Capítulo 25; Fá-lo amar
Estávamos deitados dentro da sua cama, com os corpos completamente entrelaçados. Os meus lábios pareciam estar colados à sua pele, mas ela não parecia importar-se. Conversávamos desde as coisas mais idiotas até às mais profundas – como os nossos pais, por exemplo. Era como se a sua cama se estivesse a tornar um poço para os nossos segredos, mas eu não me importava. Gostava de sentir que podia confiar na Lucinda, por muito que não o mostrasse. Talvez ela conseguisse olhar para mim e perceber o que sentia – esperava que sim, porque não era bom com palavras – e era por isso que era tudo tão fácil.
No seu quarto, não existia a solidão no meu coração – não estava constantemente a pensar na minha mãe. Recusava-me a esquecê-la mas em casa da Lucinda era, certamente, mais fácil lidar com a dor. Talvez fosse porque era uma casa diferente, ou talvez fosse apenas porque era a Lucinda quem estava comigo. Mesmo com o peso que a morte da minha mãe proporcionava, eu conseguia sorrir – isso era bom, certo? O melhor é que era ela quem me fazia sorrir; ela conseguia melhorar tudo, sem sequer o perceber. Havia demorado a perceber isso, quando começámos a falar, mas tinha chegado lá. A Lucinda apenas me melhorava, não me mudava.
Uma das coisas que me deixava menos chateado com toda a situação era o facto de uma das minhas últimas conversas com a minha mãe ter sido sobre a Lucinda. Ela foi tirada do Mundo a saber como eu me sentia em relação à rapariga com os oceanos de azul, e nem foi preciso eu dizer nada. Nós conversámos e ela disse-me algo que, eu percebi, já me queria dizer há bastante tempo. Fiquei feliz por termos conseguido feito isso, pelo menos, antes de ela partir. No fundo, eu sabia que havia sido tudo o que ela poderia querer de mim, apesar de continuar a achar que ela merecesse um filho bem melhor que eu. Ela morrera, mas as memórias que deixara não – e isso era-me suficiente, por enquanto.
Não era como se eu já estivesse no caminho para a recuperação e aceitação da sua morte, eu estava longe disso. Estava, por enquanto, a contemplar o portão de entrada para esse caminho, quase a chegar à conclusão de que é o caminho certo. E isso chegava-me, porque eu sabia que, eventualmente, iria conseguir abrir o portão e sentir-me mais leve. Não era como se eu já soubesse lidar com a sua morte, nada disso, mas já havia começado a preparar-me para a vida sem ela. Não queria fazê-lo, mas sabia que, eventualmente, seria obrigado a isso.
- No que estás a pensar? – Questionou-me, numa voz tímida.
- Na minha mãe. – Admiti e ela olhou-me, como que a pedir-me para desenvolver. – É reconfortante saber que eu não tenho muitos arrependimentos, sabes? Na última vez que a vi, naquela manhã, eu fiz tudo o que poderia querer fazer. Disse-lhe que a amava, desejei-lhe um bom dia no trabalho, e até a abracei. Claro que preferia ter-me despedido dela, mais concretamente, mas não podemos ter tudo, não é verdade?
- É verdade. – Confirmou, com um leve sorriso. Sorri-lhe de volta, acariciando a sua bochecha.
Ela fechou os olhos, com o meu toque, e eu aproveitei para a beijar. Os seus lábios eram tão suaves quanto o resto da sua pele, e eu apanhei-me a sorrir com a timidez com que ela se aproximou de mim. As nossas peles tocavam diretamente uma na outra, e eu queria desesperadamente aumentar a intensidade do momento, mas não sabia se era isso que ela queria. Enquanto a minha mão pousava no final das suas costas, apertando-a contra mim, eu parecia entender que ela queria o mesmo, mas não sabia como avançar. Não queria que ela sentisse que eu estava a fazê-lo pelas mesmas razões que na última quinta feira, porque não estava.
Lembrei-me da primeira vez que dormimos, juntos, sem roupas. Tocar diretamente na sua pele, com a minha, foi a sensação mais perfeita que eu alguma vez sentira. Sentia-me demasiado lamechas, ao pensar coisas desse género, mas era a verdade. Era como se, de alguma maneira, ela fosse perfeita para mim. Talvez fosse. Mas, talvez não – eu só não deixava a incerteza escurecer a minha mente. Quando senti os seus lábios no pescoço, a quebrar a minha linha de pensamentos, voltei a sorrir-lhe. Agarrei-a com ambos os meus braços e coloquei-a sobre o meu corpo – isso fê-la sorrir, embora eu não entendesse porquê.
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Como Amar um Insone
Teen FictionQuando nós não dormimos, sentimos a nossa vida a quebrar, mesmo sob os nossos pés. Sentimos tudo a desabar e não conseguimos fazer nada acerca disso. Dormir é recarregar e, quando não dormimos, a nossa bateria morre. [Publiquei uma versão melhorada...