Esperança

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Anna On

Me pergunto quanto tempo estou aqui, dois dias? Três? Semanas? Eu nunca sei ao certo os dias ou horas quando estou presa nessa droga de "quarto". Lembro-me quando a escuridão do quarto me fazia sufocar até desmaiar, lembro-me quando o silêncio me fazia encolher, lembro-me quando as paredes frias e duras me faziam rasgar as costas, eu me lembro quando o meu maior medo era não ter ninguém no quarto a não ser eu.

"Mal você sabia que o pior era o que vinha depois, não é!?"

Sim. Lembro-me quando meu medo era estar só, e então... Então a porta era aberta e o meu maior pesadelo aparecia, um pesadelo que tinha nome, idade, e infelizmente um lindo sorriso.

"Você sempre se faz de vítima, você não cansa de ser tão ridícula?"

Ótimo. Além de ter que lidar com meus problemas tenho que me preocupar com o que minha mente maldosa diz sobre mim, porém não a culpo, quem gostaria de alguém como eu?

"E lá vamos nós de novo. Pobre Anna, coitadinha. É isso que você quer não é!? Atenção?"

Suspirei enquanto finalmente abria meus olhos, porém não tive grandes mudanças já que tudo ao meu redor continuava tão negro quanto antes. Toquei meus lábios que estavam doendo e gemi com a dor com o tal ato.

- Anna? - Ouvi a voz de uma das meninas do lado de fora, porém não soube distinguir quem era. - Sr. Arris mandou que uma de nós lhe soltasse e desse um banho, ele até lhe comprou uma roupa nova. Um vestido, um lindo vestido na verdade. - Ouvir a voz continuar a falar.

- Por quê? - Perguntei sentindo minha cabeça latejar de dor e total confusão. Porque Sr. Arris faria isso? E logo para mim?

- Ele não disse, mas... - A voz dela para como se estivesse com medo e em seguida um longo suspiro foi solto.

- Mas o que? - Pergunto sentindo meu coração bater tão forte como nunca. O que ele planeja? Me matar? Mas se for isso, para que um vestido novo? Isso não faz o menor sentindo.

- Tem um boato no qual todas estão comentando, porém ninguém tem coragem para perguntar ao Sr. Arris se é verdade. Eu não sei se deveria te contar isso, entende? Eu posso me encrencar por falar demais.

- Eu não direi nada a ninguém, por favor, me conte. - Peço em suplica, alguns segundos passam e nenhuma resposta.

- Ok. - Ela suspira cansada. - Estão todas dizendo que você foi adotada por aquele "tio" que veio aqui dias atrás, e que ele virar te buscar hoje.

- O que? Como assim? - Pergunto me levantando bruscamente, porém a tontura me atinge em cheio me fazendo se apoiar nas paredes. - Isso deve ser uma confusão, porque eu? Não! Impossível.

- Sinto muito, mas ninguém sabe. - Escuto a barulho da tranca ser rodada e então a claridade me atinge em cheio, me senti obrigada a levar a mão em meus olhos que pareciam queimar e dá um passo atrás. - Você pode andar? - Pergunta ela me analisando.

- Sim. - Respondo finalmente fitando ela. - Julia!? - Pergunto assim que reconheço a menina a frente, ela sorri calorosamente para mim.

- Podemos ir? - Ela pergunta me estendendo a mão, eu apenas concordo com a cabeça e dou a mão para ela. - Vamos primeiro ao banho, ok? - Ela pergunta enquanto me arrasta pelos corredores.

Eu não entendo, isso não faz o menor sentindo. Porque alguém iria me adotar? Eu não sou nem de longe a garota mais bonita do orfanato, sem contar que pareço mais com uma grande lombriga desnutrida do que uma garota adolescente. Então porque eu?

- Não pense muito, pensar não é algo bom para se fazer aqui. - Escuto Julia dizer enquanto me tira de meus pensamentos.

A tarde foi resumida a um longo e doloroso banho, e depois algumas meninas me ajudaram a me vestir e pentear o cabelo, já que para mim qualquer movimento me fazia querer chorar no chão de tanta dor. Quando tudo acabou algumas amigas vieram se despedir de mim.

- Você precisa ir Anna, Sr. Arris já te espera. - Camila me avisou enquanto acariciava meus cabelos.

- Sentiremos sua falta. - Maria disse, senti meu coração se apertar. Maria era uma das mais novas ali e isso me tocou profundamente.

- Eu também sentirei meninas, sentirei de todas vocês. - Respondi caminhando até a porta enquanto tentava sorrir. - Eu amo vocês, por favor não esqueçam. - Digo enquanto passo pela porta e mando beijo para as meninas lá dentro.

Eu não sei o que esperar do meu futuro, mas uma coisa eu tenho certeza, não importa o que passei de ruim nesse orfanato eu sempre tive as melhores amigas do mundo, e disso eu nunca poderei reclamar.

- O senhor me chamou Sr. Arris? - Perguntei assim que entrei no escritório, sem demorar eu caminhei em passos curtos até sua mesa e permaneci de cabeça baixa tentando me manter calma.

- É obvio que sim, você acha mesmo que eu deixaria alguém entrar aqui sem minha permissão, garota estupida!? - Respondeu irritado. - Sabe Anna, eu sempre pensei que de todas as garotas que tenho você seria a última a ser adotada, mas veja só, parece que alguém tá dando um de bom samaritano e resolveu te tirar daqui.

- Eu fui adotada? - Perguntei erguendo a cabeça finalmente, senti meu coração bater tão rápido quanto um grande tambor e minha cabeça voltar a latejar. Céus, eu realmente fui adotada, isso é real!

- Sim, dá pra acreditar nisso? Logo você. - Respondeu ele irritado.

Calmamente eu examinei Sr. Arris e vi o quão ruim ele estava, tinha grandes olheiras em baixo de seus olhos e ele vestia uma roupa manchada de algo que eu não sabia identificar. Seu escritório estava um caos, com papéis e mais papéis jogados pelo chão e em cima da mesa.

- Quero que preste muita atenção no que direi. - Fui tirada de meus pensamentos pela voz ameaçadora de Sr. Arris. - O que acontece nesse orfanato fica no orfanato, entendeu? Não tente dá uma de heroína ou coisa do tipo pois as únicas pessoas que pagaram por isso será suas adoráveis amiguinhas, estamos entendidos? - Perguntou me olhando fixamente.

- S-sim senhor. - Concordei rapidamente.

- Que bom. - Ele sorriu cinicamente. - Agora fique sentada e espere até eu mandar que se levante.



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