Capítulo 20; Fá-lo divagar
- Bom... Está tudo bem?
O que começou por ser um cumprimento entusiasmado da Lucinda, logo passou a ser uma pergunta que eu odiava completamente. Claro que não estava tudo bem! Mais uma vez, não tinha dormido nada. Receava que tivesse sido porque, daquela vez, não tinha a Lucinda comigo e me recusara a ligar-lhe. A Madison já estava de volta a casa e, portanto, não seria eu a manter a mais velha das irmãs, acordada. No entanto, não deixei que o meu mau humor afetasse a Lucinda. Beijei a sua testa, suavemente, a ignorar a sua pergunta.
Antes que ela pudesse dizer alguma coisa – como reclamar comigo por a estar a ignorar -, afirmei que teria que ir para as aulas. Ela observou-me, durante uns segundos, como que para me entender, e depois suspirou. Calculei que ela tivesse percebido o que se tinha passado e, portanto, já não eram necessárias perguntas. Antes que eu pudesse afastar-me, no entanto, ela puxou-me de volta a si, pela mão, e tocou nos meus lábios, com os seus. Tentei não mostrar quão desconfortável tinha ficado, com os olhares de toda a gente do corredor, e afastei-me dela.
Odiava estar tão distante, mas não conseguia evitar. A minha mãe permitiu apenas um café, e isso estava a matar-me por dentro. Precisava da cafeína para sobreviver durante um dia escolar, mas não me atrevia a desobedecer à minha mãe. Depois de a Lucinda se ir embora, ela deu-me um sermão de dez minutos sobre como eu não a deveria ter deixado andar sozinha à noite – não me surpreendi por não ter sido por termos dormido juntos – e tive que fazer um acordo com ela. Acordo esse que consistia em beber café apenas quando eu estava com ela, ou com a Lucinda. Ela sabia que tínhamos poucas aulas juntos e que quase nunca estávamos juntos, para além de durante o almoço, e tinha sido exatamente por isso que ela o fez.
Necessitado de cafeína e, portanto, praticamente a morrer de sono, mal aguentei a minha primeira aula. O professor entregou uma ficha qualquer que nós tínhamos feito e eu permiti-me ficar feliz pela minha boa nota, mas não foi o suficiente para eu deixar de querer morrer. A manhã passou lentamente e, no meu bloco livre, consegui dormir durante uns vinte minutos, sem que a monitora da biblioteca me apanhasse. Eu poderia tentar explicar-me à senhora, mas não tinha paciência para isso. Estávamos quase em dezembro, o que significava férias – por outras palavras, já poderia ter horários de sono horríveis, sem ter que prejudicar a minha vida académica.
- Queres ir até à sala? – Perguntou-me, assim que se sentou ao meu lado, na mesa da cantina.
- Não é preciso. Só preciso mesmo, mesmo de um café.
- Eu sei. – Pousou um café à minha frente, e eu respirei fundo. Ela riu, acomodando-se à sua maneira, e eu sorri-lhe.
Ela puxou um dos meus braços para si, como que para me dizer que queria um abraço, e eu obedeci-lhe. Com uma mão a segurar o meu tão precioso café, coloquei o braço livre à volta dos seus ombros e beijei os seus cabelos. O meu almoço não parecia, de todo, convidativo, por isso limitei-me a comer as partes que me pareciam menos horríveis. Senti a necessidade de ir comer fora, para sentir o meu estômago mais satisfeito, mas provou-se impossível com a Lucinda ao meu lado. Não queria deixá-la sozinha e não poderia arriscar que ela chegasse atrasada a uma aula, por minha culpa.
Sempre que olhava para ela, só conseguia imaginar na sua figura nua, naquela madrugada. Passámos todo o sábado na minha cama, até ela anunciar que tinha que ir buscar a Madison, com um ar aliviado. Ter passado todo um dia com ela fez-me bem mas, no dia a seguir, já não dormi, outra vez. Durante o domingo consegui dormir uma sesta, com a ajuda da minha mãe, mas desde a manhã de sábado, não tinha passado disso. Em quarenta e oito horas, só tinha dormido uma sesta de duas ou três – não era suficiente. Suspirei, tentando impedir os meus pensamentos de passarem para o lado destrutivo. Não poderia afastar-me da Lucinda, já estávamos demasiado presos um no outro, e eu não conseguia imaginar-me a ser o primeiro a acabar o que quer que fosse, que tínhamos entre nós. Ficaria até ela se fartar de mim, porque era egoísta a esse ponto.
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Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...