até ao andar das salas de convívio.
Percebi que ela me estava a guiar para o sítio onde eu, no dia anterior, me tinha escondido dela. Tranquei a porta atrás de mim e, por momentos, senti-me como se fossemos um casal. Contive a vontade de me afastar dela, de lhe dizer que estávamos demasiado próximos, apenas porque me permiti gostar dessa proximidade, por um tempo. Ela observou a minha cara, como se estivesse a procurar vestígios de eu estar a brincar com ela, ou algo do género, mas eu mantive-me quieto. Quando as pontas dos seus dedos acariciaram as minhas bochechas, levemente, permiti-me sorrir. Ela estava a procurar vestígios de eu não ter dormido.
- Tens mesmo de fazer a barba, sabes? – Acabei por rir alto, e ela sorriu.
- Não tenho paciência. Aliás, eu fico bastante bem com ela assim, não achas? – Pisquei-lhe o olho; ela limitou-se a revirar os olhos e a afastar-se, minimamente, de mim.
- Não estou a negar. – Levantou as suas mãos, como se se estivesse a defender, e eu permiti-me relaxar. O silêncio voltou a assentar sobre nós e eu vi-a sentar-se no sofá, acabei por fazer o mesmo.
- Eu peço mesmo desculpa, sabes. Apesar de discussões me divertirem muito, não são tão divertidas quando são contigo. – Admiti, e ela olhou-me, com um sorriso malicioso. Abanei a cabeça, querendo dizer-lhe que ela era demasiado adorável para parecer matreira. – Só percebi quão...importante eras para mim, quando já estava em casa e passei a noite acordado. Eu não sou bom com desculpas, não me olhes assim.
- Mas eu estou a gostar de te ver sofrer! – Reclamou, cruzando os braços.
Olhei, durante breves segundos, para o movimento do seu peito, mas voltei a encará-la. As palavras da minha mãe ainda flutuavam pelo meu cérebro, mas não deixei que a possível atração que eu tinha por ela estragasse a amizade que eu sabia que existia. Ela era demasiado bonita para o seu próprio bem, definitivamente, mas eu não tinha que ceder. Se, alguma vez, fosse aproximar-me dela, seria por tudo o que a compunha – não apenas a aparência. Com esse pensamento, a voz da minha mãe apareceu na minha mente, a dizer-me que eu já tinha sentimentos por ela; escolhi ignorá-la.
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Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...