Capítulo Quatro - O Pedido

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Quando caí, não me preparei fechando meus olhos. Ao contrário: eles ficaram abertos. Mas não demorou muito para a água começar a irritar minhas retinas e eu ser obrigado a fechá-los.

As bolhas de ar faziam cócegas em minha pele, conforme iam de encontro à superfície. Respirei um pouco e abri meus olhos de novo. Não vi nada a não ser escuridão.

Nenhum sinal da estranha banhista noturna.

Meus pulmões começaram a arder quando meu estoque de oxigênio acabou. Coloquei meus braços por cima da cabeça e mexi minhas mãos para lados opostos. Fiz dos meus pés espécies de nadadeiras, e com isso impulsionei o meu corpo para cima.

Quando emergi do lago, inspirei todo o ar que pude em apenas uma tragada. Com a movimentação dos meus pés impedindo que eu afundasse, olhei ao redor, procurando sinais de movimentos ou algo do gênero. Ainda sem sinal da garota desconhecida, mas provavelmente não devia ter ido muito longe, principalmente pelo grau de temperatura que estava a água do lago.

Meus dentes não demoraram muito para começar a baterem uns nos outros devido ao frio causticante. Se eu não saísse logo, ficaria com gripe, ou alguma doença ainda pior.

A beirada da passarela estava há poucos centímetros de minha cabeça. Se eu erguesse o meu braço, conseguiria alcançá-la sem dificuldades...

O som de água sendo batida chegou novamente aos meus ouvidos. Olhei para trás, tentando visualizar o que poderia ser, mas pareceu que meus olhos tinham voltado a serem inúteis em um ambiente escuro. Não dava para esperar que eles se acostumassem ao lugar desiluminado. Não tinha mais tempo.

-Se você está aí, então exigo que saía! - grito, para nenhum ponto em específico. Queria que minha voz alcançasse uma distância boa, para que a misteriosa banhista ouvisse. Fiquei girando em torno de mim, mas não vi nada.

Mais uma vez, ela sumiu.

Não podia parar de pensar na forma como passei a me postar no momento em que ela começou a cantar. Me sentia... hipnotizado. Como se todo o meu corpo tivesse caído à mercê do comando dela. Como ela fez isso? Por que ela fez isso?

Olhei para cima, na direção da borda da passarela, e a peguei com uma mão. Levantei e segurei com a outra. Usando minha força, me impulsiono para cima, vendo os músculos dos meus braços se tensionarem.

Quando meu queixo transpôs a passarela, sinto algo se fechando em volta do meu tornozelo. No mesmo momento, algo me puxa para baixo. Algo com uma força estritamente grande.

Minhas mãos se mantém firmes, mas não o suficiente. Cinco segundos depois, a força misteriosa ultrapassou a minha, e eu caí de novo no lago.

Seja lá quem estivesse fazendo isso, não queria que eu fugisse.

>>>

A água novamente banhou todo o meu corpo. Mas desta vez, havia algo me puxando para baixo.

Balançava meus pés freneticamente, mas não conseguia me livrar do aperto. Era quase que inútil tanto esforço. Quanto mais eu me movimentasse, mais rápido meu oxigênio acabaria.

E mais rápido eu morreria.

A mão subiu pela minha perna, mas não me importei que meu tempo estava acabando. Eu iria lutar até o fim.

Provavelmente na terceira tentativa, finalmente consegui. Senti um impacto quando o peito do meu pé bateu em algo - provavelmente um rosto -, e o aperto se fora. Não perdi tempo, e seis segundos depois, novamente emergia do lago.

Sereia - A Prisioneira Da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora