Capítulo Cinco - Uma Hipótese

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   Mesmo faltando educação no pedido, resolvi que iria ajudá-la. Voltei correndo para dentro de casa, com a missão de encontrar algo que pudesse cobrir aquela ferida enorme no braço da banhista noturna, sem em nenhum momento parar de pensar em como aquilo aconteceu. Minha mente dava voltas, e isso geralmente acontecia quando eu tinha uma dúvida e não conseguia desvendá-la.

   Aquela garota estava me deixando louco de curiosidade, e eu nem sabia o seu nome. Mas iria descobrir.

   Atravessei a sala muito rápido - o perigo de cair e machucar meu rosto alto demais -, me dirigindo ao banheiro (ou onde acho que esteja o banheiro). Meus passos causavam um ruído muito alto, e eu esperava que isso não fosse o bastante para acordar meus pais. Mas não podia ter certeza. Se fosse eu quem estivesse dormindo, provavelmente acordaria quase que instantaneamente - não por ter um "sono leve", mas pelo ruído se destacar em meio a ondas de silêncio. Seria como jogar uma bomba nuclear em um lugar desértico, sem nenhuma fonte de barulho por quilômetros e quilômetros -.

   Cheguei ao banheiro, abri a porta, e a primeira coisa que fiz foi procurar o interruptor, ao lado da entrada. Quando encontrei o botão, a luz que vinha de cima causou um clarão tão forte que, diante do tempo que passei sem iluminação, se assemelhou, por alguns segundos, ao brilho solar. Coloquei a mão na frente do meu campo de visão, já que a luz transpunha pelas minhas pálpebras fechadas.

   Quando meus olhos enfim se acostumaram ao brilho cegante e branco, pude continuar a minha busca.

   Minha primeira meta foi ir ao armário de remédios, atrás de mim. Mesmo com as portas sendo de vidro, eu as abri, mesmo sabendo que o interior seria o mesmo se eu olhasse por fora.

   Encontrei apenas remédios e pílulas. Achei uma caixa com algodões no fundo, e ao lado dela, uma pequena bandeja de prata com ataduras brancas e limpas. As peguei de imediato, colocando-as em cima do armário baixo.

   Me levanto, e pego uma atadura com meus dedos em forma de pinça. Era muito pequena, sendo que, aberta, não ocuparia toda a palma de minha mão. Mesmo se eu fosse usar aquilo para tentar estancar o sangramento da banhista noturna lá fora, não creio que vá durar muito tempo. Preciso de algo para limpar a ferida, e também de algo mais resistente do que meras ataduras finas e miúdas.

   Me ajoelhei de novo na frente do pequeno armário, e vasculhei todas as prateleiras. Não encontrei nada que pudesse aproveitar, a não ser uma pomada para queimaduras. Estava em dúvida se iria fazer um efeito benigno ao ferimento da garota no lago, mas espero que funcione. Ou pelo menos retarde a infecção.

   Para cobrir e proteger de sua visibilidade à poeira e bactérias e germes no ar, resolvi que usaria as pequenas ataduras. Não cobriria todo o corte, mas pensei em colocar nos lugares que julgasse mais infeccionados. Só espero de ainda não se trate de um assunto hospitalar, porque o centro mais próximo estava a quilômetros de distância.

   Coloquei a pomada para queimaduras junto à bandeja. Fechei a portinhola do armário e segui banheiro afora, deixando a luz do cômodo ligada para mostrar parte do meu caminho.

   Estava provavelmente na metade do caminho de volta à passarela quando tudo ao meu redor ganha nitidez e brilho. A lâmpada, acima da minha cabeça, se liga em um fervor de brilho branco. Fiquei cego por alguns segundos, não para que minhas retinas se acostumem, mas sim por surpresa. Como aquelas luzes se ligaram sozinhas?

   -Lucas? - a voz da minha mãe foi ouvida atrás de mim. Fechei novamente meus olhos. Estava encrencado, já podia perceber isso. - O que está acontecendo aqui?

>>>

   Me virei lentamente, até estar de frente para minha mãe. Ela está de frente para a porta de seu quarto, que está entreaberta. Provavelmente meu pai deixou que ela resolvesse o problema dos barulhos constantes no meio da noite.

Sereia - A Prisioneira Da ÁguaOnde histórias criam vida. Descubra agora