Capítulo 22

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Capítulo 22; Fá-lo acalmar

Tinha acabado de almoçar, com a Lucinda, quando recebi uma chamada. Primeiro, desliguei, tal como a minha mãe me ensinou a fazer. Depois, a Lucinda começou a dizer que podia ser algo importante e que não fora simpático eu ter desligado então, quando voltaram a ligar, atendi com um revirar de olhos. Ela sorriu-me, como que orgulhosa por eu a ter ouvido, e eu mordi o lábio ao pedir para a pessoa do outro lado da linha. Aparentemente, era sobre a minha mãe. Afastei-me da Lucinda ao perguntar o que se tinha passado; a pessoa parecia estar a hiperventilar, ou algo do género, e isso fez com que um peso caísse sobre os meus ombros.

- Pode, por favor, dizer-me o que se passou, de uma vez por todas?

A mulher continuava a adiar, tentando controlar a própria respiração e eu devia ter sido mais simpático – eu sabia que ela não iria relaxar, se eu fosse tão antipático – mas não consegui! Eu estava a ficar sem ar nos meus pulmões, devido a toda a incerteza e todas as hipóteses. E se ela tivesse morrido? E se lhe tivesse acontecido alguma coisa? E se o meu pai tivesse falado com ela, e agora ela estivesse mal? Hipóteses prováveis e improváveis passavam pela minha mente e, infelizmente, não pararam mesmo quando a Lucinda apareceu ao meu lado e agarrou o meu braços, como que para me confortar.

Segundos depois, a mulher parecia mais calma, e ouvi-a respirar fundo. Eu também respirei fundo, olhando para a Lucinda em busca do conforto do azul dos seus olhos. Como se ela soubesse o que se estava a passar e me fosse ajudar; mas ela não sabia – eu não sabia. A mulher estava a irritar-me, mas eu forcei-me a respirar fundo e esperar porque, se a minha mãe soubesse que eu estava a ser mal educado para uma amiga dela, ela provavelmente bater-me-ia outra vez. Ainda estava, sinceramente, um pouco chocado por ela não me ter batido ontem, antes de todo aquele discurso emocional, (que preferi ocultar da Lucinda, ela não precisava de saber que eu tinha vontade de fugir).

- Houve um incêndio na empresa. – Começou, e eu podia jurar que senti o meu coração apertar. – A tua mãe...ela...ela não conseguiu sair, Jasper. Eu peço imensa desculpa. Os bombeiros vieram consideravelmente rápido, mas...mas já era tarde demais, para ela e para todos os outros que ficaram presos lá dentro.

- Como é que você saiu? – Cuspi as palavras, e eu percebi que era ofensivo, como se eu estivesse a desejar que tivesse sido ela a ficar presa num edifício em chamas, mas apenas depois de as palavras saírem.

- Eu estava na minha hora de almoço. – Explicou, pacientemente, como se as minhas palavras não tivessem sido um desejo para ela morrer.

- Então ela está...morta? A minha mãe...está...morta. – Sussurrei a última palavra, e observei a reação da Lucinda.

Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, terminei a chamada e dei um murro no cacifo mais perto. A Lucinda ainda não tinha bem percebido o que estava a acontecer, eu conseguia ver os seus olhos pensativos, como se estivessem a processar tudo o que me tinha ouvido dizer. Quando, finalmente, se apercebeu, os seus olhos arregalaram e ela aproximou-se de mim. Não deixei que ela me tocasse, porque sabia que a iria agarrar com demasiada força e não queria magoá-la. Ao invés de responder ao seu conforto, voltei a bater no mesmo cacifo, amolgando o metal.

Queria gritar; não com a Lucinda, mas com a minha mãe. Como é que ela poderia ter sido tão... Eu sabia que a culpa não era dela – a culpa nunca seria da pessoa que morria; mas eu precisava de culpar alguém. Porque é que ela não foi almoçar com a sua amiga? Porquê? Queria gritar com o mundo, porque tinha sido o Mundo, com a sua maneira perversa de fazer as coisas, a matar a minha mãe. Havia tantas maneiras de começar um fogo e, pelo que a tal amiga da minha mãe tinha dito, não parecia ter sido provocado. Ela parecia tão chocada quanto eu, no entanto. Queria respostas concretas, queria que a minha mãe voltasse para mim e me respondesse. Mas, claro, isso era inútil. Não apenas naquele momento – seria sempre inútil, porque eu nunca mais a iria ver.

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora