Capítulo 6; Fá-lo entender
Quando as aulas acabaram, o único som que se ouviu na sala foi o meu suspiro. Vi algumas pessoas virarem-se para mim, mas ignorei-as, como se não tivesse sido eu a mostrar o alívio que sentia ao sair daquele inferno. Algumas pessoas encolheram os ombros e, depois de se virarem para a frente, saíram da sala. Eu fiz o mesmo: levantei-me, arrumei as coisas na minha mochila preta e saí da sala. No entanto, antes de partir diretamente para o carro, fui buscar um café primeiro. O parque de estacionamento da escola estava, praticamente, vazio, quando, finalmente, me aproximei do meu carro preto.
- Jasper! – Virei-me para trás, para encontrar a Lucinda a correr até mim.
Ao longe, vi as suas amigas a olharem especadas para ele, como se não pudesse acreditar que ela as estava a deixar por mim. Apertei a ponte do meu nariz, suspirando fortemente, ao fechar os olhos. Continuava sem perceber a sua razão para estar sempre a tentar falar comigo, principalmente naquele momento, em que eu entendi que ela não se afastava, simplesmente, das suas amigas – ela quase que as ignorava, apenas para estar comigo. Ela deixava-as sozinhas, sem lhes dar explicação – se eu estivesse nos seus lugares, não ia gostar que a minha amiga me deixasse, para ir falar com um rapaz estranho.
- Sim, Lucinda? – Ela parou, a pouco menos de um metro de mim, quando reparou no tom da minha voz. Não queria ser assim tão rude, mas saiu.
- Eu só...eu só queria perguntar-te como foi o resto do teu dia.
- Tu tens de parar com isto. – Ignorei a sua primeira resposta e olhei para ela. Os seus olhos azuis estavam abertos, com o espanto. Percebi que ela estava confusa. – Com isto. As tuas amigas estão a olhar para nós como se eu estivesse a forçar-te a afastares-te delas e eu não suporto isso. Porque é que falas comigo?
Respirei fundo, sabendo que nunca falei tanto com ela, antes. Ela pareceu estar tão chocada quanto eu, mas manteve-se firme no seu lugar. A inocência do seu lugar foi substituída por uma emoção mais dura, e eu soube, dessa maneira, que a tinha irritado. Quis revirar os olhos porque, mesmo irritada, ela parecia adorável e eu nunca a iria levar a sério. Contive a vontade de rir quando ela se aproximou de mim, lentamente, como se eu fosse dar um passo para trás. Sendo sincero, eu não queria, exatamente, que ela me tocasse, principalmente porque sabia que isso seria a minha fraqueza, mas não lhe dei o que ela esperava.
- Tu tens de parar, Jasper. Estou farta desta tua atitude. – Afirmou, com voz forte. Mordi o lábio, para não rir. – Não te atrevas a rir. Eu estou aqui para te ajudar, achas que eu quero saber do que as minhas amigas acham disso?
- É um pouco difícil não rir, Lucinda. – Comentei, deixando, sem querer, o riso soltar-se.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu os seus olhos, encontrou-me a rir, divertidamente, para ela. Aquilo deveria ser uma discussão, mas ela era tão bonita e inocente e eu não conseguia levá-la a sério – e nem era um insulto. Reparei que as suas bochechas estavam um pouco mais vermelhas e perguntei-me se era por causa de mim ou da raiva que ela, certamente, sentia. De qualquer maneira, ela ficava ainda mais bonita quando corava, porque combinava com a luz brilhante do seu cabelo. Contive a vontade de voltar a colocar a porcaria da madeixa atrás da sua orelha; fechei as minhas mãos, com força.
- Eu já te disse que só te quero ajudar, porque é que não me deixas?
- Porque não preciso de ajuda! – Exclamei, frustrado. O meu cérebro gritava mentira, e eu contive a vontade de virar costas e deixá-la lá; nunca conseguiria fazer isso.
- Claro que precisas. Se não precisasses, o teu subconsciente não te levaria até mim, durante o almoço. E isto sou eu a assumir que foi sem querer, porque é óbvio que o macho e independente Jasper Davis não ia pedir ajuda a ninguém. – Tentei ocultar, ao máximo, o meu choque ao processar o tom de voz que ela usara. Ela estava, no mínimo, furiosa. – Tu devias parar com essa farsa; tu precisas de ajuda e eu estou aqui a oferecer-ta, porque é que não a aceitas?
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Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...