Capítulo Oito - Perspectiva Dupla

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   -A sociedade das sereias está em pé de guerra há algum tempo. Mas no começo, havia apenas rixas. Discussões, e nada mais. Mas então tudo mudou, e foi de maneira rápida e drástica. Aqueles que estavam em campo neutro, assim como eu, tiveram uma surpresa ao ver sereias e tritões lutando uns com os outros.

   Ouvia cada palavra com atenção. Serena parecia estar colocando o máximo de confiança em mim, então não a desapontaria.

   -Mas o que mais me deixa assustada é o fato de que eu não sei o porquê de tudo isso estar acontecendo.

   -Como assim? - aquela parte me deixou um pouco intrigado. Como estar, de certo modo, metido em uma guerra, sem saber os motivos que levaram cada lado a requerê-la? - Como pode não saber os motivos dessa guerra entre seu povo?

   -Todos estão mantendo isso no anonimato. Ou pelo menos para mim. Não sei por que, mas não me sinto confortável com isso.

   Apesar das palavras tentarem serem claras, não consegui juntar elas para formar uma explicação coerente.

   -Me desculpe se eu for rude, mas infelizmente não estou conseguindo entender.

   -É um pouco difícil explicar essa situação. Mas eu posso tentar... mostrá-la.

   -Mostrar? Como?

   Em vez de me responder, Serena gesticula as mãos para que eu me aproxime um pouco mais dela. Mesmo com algo dentro de mim gritando para não fazer isso, resolvo me arriscar. Inclino minha cabeça para a frente, esticando o pescoço o máximo que eu posso, esperando que Serena não tentasse me puxar para o fundo do lago novamente.

   Mas ela simplesmente esticou os dois braços e colocou os dedos indicadores em cada têmpora minha. Em seguida fecha os olhos, parecendo tomar para si uma concentração passional.

   Não sabia o que tinha que fazer. Mas então algo começa a inundar minha mente. Sentia que minha consciência tinha se rompido, deixando fluir para dentro jatos de informações desconhecidas, das quais meu cérebro estava tento certa dificuldade em decodificar.

   Então percebo que eram imagens que estavam vindo até mim. Fecho meus olhos, não sabendo se estas eram ou não bem-vindas. Era Serena quem estava fazendo isso? Se sim, como? Com algum dom telepático?

   Sinto minha pálpebras caindo, até que mergulho em uma escuridão voluntária e deixo que aquelas cenas individuais se juntem e tentem explicar o que as palavras da sereia não conseguiram.

>>>

   Havia água ao redor de onde eu estava. Provavelmente estava dentro do lago, mas de alguma forma eu sentia que não estava dentro do meu corpo. Tentei olhar para baixo, mas eu não era participante daquela cena; apenas um telespectador, sem ter a chance de mudar o que acontecia ao meu redor.

   Eu - ou o corpo onde eu estava habitando provisoriamente - olhava para a frente. Basicamente mais à frente, localizado na altura da linha do horizonte, havia uma magnífica cidade subaquática. Prédios altos que deviam cortar o céu cresciam em direção a superfície, com as pontas tão perto de emergir que era até alarmante. Luzes brilhantes iluminavam a grande área, mostrando movimentações aonde quer que se olhasse, sinal de que o povo de Serena habitava ali com esplendor e magnitude.

   "É isso...", pensei, enquanto o corpo onde eu estava "hospedado" começa a nadar na direção da cidade. "Eu devo estar no corpo da Serena, servindo de observador aos fatos que ela já presenciou". Não pude deixar de achar aquilo tudo muito legal.

Sereia - A Prisioneira Da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora