Capítulo 2

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Olho para o relógio da mesa de cabeceira de Meggie assim que acordo subitamente debaixo de meus cobertores. São 6:32 da manhã. Ainda falta uma hora para o despertador tocar. Levanto-me sem um pingo de sono, enquanto Meg dorme como uma pedra, e caminho até o banheiro na ponta dos pés para não acordá-la.

Encaro-me no espelho. Vejo um rosto triste, pálido demais, com grandes olheiras e lábios inchados. Suspiro, mergulhando as mãos na água fria da torneira e jogando-a em meu rosto. Isso tudo vai passar. Enxuguei o rosto com a pequena toalha e voltei a me encarar, um ato difícil no momento.

Pensei que tudo estava melhorando, que eu já estava ficando mais forte, que saberia seguir em frente... Mas não. Em minha mente agora só se passa imagens dele comigo... De quando me elogiava, de quando me carregava com facilidade em seus braços musculosos, de quando sussurrava em meu ouvido durante o sexo o quão eu era boa, de quando dizia que eu o fazia feliz... E agora nada disso importa mais para ele! Ele está provavelmente fazendo todas essas coisas com a outra que ele escolheu ficar. Não sou eu. Aquilo tudo acabou. É irreal. Um desespero enorme invade minha garganta e minha cabeça lateja. Agarro em meus cabelos enquanto novas lágrimas escorriam dos meus olhos. Os soluços voltaram. Não era suposto o amor nos fazer sentir bem? Se o amor é um conjunto de sentimentos bons, confortantes, alegres e adoráveis, então por que dói tanto? Pela controvérsia de sentimentos, o amor então deve ser um conjunto de sentimentos doentemente bons; grosseiramente confortantes; de uma alegria ébria; e adoravelmente picante.

Quero gritar. Preciso gritar. Mas não posso acordar Meggie. Finalmente desprendo meus dedos dos meus cabelos, mas ainda soluço desesperadamente. Sem pensar, soco o espelho com a minha mão direita. Nada acontece, e por conta disto, uma raiva súbita se apodera de mim e me faz socar o vidro várias vezes, com mais força, até estilhaçá-lo todo, causando vários cortes em minhas mãos e pulsos, que agora sangravam freneticamente.

Deixo-me cair sentada no chão frio enquanto choro como uma criança, ensanguentando meus cabelos ao agarrá-los novamente. Partes do meu rosto também acabaram manchadas de sangue.

Aperto os olhos sem parar de chorar ao ouvir as estrondosas batidas na porta do banheiro. Merda, devo ter acordado-a.

- Emma? Você está bem? – Meg bate novamente na porta, forçando a maçaneta. – O que aconteceu? Responda! Abra a porta!

Ainda sentada no chão, alcancei a fechadura e a virei, destrancando a porta. Não disse uma palavra. Meu rosto estava inchado e encharcado de sangue.

Os olhos escuros e arregalados de Meggie ziguezaguearam do espelho rachado até mim, e em volta dos cacos espalhados no chão. Com a mão na boca, minha amiga ajoelhou-se até mim, que agora havia parado de chorar e permanecia com uma expressão neutra no rosto, com os olhos focados em um ponto no piso frio do chão. O sangue tingindo meu cabelo loiro de vermelho e manchando minha face tinha assustado-a intensamente. Parecia que estava de frente com um personagem de filme de terror. Tremula, a garota de cabelos castanhos pegou delicadamente em minhas mãos, examinando os cortes que brilhavam nela.

- Vem, vamos fazer um curativo nisto! – Ela me olhou com ternura, fazendo menção para que nos levantássemos, e eu obedeci, ainda sem dizer uma palavra. – Depois vamos lavar estas mãos e este rosto, ok?

Assenti, com a cabeça baixa, enquanto caminhávamos para o quarto dela. Meggie tentava disfarçar com sorrisos, mas estava estampado em seu rosto a grande preocupação que estava sentindo em relação a mim.

- Quer faltar ao primeiro dia de aula da faculdade? – Ela me pergunta seriamente, enquanto espirrava um antisséptico em meus cortes com o auxílio de um algodão. – Se quiser, podemos fazer outra coisa juntas. Não me importo, mesmo!

White Flowers |H.S.|Onde histórias criam vida. Descubra agora