O começo

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Anna On

Mais um dia. O dia está tão calmo que me faz querer deitar e dormir por dias, porém o forte sol lá fora me faz querer ir até lá.

Sol. Gramado. Ar livre.

Quanto tempo faz que eu não tenho um verdadeiro contato com algo assim? Deduzo que muitos anos. Porém não posso reclamar tanto assim, pelo menos não agora que ganhei um "passe" para andar livremente pelos corredores desse orfanato. Mas mesmo agora enquanto ando sem rumo pelos grandes corredores, me pergunto se algum dia irei sentir a chuva contra minha pele, ou até mesmo o sol.

Eu faria qualquer coisa para sair daqui. Qualquer coisa.

- ANNA! - Me sobressaltei ao ouvir me chamarem.

- Sim? - Pergunto ao me virar, dando de cara com Maíra, uma das garotas mais velha do orfanato.

- Se prepare logo, Sr. Arris mandou avisar que todas as garotas entre 15 a 16 anos devem descer ao grande salão, pois uma de nós será adotada hoje, ande, ande, ande. - Disse enquanto me empurrava sem jeito pelo corredor.

- Adotar? Uma mais velha? - Perguntei confusa. - O que? Porque? Eles sempre querem as mais novas.. - Divaguei enquanto ainda era empurrada.

- Isso não importa, uma de nós terá uma família então torça que seja você e vá logo ficar pronta. - Ordenou parando de me empurrar e me fitando seriamente.

- Certo. - Concordei saindo correndo dali.

Adotar? Uma família? Mãe? Pai? Irmãos? Eu posso ter uma família?

"Não! Você não pode, olhe para sí mesma, quem iria te querer?"

Minha mente grita maldosa, porém mesmo que com a dor que as palavras me causam eu sei que é verdade, quem iria querer uma garota fraca e esquelética como filha? Eu assusto até mesmo as pobres criancinhas do orfanato, quem diria novos pais e irmãos? Com certeza não tenho a mínima chance.

Ao chegar em "meu" quarto eu apenas troco a blusa que visto por outra melhorzinha, porém até mesmo essa contém inúmeras manchas de tintas e de coisas não identificada, ela fica larga em mim e eu até penso em troca lá, mas lembro que ela é a única que tenho que não fica tão larga quanto as outras; Eu coloco minha velha sapatilha de pano cor azul e permito-me sorrir fitando elas.

"Você teve que esfregar elas durante duas horas com um pequeno pedaço de bombril."

Eu sei. Valeu a dor e os machucados em meus dedos. Prendo meu cabelo em um coque um tanto quanto mal feito e tento prender minha calça com um pequeno grampo. Maldita magreza. Não me olho no espelho, sei que o que verei me partira ainda mais do que já estou, então simplesmente dou de costas e corro para o salão o mais rápido possível.

- Anna que demora, só faltava você. - Michele diz assim que chego ao salão, corro para seu lado e fico em posição de soldado como todas as outras.

Afinal seremos adotadas ou iremos para guerra? Me sinto horrível por não está feliz como as outras, porém sei que nunca serei adotada.

"Que bom que sabe. Você é uma vadia nojenta, ninguém te quer."

Eu sei, eu realmente sei.

- Senhoritas. - A voz do Sr. Arris preenche o salão de um modo firme e doce.

"Você o conhece, você sabe o que ele faz com garotas como você, voc..."

Cale a boca! Apenas cale a boca.

- Esse é o Sr. McKibben, ele está aqui para adotar uma de vocês, por favor digam seus nomes e idade. - Ele pediu. - Fique a vontade Sr. McKibben, essas são as quatro garotas da idade que o senhor pediu, infelizmente garotas dessa idade estão um tanto em falta agora que foi aberto um novo orfanato na cidade. Você entende, não é? Tivemos que transferir várias garotas mais velhas.

Eu não ousei olhar pra o homem, apenas permaneci de cabeça abaixada desde que Sr. Arris entrou no salão, aposto que as outras estão com lindos sorrisos deslumbrantes, mas para que eu faria isso? Não tenho a droga de chance alguma.

- Sou Luíza e tenho 16 anos. - Ouvi Luíza dizer, pelo tom de sua voz ela estava praticamente dizendo "Me adota, me adota, me adota por favor."

- Me chamo Daniela e tenho 15 anos, prazer conhecer você. - Se apresentou Daniela também parecendo animada.

- Senhor. - Droga! Essa é a voz dele? Parece... Assustador. - Me chame de senhor. - Disse Sr. McKibben.

- Desculpe-me por ela senhor, não irá se repetir. - Garantiu Sr. Arris.

- S-sou Michele e tenho 15 anos. - Se apresentou Michele ao meu lado.

Droga! Sou eu? Não eu não posso falar. Eu não consigo nem ao menos ergue meus olhos até ele, quem dera falar? Não consigo! Não consigo! Não consigo! Não con...

- É sua vez Anna. - Ouvi Sr. Arris falar, ele parecia meio nervoso e deduzi que foi pelo erro de Daniela.

- M-me chamo Anna e t-tenho 16 anos. - Murmurei baixo, porém com a certeza de que ele escutaria.

- Olhe em meus olhos quando falar comigo. - Ouvi a voz dele soar novamente. Ele me dá medo, sua voz me dá medo.

"Não ouse ergue o olhar. Não ouse sua vadia nojenta, não ouse!"

Ergui minha cabeça devagar e o fitei, ao contrário do que pensei ele não tinha uma aparência assustadora, ele era apenas... Intimidador. Seu cabelo era negro como a noite e seus olhos do mais profundo ônix já visto por meus olhos; Ele era alto, provavelmente 1,88 por ai, esbanjava um bronzeado de dar inveja e um corpo totalmente trabalhado em musculação, dava para se notar por seus braços, ele não era algum tipo de marombado, era apenas.. Tentador? Eu nunca parei para analisar nenhuma pessoa antes em minha vida, mas garanto que é desse tipo de cara que as meninas mais velhas falam quando chega a noite.

- Se o senhor preferir tenho garotas melhores, porém mais novas e.. - Sr. Arris foi cortado brutalmente pela voz do Sr. McKibben.

- Eu já escolhi quem quero. - Dito isso ele apenas deu de costas e caminhou até a porta, Sr. Arris não teve escolha a não ser ir até ele praticamente correndo.

Aqueles olhos... Eles me lembram a alguém.

No way outOnde histórias criam vida. Descubra agora