Capítulo 1

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Caminho pelas ruas frias de Londres não suportando mais as lágrimas que teimavam em rolar pelo meu pálido rosto. Meus soluços eram muito audíveis, e por mais que eu estivesse lutando para não chorar como uma criança, não conseguia. Meus batimentos cardíacos aceleram de imediato quando ouço meu celular tocar. Uma frustração gigante me domina quando leio o nome de Meggie, minha melhor amiga, no visor. Não, Emma, ele não vai te ligar!

- Meggie? – Atendo, sem conseguir conter os soluços.

- Em, você me ligou? O que houve? Têm umas cinco chamadas perdidas suas aqui! – Sua voz alta e desesperada me faz rir um pouco. Em seguida suspiro, ainda desejando que as minhas palavras para ela fossem mentira, ou que eu estivesse dentro de um sonho, e em breve iria acordar.

- Acabou, Meg! – Tento continuar, mas sou impedida pelo meu próprio choro, me fazendo engasgar.

- Acabou?! Acabou o quê, Emma? Do que você está falando? Olha...

- Eu e Victor, Meggie! – Interrompo a sua gritaria, agora com a voz firme. – Eu e ele... acabamos! Melhor dizendo, ele acabou comigo! – Aperto os olhos para tentar conter as próximas lágrimas, que descem teimosamente, e em seguida salto com a buzina de um carro preto que por pouco não me atropela quando tento atravessar a rua. Vejo que o susto do motorista foi imenso.

- Quer morrer, idiota?! – Berrou pela janela do carro, após passar a mão nervosamente pelos seus cabelos escuros e compridos. – Caralho!

Levanto o dedo do meio para ele, irritadíssima. Já não basta o que me aconteceu hoje! Por favor, sem mais confusões... Se bem que a ideia dele não é tão má...

- Emma?! – Meggie berra do outro lado da linha. – Emma, o que está acontecendo? Você está na linha?

- Estou indo para casa, Meg! – Digo e desligo de imediato o celular, andando mais depressa.

Meggie e eu dividimos um apartamento desde o ano passado, quando saí da casa de Dona Zarina. Meus pais faleceram em um acidente de carro há três anos, e não havia mais nenhum familiar ou parente nosso vivo. Acabei ficando com Dona Zarina, minha babá desde pequena. Só posso agradecer todo o tempo que fiquei com ela, pois sempre foi como uma mãe para mim. Uma negra corpulenta com o cabelo todo trançado, que deixou o Brasil, seu país natal, para tentar uma vida melhor na Inglaterra.

Sempre vi Dona Zarina como uma pessoa forte, inteligente e tranquila. Nela se encontra a calma de uma mãe, a força que sempre vai te reerguer nos piores momentos, e palavras sempre sábias que te fará pensar duas vezes e enxergar o melhor caminho na hora de resolver desgastantes situações. Ela me chama de Malika desde que a conheci. Depois de um bom tempo me chamando sempre por este nome, quando tinha quatro anos resolvi perguntar para ela por que ela me chamava assim. Ela se ajoelhou para falar comigo, como de costume quando eu era pequenina, e me contou que Malika significa "doce princesa", em africano. Lembro-me de sorrir e abraçá-la, realizando um enorme contraste com meus cabelos loiros e minha pele muito pálida, com a sua muito escura, e disse que gostava de ser Malika.

Dona Zarina cuidou de mim em sua casa por dois maravilhosos anos, até Meggie aparecer com a ideia do apartamento. Ela ganhou de presente de aniversário de seu pai, e desde então, dividimos juntas as contas e despesas. Por mais que Zarina tenha me ajudado sem obrigação alguma, ela se sente como uma "mãe secundária" para mim, e me manda algum dinheiro para sobreviver, o pouco que tem. Mas pretendo arrumar um trabalho ou estágio o quanto antes, para ter o meu próprio dinheiro e deixar de depender e abusar da pobre mulher.

Amanhã era suposto ser o grande dia! Contudo, hoje perdi todo o brilho, toda a ansiedade, toda a alegria... Amanhã é meu primeiro dia de aula da faculdade, assim como o de Meggie, e minha felicidade era imensa, porque estamos na mesma turma.

White Flowers |H.S.|Onde histórias criam vida. Descubra agora