Capítulo 24

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Capítulo 24; Fá-lo render

O funeral aconteceu no domingo seguinte. Faltei à escola no dia seguinte, o que eu considerei um pouco irónico. Durante anos, a minha mãe tentou que eu faltasse à escola, porque não tinha dormido durante a noite e eu nunca o fiz. Foi preciso ela morrer para que me sentir totalmente incapaz. Eu conseguia aguentar ser insone e não dormir durante mais de trinta horas, mas não conseguia aguentar viver sem a minha mãe. Na noite de sexta feira, a Madison e a Lucinda apareceram em minha casa, alegando que nunca me iriam deixar sozinho naquela casa enorme e, portanto, passámos o fim de semana a ver televisão e a tentar tirar a minha mente da morte da minha mãe.

Quando estava prestes a sair, vi o meu pai entrar no cemitério – eu ponderei cremar a minha mãe, mas achei que ter uma jarra com as suas cinzas não me daria tanta motivação como obrigar-me a visitá-la. Paralisei, quando o reconheci, e odiei-me porque era mesmo parecido com ele. Já havia obrigado a Lucinda e a Madison a ir para casa e, portanto, não tinha ninguém que me confortasse – ou, naquele caso, que me impedisse de lhe bater. Ele foi apanhado de surpresa, o que me deixou orgulhoso de mim mesmo. Atrás dele, estava uma senhora, que me olhava chocada, enquanto segurava um rapaz pequeno na mão. Pelos olhos cinzentos, percebi que ele era meu irmão. Irmão.

- Jasper. – O meu pai soltou o meu nome enquanto respirava fundo, e eu fiz o meu máximo para não lhe bater outra vez. Nunca havia gostado de violência, não iria começar naquele dia.

- O que estás aqui a fazer?

- Desculpa se quis vir ao funeral da minha ex-mulher. – Revirou os olhos e, se as circunstâncias fossem outras, eu teria rido amargamente, por sermos tão parecidos.

- É teu filho? – Perguntei, apontando com a cabeça para o rapaz. Ele tinha o cabelo loiro da senhora que o segurava, mas os olhos... Eu tenho um irmão.

- Sim. Como é que ela morreu?

- Um incêndio na empresa, ela e alguns outros não conseguiram sair.

- Lamento imenso, querido. – Virei-me para a senhora, e deixei as minhas expressões suavizarem. Assenti apenas, não querendo ser rude para ela, calculei que já tinha a sua dose, tendo casado com o meu pai. – Precisas de alguma coisa? Eu sei que tens quase dezoito anos e...

- Sabe? – Interroguei, e ela limitou-se a assentir, como se a minha rudeza não fosse ofensiva, para ela.

Percebi, naquele momento, que o meu pai tinha arranjado a sua Lucinda. Fiquei irritado por a minha mãe (e eu) não ter sido suficiente para ele mas, se aquela senhora era, eu deveria ficar feliz. Queria gritar com ela, no entanto, apesar de ela não ter culpa nenhuma. Pela aparência do rapaz, ele não devia ter mais que cinco anos, e o meu pai já nos havia deixado há mais de uma década. Dez anos, e eu continuava a deixar aquela maldita noite afetar-me e tomar posse do que eu era. Odiava aquele homem com todo o meu ser, mas não podia fazer muita coisa – ele era meu pai. Teria que esperar pouco mais de um mês até ter os dezoito anos mas, enquanto não atingisse essa data, teria que aguentá-lo. Ambos o sabíamos.

- Se precisares de alguma coisa, Jasper, nós estamos aqui. – O meu pai afirmou, com voz grossa. Ainda estava a massajar a sua bochecha, e eu contive o sorriso malvado.

- Não preciso. Mas obrigado, pela oferta. – Virei-me para a senhora, porque ela era simpática e o meu pai não, e obriguei-me a sorrir.

- Mãe, quem é ele? – O menino acabou por perguntar, e eu tive que rir, ele, certamente, havia aguentado muito tempo calado.

- É o teu meio-irmão, Parker. – A senhora explicou, com uma voz suave.

- Como? – Olhou-me de cima a baixo, e eu sorri-lhe, embora odiasse o miúdo por ser suficiente para o meu – nosso – pai.

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora