Capítulo Três - A Banhista Noturna

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Tudo o que eu precisava fazer era ficar em silêncio. Não queria assustar o que quer que estivesse fazendo aquele barulho. Será que minha mãe ou meu pai resolveram banhar-se naquela hora? Pouco provável. Clear? Com certeza não. Minha irmã não sabe nadar muito bem. Mesmo estando na profundidade mais baixa, o medo por poder se afogar ainda lhe perturbava. Até esse momento, não pude entender como ela conseguia ficar calma, sabendo que possa existir metros de profundidade abaixo da casa. Se ela caísse, ou se o chão rachasse...

O fecho de luz do meu celular encontrou a porta de deslizar, que levava para a varanda lateral da casa. Mesmo com o barulho tendo cessado, ainda estou convencido de que, seja lá o que o tivesse causado, ainda estava em algum canto do lago, perto do alcance da minha visão.

Quando coloco a mão sobre a porta deslizante, ouço novamente o barulho: algo batia na água.

Me esforço para abrir a porta com cuidado. Não queria causar pânico no que quer que fosse que tenha tirado meu sono.

Assim que abro a porta, o vento frio bate contra o meu rosto. O resto do meu corpo se esfria, mas não minha mente. A curiosidade fazia meus neurônios trabalharem duplicadamente, enquanto criavam uma tese para explicar aquele estranho som, que se propagou de novo. Como estava forte, alto e em bom som, tirei a conclusão de que a origem não estava tão distante.

Só conseguia ver silhuetas ao meu redor. Conseguia ver a água negra, rodeando-me por quase todos os lados. Podia ver a pequena mureta, que impedia que alguém caísse, caso estivesse naquela área limitada. À minha frente, podia ver a pequena passarela. Nada para mim não passava de preto ou cinza.

Conforme eu mirava a lanterna portátil do meu celular, ia vendo os objetos entrando em foco. Ficava vagando o feixe por vários pontos - no chão, nas paredes atrás de mim -, esperando poder ouvir o que tanto vinha me afligindo. Mas, no próximo um minuto inteiro, nada ouvi a não ser o som da minha respiração. Estava começando a achar que tudo fora uma mera "pegadinha" que meu cérebro fez comigo, quando o som veio até mim mais uma vez.

E o melhor: agora eu sei de onde está vindo.

Sem delongas, andei sorrateiramente até o final da passarela de madeira, tomando cuidado com os meus passos. Pisava primeiro com o tornozelo, e depois abaixava o peito do pé. Repeti esse passo até chegar ao final.

Quando cheguei até lá, meu celular tremeu fracamente. Não precisei olhar para a tela para saber que era a notificação que informava que a bateria estava nos últimos 5%. Dali em diante, qualquer momento de iluminação poderia ser o último, antes que eu fosse novamente submerso à escuridão.

Foquei a luz na superfície da água. Não conseguia ver mais do que cinco polegadas de profundidade, já que era o limite que a luz fraca da lanterna portátil conseguia alcançar.

Comecei a investigar a área. De repente me peguei imaginando vendo a mim mesmo, procurando com um suposto olhar lunático, algo que não tinha certeza do que era. Como eu me achei doido nesse momento. Mas não podia cessar a busca. A curiosidade ainda crescia em meu peito, como um tumor cancerígeno.

Fiquei fazendo isso por vários minutos. Houve momentos em que avaliei o mesmo lugar inúmeras vezes, apenas para encontrar nada além de água.

Minha esperança de encontrar algo enfim acaba. Resolvi olhar só mais um pouco, para assim voltar à minha cama e esquecer tudo o que acabara de acontecer.

Foi quando notei algo estranho. Quando foquei a lanterna do meu celular à leste de onde estava, acabei vendo pequenas ondas se formando. Significava movimentação na superfície da água.

Sereia - A Prisioneira Da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora