O quão frágil somos?

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Narradora On


Matthew sentiu um arrepio correr pelo seu corpo quando entrou novamente naquela casa, as lembranças se misturando com a realidade, o escuro, a chuva, tudo parecia ter sido cruelmente planejado para lhe atingir. Ele tentou se apoiar na parede enquanto uma de suas mãos ia em direção ao seu coração sentindo o quão rápido o mesmo batia, porém com aquela escuridão ficou impossível saber onde exatamente estava a parede, e mais, tinha algo bem mais importante para ele lidar.

"Anna"

A garota que tempos atrás fazia barulhos irritante no qual não o deixava pensar se encontrava assustadoramente calada, ele suspirou enquanto sentia o ar em seus pulmão se torna cada vez mais escasso. Outro barulho pareceu lhe fazer acordar, ele tinha que chegar até seu quarto não importava como faria tal ato. Ele correu ao local que ele lembrava que se encontrava a escada e subiu, uma, duas, duas malditas vezes ele errou o degrau e foi ao chão, uma das vezes fazendo seu queixo atingir um degrau a baixo dele, ele não praguejou, não naquele momento, não quando algo importante acontecia ali.

Ele sentiu seus pés vacilarem quando finalmente pisou no andar de cima, seus pés molhados lhe ameaçavam lhe levar ao chão, para tentar que isso não acontecesse ele se segurou a parede e caminhou com certa calma.

"Você está com medo? Está com medo?"

A voz em sua lembrança lhe perguntava de modo zombeteiro, ele poderia jurar que ele estava ali, que o dono daquela voz realmente estava ali. Ele deu mais alguns passos e esbarrou em algo que fez um barulho de sino, confuso ele se abaixou e pegou o que chutara.

"Eu te amo"

Ele escutou o objeto falar, se dando conta que se tratava de uma pelúcia, ele jogou-a longe como se ela fosse uma terrível arma, seu corpo cambaleou para frente o fazendo pisar em varias outras. Tantas. Tinhas tantas espalhadas ali.

- Eu não.. eu não consigo.. - Ele levou uma de suas mãos ao peito enquanto lhe dava pequenos socos. Suas respiração parecia cada vez menor e difícil.

Era isso. Matthew não conseguia fugir do passado, não conseguia fugir das lembranças, da sensação de ainda ser um garoto de seis anos diante de uma pesadelo surreal cujo parecia que iria tirar sua vida. Se dado por derrotado ele deixou seu corpo desabar ao chão.

- Cale a boca! - Ele grita entre os pulmões. - Cale a maldita boca. - Ele ordena enquanto cobre os ouvidos.

Era patético, aquela situação parecia patética. Aquele homem que dava medo a tantas pessoas, que era considerado para uns como grande exemplo de masculinidade estava ali no chão, derrotado, reduzido ao puro lixo.

- Estou aqui. - Ele ouviu alguém falar, porém confuso demais para saber se era real ou não.

- Pare com isso. Apenas pare com isso. - Ele grita novamente enquanto aperta suas mãos em sua cabeça. Algo lhe toca sutilmente no ombro o fazendo se assustar ainda mais e acertar em cheio quem quer que fosse. Um barulho junto ao gemido de dor foi escutado.

- S-sou eu. Eu estou aqui, estou aqui. - A voz de Anna agora estava tremula, mas cheia de confiança, a dor em seus lábios parecia serem insignificantes perto do que o homem parecia sentir.

Ela tateou o chão sentindo varias bichinhos macio a sua volta, como se entendesse que aquilo fazia mal ao homem ela os empurrou escada a baixo e voltou para se sentar ao seu lado, gentilmente agarrou uma de suas mãos e acariciou tentando tranquilizar o homem, ela devia isso a ele, devia por todo o trabalho que tinha lhe dado mais cedo. O mais velhos por suas vez começara a subitamente se sentir mais calmo. Ficaram em silencio por longos minutos, cada um mergulhado em suas próprias dores e medo porém cientes que um estava ao lado do outro.

- Mas que droga é essa, estão tentando me matar?! - A voz de Evan quebrou totalmente aquele momento, o loiro subia apressadamente a escada com a lanterna do celular ligado. - O que é isso? Reunião dos covardes?! - Perguntou apontando o celular em direção aos dois chorões ali presente.

- Quando você chegou? - Anna perguntou sem entender porque o outro estava ali do nada. O mesmo deu de ombros e caminhou até eles se sentando a suas frente.

- Cara, não precisa chorar, seu príncipe chegou. - Diz enquanto dá um leve tapa na perna de Matthew que nem sequer se moveu. Era claro que o loiro só queria fazer o outro se sentir melhor com piadas e brincadeira, mas naquele momento o outro se sentia envergonhado por toda aquela situação. - Ah, aqui está seu filho.

Matthew franze a testa quando o outro lhe estende sua jaqueta, mas longo entende ao ver pequenos olhos azuis lhe fitando de modo preguiçoso parecendo não entender o porque de tanto barulho. Anna se debruçou sobre os braços dele para ver o que era e não pode se impedir de sorrir animadamente.

- Um gato. - Ela diz o obvio enquanto olha para o filhote animadamente.

- É seu irmão, seu pai estava tentando arriscar sua própria vida por ele. - Diz com humor fazendo Matthew revirar os olhos. - Então, vamos ficar aqui mesmo? Estou louco de fome. - Pergunta se espreguiçando.

E como se tudo fosse só mais um ato ensaiado a luz se acendeu clareando todo o ambiente e irritando os olhos daqueles ali presente, Evan sorriu enquanto era o primeiro a se levantar e ajudava a mais nova a fazer o mesmo, porém parou para fitar o corte que se encontrava no canto de sua boca. Matthew se levantou em seguida e pareceu notar o mesmo machucado que o outro, arregalando os olhos em seguida.

- Eu fiz isso? - Ele pergunta em um ranger de dentes, a raiva por si mesmo lhe tomando conta. - Eu lhe acertei? - Ele dá um passo para trás como tivesse acabado de ser acertado no estomago.

- Não! - A menina nega com rapidez. - Não foi você, foi quando eu tentei sair do quarto no escuro. - Evan parece não acreditar naquela mentira, mas acho melhor deixar assim por enquanto, um surto de arrependimento de Matthew naquele momento não era algo que eles precisavam.

- Docinho, por que você não vai buscar toalhas secas? - Pede Evan enquanto afaga a cabeça da garota gentilmente enquanto a mesma concorda e se vira. - Você está bem? - A pergunta é pela primeira vez feita de maneira seria, sem deboche ou zombaria.

- Não acredito que tudo isso tenha sido coincidência. - Matthew diz enquanto olha para o gato ainda dormindo em seus braços. - Todos sabem que estaria sozinho com a garota, nada de empregados, nada de testemunha. A falta de luz...

- A falta de luz? - Pergunta Evan ameaçando a sorrir presunçosamente.

- Como ficaríamos sem luz se tenho geradores reservas capaz de nos manter com luz por mais de três anos? - Ele fita o loiro o vendo sorrir de forma sádica. - O que sabe sobre isso?

- Sei que seja quem for que teve a brilhante ideia de arriscar sua vida.. - Ele sorriu de forma doce agora vendo Anna voltar. - Vai servir de comido para os porcos.




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⏰ Última atualização: Jun 17, 2021 ⏰

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