Capítulo Doze - Sophia

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   Minhas pálpebras tremeram antes que meus olhos se abrissem por completo. No começo não enxerguei nada, mas só precisei esperar três segundos para que minha visão entrasse em foco.

   Quando olhei rapidamente ao redor, percebi que estava sentado em uma cadeira estofada, que ficava no canto de um cômodo incolor, com paredes de cor cinza (que pareceram ter sido pintadas recentemente). Não havia muitos objetos ali, então minha suspeita de que eu estava em um depósito se tornou mais forte.

   Não muito longe de onde eu me encontrava estavam Júnior, Theo e Alby. E, entre os dois últimos, estava Sophia. Ao ver os primeiros movimentos que dera, depois de um possível tempo prolongado em que eu me mantive em estado inconsciente, a garota corre na minha direção, praticamente com a preocupação exalando de seus poros. Meus amigos também começam a vir até mim, mas de forma lenta e pouco conveniente.

   -Lucas, você está bem? - perguntou Sophia, quando chega ao meu lado. Por estar perto de mim, pude contemplar seus olhos mais fixamente: ali se podia encontrar um leve traço de culpa. Será que ela estava se culpando pelo desmaio que eu tive?

   Então, de repente, as imagens vinheram à tona: as mesmas que vi quando Sophia tocou em minhas têmporas. A cena das gêmeas... A garota dormindo... A menina andando na praia, com a cauda da sereia ao longe...

   Passar por essa experiência novamente trazia mais uma vez a dor de cabeça que eu havia experimentado há pouco tempo. Aquelas estranhas imagens pareciam sugar toda a saúde mental que eu tinha, deixando um grande estrago para trás.

   -Lucas?! - gritou Alby, chamando minha atenção e, felizmente, fazendo a linha de meus pensamentos mudar de rumo. Olhei na direção deles, a tempo de ver suas faces cheias de dúvida. - Você está bem, cara?

   -Eu... estou. - digo, mas quando ouço a minha voz percebo um certo tom de dúvida presente nela. - Estou bem sim. - repito, com mais convicção.

   -Que ótimo. - diz Júnior, aliviado. - Você deu um susto em todos nós.

   -Seu amigo têm razão. - disse Sophia, com uma mão sobre o meu ombro, enquanto a outra estava depositada em cima do braço da cadeira onde estava sentado. - Você desmaiou do nada. Achávamos que tinha acontecido algo de grave com você.

   -Foi só uma simples tontura. Nada para se preocupar. - minto.

   -Tem certeza? - perguntou Theo, com os braços cruzados lhe dando uma imagem mais autoritária. - Podemos lhe levar ao hospital...

   -Não precisa! - digo, um pouco alarmante. Na realidade, nada de ruim estava acontecendo comigo. Não havia qualquer necessidade de me levarem para uma consulta com um médico. Eu estava bem. Ou pelo menos era o que aparentava. - Já disse que estou bem. Por que não voltamos para a festa? Seria a melhor escolha.

   -Me desculpa, cara, mas discordo com você. - diz Júnior, de maneira suave e rítmica, como se quisesse transformar aquelas simples palavras no refrão de uma música. - As pessoas não desmaiam do nada.

   -Concordo com seu amigo. - pronunciou Sophia. - Acho melhor você voltar para sua casa, e descansar um pouco.

   Eu estava pronto para argumentar - pronto para falar qualquer coisa que fizesse eles mudarem de idéia -, mas infelizmente nada de convincente veio à minha cabeça. E ver Sophia daquele jeito - implorando para que eu faça aquilo que ela achava o certo - tornava tudo ainda mais difícil.

   Como ela poderia ser tão parecida - senão idêntica - com Serena? Isso ainda martelava em meu subconsciente. As chances de duas pessoas desconhecidas serem idênticas era completamente impossível. A única explicação que desvendava aquele mistério era que Sophia e Serena eram irmãs gêmeas, o que era outra hipótese completamente fora de questão.

Sereia - A Prisioneira Da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora