Capítulo 24

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- Esta prova tem previsão de quatro a cinco horas de execução. Caso vocês se percam, a pulseira rastreadora irá revelar onde vocês estão, aqui. - ele disse erguendo um iPad - E vocês teram sinalizadores se precisarem de ajuda. Tudo bem?
Todos nós concordamos.
- Então... Boa prova!
Todos estavam super ansiosos e animados.
- Abaixem as vendas. E podem seguir em frente. - ele concluiu
O Ethan me olhava esperando que eu abaixasse a venda. Hesitante eu abaixei-a. E tudo ficou escuro. Uma buzina soou logo em seguida e eu podia ouvir alguns correndo, outros falando alto, o barulho do mar, e a minha respiração alta. Jessica, não fica nervosa! Não vai acontecer nada! Eu sussurrava para mim mesma várias frases de conforto. Até que o Ethan começou a andar, e eu fui cambaleando até entrar no mesmo ritmo que ele.
As vozes foram se afastando e eu só ouvia nossas pegadas no chão. Já tínhamos andado alguns bons metros. O suficiente para estar longe de todos. Ou será que tem alguém perto de nós? Meu pensamento não se concluiu pois eu senti uma grande pancada na testa. Me fazendo cair no chão e levando o Ethan ao me lado.
- Merda! - eu disse entre dentes e puxei a venda com força - Que porra você fez?
A minha cabeça latejava, e acredito que estava vermelha.
- Desculpa. - ele disse rindo um pouco
Eu o fuzilei com os olhos.
- O que foi? Eu esqueci que você estava atrás e soltei o galho. Me desculpa! - ele disse sério me encarando, mas logo caiu na gargalhada
Bufei de raiva e me levantei rapidamente, esquecendo que estávamos algemados, assim, puxando com tanta força, que houve um estralo nas pulseiras rastreadoras. Logo seguidas por um leve choque.
- Aí! - eu gritei quando recebi o choque pela segunda vez
- Viu o que você fez? - o Ethan disse se levantando incomodado
Claramente, ele também tomou choque.
- Foi você que fez isso! - eu devolvi
E recebi um outro choque um pouco mais forte.
- Merda! - resmunguei puxando a pulseira com tudo
- Se você não fosse tão grossa para puxar a algema isso não teria acontecido.
- Se você não tivesse batido o galho em mim isso não teria acontecido.
- Já disse que foi sem querer! - ele disse aumentando a voz
E eu senti um outro choque fraco, agora vindo da sua pulseira.
- Foda-se! Agora tira está merda, porque está me dando choque. - eu rosnei
Como ele conseguia me tirar do sério! Ele arrancou a pulseira irritado e colocou na mochila. E logo eu coloquei a minha também. Eu comecei a andar, mas ele ficou parado. Virei-me para ele com a cara fechada e perguntei...
- Vai ficar aí?
Ele não disse nada, apenas começou a andar e passou pela minha frente rapidamente, me puxando atrás dele.
O Ethan tinha o mapa em mãos. Mas ele andava tão rápido que eu não podia ver.
- Você pode andar um pouco mais devagar? - eu perguntei
Minha cabeça latejava um pouco.
- E você pode andar um pouco mais rápido? Quero achar a chave logo.
Suspirei e apressei meus passos. Ele me puxou mais um pouco e eu vi algo laranja. Parei abruptamente ao ver a bandeira.
- Ali! - eu disse e o puxei indo em direção a bandeira
Chegamos e eu peguei a caixa do chão. Abri e peguei duas pulseiras verdes fluorescentes, um novo mapa e um papel escrito...
- O seu parceiro já pode tirar a venda. Este novo mapa irá lhe dar as pistas da charada e a chave das algemas. Boa sorte! - eu li em voz alta
- Deixe-me ver o mapa. - ele disse pegando-o da minha mão e analisando - Vamos pegar a trilha da esquerda e subi-la. Depois vamos para a direita, esquerda, e direita de novo. Entramos em uma passagem abaixo do chão e depois continuamos.
Ele disse mais para ele mesmo e continuou a caminhar me arrastando. Passamos por uma trilha de plantas rasteiras e achei uma bandeira branca.
- Achei uma! - eu disse me abaixando para pegar
- Tem outra ali. - o Ethan disse e foi até ela me puxando junto
Encontramos mais umas cinco pistas antes de parar na frente de uma passagem escura na altura do solo.
- Vamos entrar aí? - perguntei incerta
- A não ser que você tenha aprendido a voar. - ele disse me olhando como se eu fosse uma idiota
Bufei de raiva e fui andado na frente puxando-o. Minha vista rapidamente ficou escura e eu não via mais nada, apenas ouvia nossos passos e nossa respiração. Até que eu tropecei em algo, e cambaleei.
- Merda! Cade a lanterna? - perguntei
- Na mochila, porque até onde eu esteja vendo, não está em nossas mãos.
Virei-me pisando duro.
- Você pode parar com suas ironias? - eu já estava impaciente com suas infantilidades
- Talvez se você pegasse a lanterna nos conseguiríamos sair daqui.
Eu tive vontade de revidar, gritar com ele. Mas apenas respirei fundo, virei-me de costas e disse...
- Está na mochila.
Ele ergueu as mãos e por conta do escuro acabou tocando no meu ombro nu. Várias ondas de formigamento se espalharam no meu corpo. E agradeci por esta escuro, para que ele não visse que eu me arrepiei.
O Ethan acendeu a lanterna e começou a iluminar a passagem, depois saímos da mesma e descemos uma ribanceira e eu juro que a minha maior vontade era empurrar o Ethan, mas pro meu azar se eu fizesse isso também iria cair com ele.
- Está muito calor. - o Ethan murmurou
E de repente a minha mão se ergueu junto com a dele. E em questão de segundos a camisa dele estava pendurada na algema. Mesmo sabendo que não deveria fazer isso, ergui os olhos para encara-lo. O sol estava escondido, assim fazendo um maravilhoso contraste do corpo do Ethan com o amarelo-alaranjado que refletia em meio as grandes árvores verdes. Ombros largos, braços fortes, abdômen musculoso, peitoral liso, destacando todas as suas tatuagens. Minha nossa! Ele foi feito a mão, esculpido perfeitamente. Não sei quanto tempo passei olhando diretamente para ele, mas ele fez uma carranca atraindo meus olhos aos dele. Podia ver um traço de meio sorriso em seus lábios perfeitamente desenhados. Aqueles olhos azuis me encaravam intensamente. E eu tive a grande vontade de jogar meus braços atrás do seu pescoço e colar os meus lábios aos... Antes que eu pudesse terminar o pensamento eu virei-me e continuei a andar. Respirei fundo algumas vezes, para me recompor. Se concentra Jessica! Se concentra!
Peguei o mapa da mão do Ethan e fui trilhando assim como estava no papel. Ouvi o som de água. E fomos em sua direção. Depois de caminhar mais um pouco paramos na margem de uma cachoeira, suas águas estavam agitadas e no meio dela havia uma grande rocha com uma bandeira laranja e uma caixa ao lado.
- A chave da algema está ali? - minha voz saiu baixa
- É o que parece. Precisamos de algo para pega-la. - o Ethan disse me arrastando até uma árvore
Ele pegou um grande galho no chão e voltou até a ponta onde a cachoeira tinha limite ao solo.
- O galho é pequeno... - ele pensou alto
- Mesmo se ele for grande, você vai empurra-lo e ele vai cair lá em baixo. - eu disse apontando para o fim da cachoeira
- Temos que achar uma outra saída. - ele examinou em volta - Ali!
Ele foi até a árvore. No galho de cima tinha uma bandeira branca e uma corda grande.
- Podemos amarra-la em você, e você ir pegar enquanto eu te seguro.
Olhei para ele desconfiada.
- Vamos logo, ou você não quer se soltar desta maldita algema? - ele perguntou erguendo as nossas mãos algemadas
O Ethan amarrou a corda em minha cintura e a outra ponta na árvore. Como estávamos algemados, teríamos que descer os dois, mas quem iria pegar a caixa era eu.
- São mais ou menos dois metros e meio, você pega a caixa e me dá.
- Tudo bem. Vamos logo. - eu disse entrando na água
A água estava gelada, e um pouco abaixo dos meus ombros.
- Vai caminhando devagar. - ele me aconselhou
Faltava dois passos para chegar a rocha quando a correnteza começou a ficar um pouco mais forte.
- Mais rápido Jessica! - ele disse alto
- Estou tentando, mas a água está muito forte.
Cheguei a rocha e fiquei na ponta dos pés para pegar caixa, mas nem a ponta dos meus dedos tocaram.
- Não alcanço! - eu gritei acima do barulho da águas
Ele caminhou até mim, colocou as mãos na minha cintura e me carregou. Peguei a caixa nas mãos. Ele me botou na água novamente, mas agora a água estava muito mais forte. Ele pegou a caixa da minha mão e jogou para fora da água, no chão.
- Pronto! Agora vamos sair daqui. - ele foi me puxando para sairmos
De repente a corda desamarrou da árvore e eu me desloquei e acabei pisando em falso, assim afundando em um pequeno buraco. A água cobriu minha cabeça. Tentei voltar para cima mas não consegui. O Ethan puxava minha mão. Mas agora eu estava presa. Olhei para trás e a mochila estava presa em um galho de um tronco. Tentei soltá-la, mas não foi muito fácil já que eu só estava usando uma mão. Meu fôlego já estava praticamente no zero, e conseguia sentir água em meus pulmões. O Ethan mergulhou e tentou me puxar, mas ele viu que estava presa. Mesmo eu sabendo que ele não me ouviria claramente eu gritei...
- Ethan. - seus olhos azuis encararam os meus
E de repente eu estava solta. O Ethan me puxou forte para cima do nível da água. Assim que cheguei na superfície os meus pulmões imploravam por ar.
- Vamos! - o Ethan gritou e me puxou
Chegamos a margem e ele saiu e logo depois me tirou da água. Caímos deitados no chão, respirando com dificuldade. Ele se recompôs mais rápido que eu e se esticou para pegar a caixa. Ele abriu e tirou uma pequena chave de lá de dentro.
- Finalmente. - eu sussurrei com dificuldade
Ele abriu a algema e meu pulso estava vermelho e levemente ardido. Esfreguei-os. E levantei para me alongar. Mas senti falta de algo. A mochila!
- Cadê a mochila?
- Na água!
- O que? - perguntei incrédula
- Se eu não tivesse tirado, você morreria afogada.
- A mochila está na água? - eu corri até a margem para procurar mas não achei
Peguei o galho que o Ethan havia pego, e fui espetando abaixo da água. Mas nada.
- O que foi? - ele perguntou
- A mochila! Está tudo na mochila! Os mapas, as pistas, comida, água, sinalizadores. Tudo!
Ele me olhou sem acreditar.
- Deve haver um outro mapa aqui. - ele foi até a caixa e pegou um papel lendo em voz alta - Agora vocês estão soltos. Faltam só algumas pistas. Termine de encontrá-las com a ajuda do mapa anterior e você terá a localização do tesouro.
- Só isso?
- Não pode ser! Tem que haver mais alguma coisa aqui. - ele disse virando a caixa de cabeça para baixo
Eu me ajoelhei no chão e coloquei as mãos na cabeça. O que faremos agora? Perdemos tudo. Olhei em volta para saber por onde poderia voltar, mas já estava escurecendo. Eu não sabia mais aonde estava...
- Você vai ficar aí sem fazer nada? - o Ethan disse alto
Uma raiva súbita me tomou, e eu estreitei os olhos para ele e me levantei.
- O que espera que eu faça? Que eu nade por aí procurando a merda da mochila? - eu gritei em resposta
- Talvez sim!
Me segurei para não dizer nada. Não queria discuti sobre isso agora, eu só queria sair dali e deitar para descansar. Dei as costas a ele e comecei a andar tentando refazer o caminho de onde vinhemos.
- O que você está fazendo? - ele perguntou
Mas eu o ignorei continuando a caminhar. E senti gotículas caírem no meu rosto e escorrerem logo depois, achei que seria suor, ou porque ainda estava molhada da cachoeira. Mas olhei para o seu e estava fechado e com muitas nuvens. Chuva? Que ótimo! Não poderia piorar. Passei por várias árvores - na verdade, tudo aqui era árvore - estreitando os olhos por conta da chuva e da escuridão que se aprofundava a cada instante.
- Aonde você está indo? - ele perguntava novamente e eu continuava a ignora-lo
Já tinha se passado mais de meia hora e eu andava ignorando o Ethan enquanto ele perguntava pela décima vez para onde eu estava indo. Já estava tudo escuro, não dava pra enxergar muito bem. Eu era guiada pela luz da lua. E eu estava tendo quase certeza que estava perdida quando calculei pisar em uma pedra, mas escorreguei e cair de bunda no chão.
- Merda! - resmunguei
- Você está bem? - o Ethan perguntou
Eu achei que ele já tinha ido embora. Eu não disse nada, apenas tentei me levantar. Ele colocou a mão no meu braço e me levantou. Já em pé, puxei meu braço de sua pegada.
- Não preciso de sua ajuda! - eu disse grosseiramente
- Você caiu, eu só estava lhe ajudando!
- Eu não te pedi nada. Consigo me virar sozinha.
Ele estreitou os olhos.
- Porque você é tão orgulhosa, porra? - ele disse alterando a voz
As gotas de chuva rolavam calmamente pelo seu rosto.
- Não sou orgulhosa, apenas não quero a sua ajuda!
Ele riu ironicamente e depois ficou sério.
- Engraçado, nós últimos tempos quem salvou a sua vida foi eu. - ele pôs a mão no próprio peito, bateu forte e gritou fazendo suas veias saltarem - Eu!
- Você foi o culpado de quase todas elas! - eu devolvi
- O que? - ele perguntou confuso mas irritado
Minha paciência foi para o espaço. Me pus firme e comecei.
- Foi você o culpado pelas minhas brigas com o Scott, você foi o culpado pela foto do beijo de mentira, você foi o culpado pelos armários "Mão de Pluma", você foi o culpado por me fazer achar que você era meu amigo, você foi o culpado pela corda ter se partido porque você não amarrou direito, você foi o culpado por perdermos a mochila e você é o culpado por estarmos perdidos aqui nesta merda! - eu berrei
Ele respirou fundo antes de dizer as próximas palavras.
- Quantas vezes eu tenho que dizer que não fui eu que tirei a foto e nem fiz aquilo no armário? - ele estava tão irritado quanto eu
- Você sabe que você fez! - eu disse entre dentes
- E como você pode provar isto? - ele perguntou sério dando um passo em minha direção
- Eu sei que foi você! - eu recuei um passo
Ele deu uma passo de cada vez e eu fui recuando até bater de costas em uma rocha.
- Eu não pichei o seu armário. Eu jamais faria isso.
Ele continuou andando e parou bem próximo a mim.
- E porque você não picharia? - perguntei firme
- Porque você não merece isso.
Ele examinou todo meu corpo. Desde a minha blusa regata folgada e molhada por cima de um biquíni preto, e um short, até os meus olhos. E minha confiança foi fracassando.
- E eu não tentei te beijar por causa da suposta foto. - ele disse com os olhos na minha boca
Meu corpo enfraquecia a cada segundo. Está aproximação me faz vacilar.
- E então por que foi? - perguntei com a minha voz vacilando
Ele ergueu os olhos para encarar os meus. Mesmo com apenas a luz da lua ainda podia ver que os seus olhos estavam intensos e escuros. Com desejo. Eu estava esperando a sua resposta, mas antes que ela saísse de sua boca, ele colou seus lábios aos meus.

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