Capítulo Dez - A Boate Dancing

1.2K 101 2
                                    

   -Achei que havia se esquecido dos seus amigos. - disse Júnior, colocando uma de suas mãos sobre o meu ombro esquerdo. Quando ele desceu daquele carro e veio na minha direção, há uma hora atrás, mal o reconheci.

   Mudança era pouco para distinguir o que ele tinha passado. A denominação mais propícia à ele era "mudança geral", porque o antes e o depois à minha frente pareciam se tratar de duas pessoas completamente diferentes.

   Os cabelos de Júnior tinha passado de castanho para um loiro; o amarelo fazendo uma rápida transição ao branco. O comprimento também havia sido alterado. Há um ano, seus cabelos não alcançavam a nuca; agora, os fios capilares desciam pelo seus ombros. Os óculos que ele usava na frente dos olhos foram substituídos por lentes de contato castanho-avermelhado, dando-lhe uma aparência sobrenatural.

   Porém, havia uma coisa que ainda permanecia em meu melhor amigo: o senso de humor.

   -Foi mal não ter ligado para você, galera. - digo, me desculpando. - Mas é que eu estive submerso em alguns... problemas... lá em casa. - resolvi que dizer apenas aquilo era o suficiente, principalmente porque o motivo de eu estar ali era por querer esquecer definitivamente Serena. Lembrar dela não me ajudaria nesse requisito. - E além do mais, lá onde eu moro, o sinal é fraco. - o que era verdade. Demorou um pouco para eu me adaptar ao primeiro dia. Meu braço doía ao entardecer, devido a eu o manter erguido, com o celular preso aos dedos, para tentar encontrar um sinal propício para pelos menos o envio de uma mensagem.

   -Claro! Parece que você mora em outra cidade! - exclama Theo, ao meu lado. Este não experimentou nenhuma mudança no pouco tempo de minha recém-mudança à casa do lado. Seus comentários extravagantes ainda eram sua "marca registrada". Mesmo estando escuro, podia-se ver o brilho de seus olhos azuis.

   -Será que podemos parar de conversar e andar logo! - diz Alby, às minhas costas. Por ser o mais alto entre nós quatro, ele costumava deixar que fôssemos à frente. Nunca entendi esse motivo, mas deve ser para não nos ocultar. - Olha o tamanho da fila!

   Olhei para frente, assim como Júnior e Theo. Do outro lado da rua, o amontoado de pessoas, uma atrás da outra, formando uma enorme e desorganizada fila. À frente, a porta que levava para o interior da Boate Dancing.

   O prédio era enorme, tanto por altura quanto por comprimento. No alto, um letreiro enorme deixava a palavra "DANCING" em completo brilho, com as cores vermelho, azul, verde e branco.

   Por não optar o comércio interno de bebidas alcoólicas, a Boate Dancing era um ótimo lugar para adolescentes acima de quatorze anos - o único limite de idade - esquecerem os problemas e se divertir. Na inauguração, a idéia da boate não foi bem aceita aos moradores da região. Mas quando foi provada a restrição das bebidas à base de álcool, a Boate Dancing se tornou um dos centros mais frequentados da cidade.

   Eu a frequento a três anos. Como o integrante mais jovem do quarteto, eu acabei como sendo o último a frequentá-la, de forma que meu presente de 14 anos de Júnior foi um passe VIP para o lugar, que se tornou, mais tarde, o ponto de encontro onde íamos toda semana.

   O final da fila acompanhava o trajeto da rua. Sempre que eu ia ali, olhava para as pessoas com um ar superior, já que nós sempre tínhamos cartões VIP para o nosso acesso imediato. O pai de Theo era colega do dono da boate, então sempre conseguia quatro cartões de acesso para nós.

   Ao passarmos pelo segurança, seguimos um corredor pouco iluminado. O tapete abaixo de meus pés era de pele de urso, o que dava ao ambiente uma aparência sublime.

   As portas duplas aos fundos estavam encostadas, e pelos espaços entre elas pude ver um fino filete de fumaça cinza saindo do outro lado. A animação se apossou em meu peito.

Sereia - A Prisioneira Da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora