Precipício.

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Bernardo tinha sido internado onde seu pai morava,Rio de Janeiro, porque os hospitais de lá eram melhores do que os de Guarulhos.
Ele estava bem no momento, e fazia dois dias que ele estava consciente.
Ele tivera um AVC, bem na minha frente, os médicos devem ter achado que quem precisava de ajuda era eu, que chorava e soluçava desesperadamente, só querendo segurar a mão gelada do meu melhor amigo.
Eu, Theo e Clara estávamos junto com a mãe de Bernardo hospedados em um hotel perto do hospital onde Bê estava se recuperando.
Uma noite antes de irmos ver como Bernardo estava, eu fui com Theo até um alto morro perto da praia, para poder conversar com ele.
Já era tarde da noite, 22:00 aproximadamente, e o frio me fazia ranger os dentes.
Theo estava com um casaco, calça jeans, e um tênis. Subimos o morro e ficamos um pouco longe da beira, eu apoiei minha cabeça no ombro dele, que me abraçou forte. O vento estava mais forte naquela altitude, o que me fazia tremer. Olhei para o horizonte que estava a minha frente, e falei:
- Eu achei que ele ia morrer - Solucei.
Theo provavelmente não sabia o que dizer, então ficou quieto por um tempo, e depois começou:
- Mas ele não morreu, isso é importante.
Comecei a lembrar do Bernardo, do nada, e meu coração se apertava, ao saber que ele não estava tão bem no momento, que ele não estava sorrindo com aqueles dentes brancos e lindos.
Segurei as lágrimas que poderiam cair pelo meu rosto naquele mesmo momento, Theo me apertou mais um pouco, me esquentando com seu abraço.
Pensei no Bernardo falando de Clara, apaixonado, assim como eu falei do Pedro pela primeira vez para Sofia, aquele imbecil, que se achava a última bolacha do pacote.
Senti raiva, meu estômago se embrulhou todo, meu celular e do Theo começaram a tocar, ao mesmo tempo, o telefonema dele era da mãe do Bê, e o meu era da Clara, atendi:
- Oi Clara.
Ela soluçava e chorava:
- O Bernardo.
Eu desliguei na mesma hora, meu coração parou de bater por um segundo, e minha respiração começou a ficar fraca, já imaginava o que tinha acontecido, porém Theo continuou ouvindo a mãe dele, e não esboçou reação nenhuma, achei que Bernardo tinha morrido.
Tirei o braço de Theo de mim, não conseguia respirar, minhas lágrimas rolaram pela minha face, descontroladamente.
Cheguei perto da beirada e me virei para Theo, que arregalou os olhos ao ver o quão perto do precipício eu estava. Ele tentou gritar, mas era como se nada saísse, eu olhei para baixo, nada tinha mais graça, perdi meu fôlego, queria pular, coloquei um pé para fora da beirada.
Ri um pouco quando lembrei do Bernardo, com ciúmes, fazendo comigo o sorvete mais estranho de todos, me abraçando e usando exemplos de jogos de futebol para demonstrar o quanto ele me amava.
O jeito que ele fazia piadinhas, que falava de outras garotas e depois vinha me irritar, tudo isso fazia dele meu melhor amigo, eu o amava tanto, você nem sabe quanto. Meu corpo doeu, inteirinho, não sentia mais nenhum membro, além do meu coração, que tinha os batimentos tão lentos...
Eu ia pular, eu estava pronta para isso, todas minhas lágrimas tinham caído como vidro sobre meu rosto, molhando todo meu rosto, e descendo, para meu pescoço.
Olhei mais uma vez para baixo, até que senti algo na minha mão, era Theo, que me segurou pela mão e me puxou para trás, percebi que ele também começou a chorar, o que me fez chorar mais ainda, meu estômago se revirou e eu gaguejei:
- Ele morreu?
Ele se espantou e sussurrou:
- Não, ele não morreu.
Ele me abraçou, e me puxou para longe daquele maldito precipício, ele beijou minha cabeça, segurou meu queijo, e me beijou, ele lacrimejava, e falou:
- Não faça mais isso, ele está bem, tudo está bem agora.
Afundei minha cabeça no casaco dele. Que não queria desgrudar de mim. E ficava dizendo com voz chorosa:
- Eu te amo.
Sempre retribuía quando ele falava, ele me fazia feliz, e aos poucos, eu consegui respirar normalmente.

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