Capítulo 16; Fá-lo demonstrar
A Lucinda estava a puxar-me para o seu quarto, suavemente, quando reparei que a Madison estava deitada na sua cama, com a porta do seu quarto aberta, a abanar a cabeça suavemente, com a música. Perguntei-me que música estaria a ouvir e prometi a mim mesmo que lhe iria perguntar – o gosto musical de uma pessoa era muito importante. Não sabia bem como é que eu e a Lucinda tínhamos acabado daquela maneira, mas ela dissera-me que o seu quarto era mais confortável para ver filmes, que o sofá, então eu segui-a. Tentei não pensar demasiado no assunto; afinal, ela era a rapariga, para estar a fazer tudo aquilo era porque ela já tinha pensado muito.
Perguntei-me se a Lucinda tinha falado de mim à Madison, tal como eu tinha falado dela à minha mãe, e se fora por isso que a mais nova calculara que namorávamos. Parte de mim achava-me estúpido por considerar, sequer, que não namorar com a Lucinda era uma opção; mas eu não sabia que parte de mim ouvir. Namorar com a Lucinda não mudaria muito, entre os dois; nós já éramos bastante próximos, só nos faltava o contacto físico, e eu já não sabia se aguentaria muito mais tempo sem saber como isso era. Ela era tão bonita, não apenas fisicamente, e isso era o que mais me atraía a ela.
- Talvez devesses avisar a tua mãe que ficas aqui durante mais um pouco. – Comentou, e eu levantei uma sobrancelha, com um sorriso matreiro no rosto. – O filme tem uma hora e meia!
- Claro.
Brincar com isso era-me fácil; fingir que era ela que tinha todas as segundas intenções era divertido, até. Talvez fosse a minha maneira de esconder o que eu queria ter com ela, mas não deixava de ter a sua piada. Aliás, ela tinha trocado para o seu pijama – que consistia nuns calções e numa camisola larga, ela estava a brincar comigo -, e fechado a porta atrás de nós. Se eu não a conhecesse melhor, diria que ela só tinha muita confiança comigo e que nada iria acontecer, mas algo em mim sabia que a tensão não era apenas da minha cabeça. Ao sentar-me ao seu lado, ela agarrou na grande taça com pipocas e ofereceu-me, mas eu recusei, durante um tempo.
O filme ia apenas nos primeiros vinte minutos e ela já estava praticamente deitada em cima de mim. Lembrei-me da primeira vez que fomos à sala de convívio e que ela me deixou deitar nas suas pernas, mas parecia-me totalmente diferente. A sua cabeça estava no meu peito e as nossas pernas, de alguma maneira, estavam entrelaçadas. Suspirei, era por aquilo que toda a gente parecia pensar que nós namorávamos – nós praticamente fazíamos tudo o que namorados faziam, apenas fingindo que era algo normal. Reparei, no entanto, que os seus cabelos vermelhos cheiravam a morango – a comparação ao fruto fez-me rir e o meu riso fez, por sua vez, com que ela olhasse para mim.
- Não teve piada! – Ela começou a repreender, provavelmente achando que eu estava a rir do filme.
- Não estou a rir-me disso. Pobre rapaz. – Revirei os olhos e ela riu um pouco. Pegou numa pipoca e colocou-a na sua boca; eu engoli em seco, tentando focar-me no filme, pela primeira vez.
A certo ponto, senti a necessidade de tirar o casaco, ao sentir-me sufocado com o calor que o seu pequeno corpo já me fornecia. Quando ela teve que ir à casa de banho, depois de por o filme em pausa, pude, finalmente, respirar. Não era como se eu quisesse que ela se afastasse – eu não queria -, mas tinha medo de arriscar mostrar-lhe o que era suposto ser dito e, no fim, tudo o que me levaria a ter feito isso ter sido sinais mal interpretados. Odiava tudo isso dos sinais; porque é que não era fácil dizer a uma pessoa que gostávamos dela? Porque é que tínhamos que fingir saber um monte de linguagens que, provavelmente, eram inventadas na hora, para podermos agir?
Quando a Lucinda voltou, eu tinha a minha cabeça nas minhas mãos, com os meus dedos a puxarem os meus cabelos, com força. Ela correu até à sua cama, perguntando-me se eu estava bem, ou se precisava de ir para casa. Poderia ter usado aquele momento para a beijar, já que estávamos tão perto, mas não o fiz. Não consegui perceber qual fora a sua reação a eu estar tanto tempo a alternar entre olhar para os seus lábios e para os seus olhos, pois acabei por desviar o olhar. Ela voltou a sentar-se ao meu lado e deixou o filme continuar – daquela vez, manteve uma distância segura de mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...