Com amor, Beatriz.

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Peguei um embrulho bonito, ainda não sabia o que ela ia fazer, mas caso fosse algo muito bom, pelo menos estaria apresentável.
Saímos do ateliê com o meu trabalho na mão, e fomos caminhando até o meu condomínio, chegamos na minha casa, estranhei e perguntei:
- Por que estamos na minha casa?
- Não, não é sua casa, vamos deixar na casa da frente.
Ai meu Deus, sabia que ela ia aprontar alguma coisa. A casa da frente era a casa do Pedro, um sobrado lindo lindo, impecável, e todo branquinho, olhei para minha amiga e joguei aquele olhar de quem não é a favor da ideia, ela deu de ombros e foi me puxando até lá.
Já eram umas 16:00, haviam passado duas horas, e aqui em Guarulhos, a esse horário, o sol já vai embora, andamos na ponta dos pés, e deixamos o coração lá, todo embrulhado, na porta. Ana me encarou e falou:
- Quando eu apertar a campainha, corremos pra sua casa.
Relutei um pouco e argumentei:
- Ainda acho que não é a melhor das ideias, poxa, ficou um trabalho tão bonito, eu poderia ficar com ele.
- Vamos deixar ai mesmo senhorita, e você não vai me fazer mudar de ideia. Bia, se você não vai, eu vou, vai querer deixar sua amiga sozinha nessa? Estou fazendo isso para o seu bem.
- Ok, mas se alguém for levar a culpa esse alguém vai ser você.
Ela riu, ela sabia que eu não ia ser capaz de contar algo que ela fez na intenção de dedurar minha amiga, sou fraca e fiel mesmo, e daí? Enrolamos, mas finalmente decidimos apertar a campainha, primeiro íamos ficar num arbusto perto da casa dele pra ter certeza que ele ia abrir a porta e pegar o coração, depois que ele entrasse, iríamos correndo para minha casa, entrar, e fingir que nada tinha acontecido, plano perfeito:
-1,2,3 e...
Ela apertou a campainha, corremos o mais rápido possível para perto do arbusto.
Ficamos observando, quando finalmente o Pedro abriu a porta e pegou o coração, desembrulhou ali mesmo e viu o que era, deu uma risada e olhou em volta. Abaixamos e paramos de ver o que estava acontecendo. Ouvimos a porta da casa dele fechar, e agora poderíamos ir para casa, dei um passo à frente e em um relapso de segundo recuei, o Pedro não havia saído de lá, e provavelmente não ia sair tão cedo até encontrar a garota do coração do papel machê. Olhei pra Ana desesperada, não podíamos voltar pra casa, mas também não era de se esperar que eu iria aparecer na frente da minha paixão de escola e dissesse na cara dura "Oi Pedro, então, esse negócinho todo embrulhado que você acabou de abrir, fui eu que fiz, tenho uma mini paixão platônica por você, agora pendura isso na parede do seu quarto, finja que não sabe quem é que mandou e ficarei feliz, valeu".
Olhei para Ana tentando achar ali mesmo, nos olhos dela qualquer solução pra nos tirar dali.
Mas só consegui achar medo de sermos pegas, de tudo der errado e a culpa ser dela, ela poderia estar mais apavorada que eu, mas não estava, porque Ana precisava manter a calma para podermos voltar pra casa sem que ele visse. Foi quando ouvimos a risada do Pedro, e logo em seguida ele falou algo que me arrepiou do coro cabeludo até a cutícula do meu dedinho pé:
- Com amor Beatriz?
Olhei pra minha amiga e a abracei forte, achando que iria resolver alguma coisa, será que eu havia deixado um bilhetinho junto com o embrulho sem perceber? Sussurrei:
- Estamos realmente encrencadas.

Aquele cara.Onde histórias criam vida. Descubra agora