Sopa, cabelo e trovão. Parte II

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Narradora On

Anna suspirou pela vigésima vez preocupada, fazia longos minutos que Matthew não dava sinal de que estava vivo e isso estava fazendo ela ficar louca. Ela imaginava que talvez ele tivesse caído por conta do severo sono ou fraqueza que sentia, sua imaginação a fazia imaginar diversos acontecimentos horríveis que a fazia tremer de preocupação.

Quando a garota finalmente decidiu por entrar novamente ao banheiro, Matthew saiu tranquilamente enquanto ainda tinha a toalha por cima de sua cabeça, ele franziu o cenho ao olhar para Anna e sentou em sua cama enquanto esfregava a toalha nos cabelos.

— Não é assim que se faz. — Diz enquanto vê o modo que ele esfrega brutalmente a toalha.

— Por acaso eu pedi a sua opinião? — Rebate enquanto revira os olhos.

— Desse modo seu cabelo ira quebrar, deixe-me te ajudar. — Diz a garota se aproximando, porém Matthew joga brutalmente a toalha no chão.

— Você não é a porra da minha empregada. — Rosna totalmente irritado.

Automaticamente Anna volta para sua postura anterior mantendo certa distância de Matthew, o homem por sua vez parecia cada vez mais incomodado com a dor que sentia em sua garganta.

— Você precisa descansar, trarei o jantar em vinte minutos e então poderá dormir. — Informa a garota em um tom tão baixo que Matthew quase não a escuta.

— Não quero comer. — Resmunga enquanto se arruma confortavelmente na cama, porém sua barriga lhe trai fazendo um barulho deveras alto.

— Vinte minutos. — Diz novamente Anna enquanto tenta não rir da expressão sem graça de Matthew, e sai pela porta.

Anna sabia muito bem como era cuidar de pessoas doentes, elas sempre ficam irritadas, triste, e com péssimo humor por conta da dor e da sensação de impotência que sente. Se em dias normais Matthew já era difícil de lidar, agora então que ele ficaria insuportável, porém Anna estava mais que disposta a ajudar ele.

Assim que chegou na cozinha a garota abriu a geladeira enquanto retirava alguns legumes que iria precisar. O médico havia dito que Matthew não poderia comer nada sólido principalmente nos primeiros dias, e por conta disso Anna tinha que ter cuidado com o que o alimentaria para que seu corpo não acabasse muito fraco e ele perdesse peso. A primeira coisa que Anna pensou foi em sopa, até porque era sempre sopa que era servido no orfanato quando alguma criança ficava doente e também era o que Anna sabia fazer de melhor, por ser mais velha ela sempre ajudava as freiras na cozinha.

— Se mamãe me visse agora. — Murmurou a garota sorrindo para o nada, enquanto terminava de cortar as batatas.

Mesmo dormindo em uma cama duas vezes maior que ela, mesmo tendo um banheiro extravagante, mesmo tendo a oportunidade de comer três vez ao dia, Anna ainda trocaria tudo isso pelo simples desejo de estar com sua mãe novamente em sua antiga casinha; ela poderia não ter um quarto enorme pra ela, poderia ter uma sala pequena que mal cabia um sofá, ela poderia não ter dinheiro para todas as refeições necessárias, porém ela seria incrivelmente feliz apenas por ter sua mãe ao seu lado novamente. Para a garota sua mãe era a única pessoa do mundo capaz de realmente trazer a felicidade, porém infelizmente sua mãe não estava mais ali.

— Maldito... — Murmurou enquanto lembrava do dia.

Daquele maldito dia.

Mesmo continuando triste por não ter sua mãe a garota acabou colocando isso de lado e terminando finalmente a sopa, essa no qual ela tinha certeza que tinha ficado ótima, até porque ela tinha anos de práticas.

— Prontinho, agora só falta... Oh, isso, água.— Ela pegou a garrafa junto um pequeno copo e colocou na bandeja com a sopa.

Anna caminhou com cuidado para que um incidente não acontecesse e todo seu tempo fosse pro lixo, subiu as escadas mais devagar do que qualquer tartaruga em uma corrida e finalmente chegou ao quarto. Ela empurrou a porta com o quadril e sorriu calorosamente para Matthew quando ele a olhou, mesmo que seu olhar não fosse um dos melhores.

— Que droga é essa? — Perguntou o homem em um falso tom de irritação, até porque ele realmente estava faminto.

— Sopa. O médico lhe recomendou então fiz minha especialidade. — Diz a garota colocando a bandeja na frente dele, retirando a garrafa e o copo com cuidado e os depositando na mesinha ao lado.

— Hum. — Resmunga Matthew enquanto se senta melhor e observa a comida. — Parece horrível.

— Desculpa, tive que bater muito para não ficar sólido. — Se desculpa a menina pela sopa parecer bem mais um suco do que uma comida.

O homem pegou a colher e levou a boca provando devagar, Anna por sua vez tentava manter sua expectativa baixa para não se decepcionar, porém ela realmente sentia que ia explodir por fazer algo que Matthew poderia gostar.

— Que porra! Você colocou tomate aqui? Não sabe que odeio essa droga?! — Exclamou enquanto fazia uma cara horrível.

— O que? Mas eu...

— Se você não sabe fazer algo não tente.  — A menina abriu a boca novamente pra se justificar. — Leve essa droga daqui logo.

— Sim senhor...

Tristemente a garota pegou a bandeja e saiu do quarto, e talvez fosse seus passos nada lentos ou suas lágrimas atrapalhando a visão, porém qual fosse o real motivo não importava, Anna estava no chão. Sua mente estava tão sobrecarregada que ela não soube entender o que tinha acontecido.

Ela tinha caído da escada. Isso era um fato. Porém como ou de qual parte tinha sido ela não sabia, tudo que ela sabia era que parte do seu braço e pernas queimava, algo escorria na sua testa como se fosse uma gota de suor, a palma de sua mão ardia e parecia molhada e uma parte de sua bochecha parecia incrivelmente maior. Ela levou alguns minutos deitada ainda no chão para finalmente compreender tudo aquilo que sentia.

— Sangue... — Murmurou assustada quando levou a mão na testa e voltou a olhar.

Sua mão também estava cortada e sangrava, ela logo percebeu que a queimação era por conta da sopa que havia caído em cima dela e se espalhado pelo cômodo. Ela olhou pra cima imaginando que talvez Matthew estivesse lá a olhando preocupado, que talvez ela pela primeira vez iria ter a compaixão e cuidado de um pai, porém ele não estava.

Ele não estava lá.

Ela se sentia sufocada. Se sentia terrivelmente sozinha e assustada, ela queria gritar até sua garganta não ser capaz de emitir nenhum som, ela queria bater até ser capaz de provocar a mesma dor que as pessoas lhe proporcionaram, ela queria chorar e implorar para que alguém a fosse salvar por que ela sentia que estava caindo e caindo e ninguém estava lá para segurar.

Mas no final nem Matthew nem ninguém apareceu e ela acabou dormido ali, junto ao sangue e a sopa e sabendo que no final ainda teria que limpar toda aquela bagunça.

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ं Hi! Como prometido tentarei postar mais frequentemente, minha meta é conseguir postar um capítulo por semana no mínimo, obviamente isso depende muita da minha criativa pois não quero postar algo ruim ou "meia boca a vocês". Porém irei me esforçar muito para conseguir sempre está postando. 
Obrigada por me acompanharem.

No way outOnde histórias criam vida. Descubra agora