Capítulo 14; Fá-lo prometer
A Lucinda estava a ler um livro que me parecia grande demais para eu sequer considerar vir a lê-lo, quando um rapaz se aproximou da nossa mesa, sorriu-me e sentou-se à minha frente. No dia anterior, ela decidiu sentar-se comigo durante o almoço – não queria enfrentar as suas amigas. Queria chamar a Lucinda, já que ela não tinha reparado no rapaz que, de certeza, pertencia ao grupo com quem ela costumava estar. Não lhe dei muita importância porque, obviamente, ele queria falar com a Lucinda e cabia a ela decidir se queria, ou não, ouvi-lo.
Segundos depois de eu observar o rapaz – parecia muito mais simpático que todos os outros – e me sentir estúpido por estar a agir como se eu e a Lucinda namorássemos; ela levantou a cabeça e olhou para ele. Observei-a a levantar uma sobrancelha e estive prestes a sair da mesa, para os deixar sozinhos, mas senti a mão da Lucinda na minha. Naquele dia ela tinha decidido sentar-se ao meu lado, não à minha frente, e eu fiz o meu máximo para não pensar muito no facto de as nossas coxas estarem, praticamente, a tocar-se. Ela estava mais perto que o normal.
- O que estás a fazer aqui, Matt? – Interrogou, finalmente, o rapaz à nossa frente. Então, aquele é o Matt.
Continuei a comer, fazendo um esforço para não soltar um riso e agradecer ao rapaz por ter segurado a Lucinda, há dois dias. Eu não me estava a sentir, exatamente, invisível, porque a Lucinda continuava a agarrar-me como se a sua sanidade dependesse de mim. O rapaz não pareceu chocado com o tom rude que a Lucinda usou para falar com ele; eu fiquei só chocado, segundo ela, ele era o melhor de todos eles, e não entendia porque é que ela estava tão irritada com ele. No entanto, permaneci calado, porque era isso que eu fazia. Ficava calado e deixava a Lucinda tratar das suas coisas.
- És tu o Jasper de que elas tanto falam? – Ignorou a pergunta da Lucinda e, daquela vez, fui eu a levantar uma sobrancelha. Porque é que ele me está a meter nisto?
- Provavelmente. – Pousei o único talher que estava a agarrar no prato e olhei para ele.
Eu não era, exatamente, intimidante. Se algo indicava para isso, era ilusão; talvez eu tivesse a força e os músculos, de todo o exercício que fiz para ver se me cansava, mas não tinha a coragem. Também não era cobarde, só não gostava da ideia de bater em alguém e, possivelmente, ficar com marcas no meu corpo – se era para magoar alguém, eu preferia atacar com palavras, sempre doíam mais. O tal Matt olhou para mim atentamente, com os olhos a brilharem com divertimento; toda a situação era confusa para mim, e eu queria gritar para os dois se resolverem e não me meterem no assunto. Infelizmente, não conseguia fazer isso, porque eu também havia metido a Lucinda nos meus assuntos.
- Aquela mesa deixou de ser tolerável, assim que saíste, Cinda.
A alcunha que ele tinha para ela deixou-me sem saber o que fazer. Eu não tinha uma alcunha para ela, mas também não achava necessário. Pelo canto do meu olho, vi que o uso do diminutivo a fez relaxar um pouco; ou talvez fosse por causa do que ele disse. A minha mente cansada não aguentava dramas de adolescentes - eu já tinha os meus problemas -, e não entendia a tensão repentina entre eles os dois. Talvez tivessem namorado, durante um tempo, mas não me lembrava de, alguma vez, ter ouvido que a Lucinda namorava com alguém. Embora não parecesse, ela era muito popular naquela escola.
- E eu quero saber, porquê? – Revirou os olhos. Baixinho, não resisti à vontade de rir. – Matt, vai embora.
- Eu fiquei do teu lado, achas mesmo que vou voltar?
- Estiveste lá nos últimos dias.
- Porque pensei que fosses voltar! – Respondeu, num tom defensivo. Voltei a comer, para que o riso não se soltasse da minha garganta.
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Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...