A descoberta

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As vezes paro e me pergunto qual o momento no qual me descobri como submissa masoquista. Devo dizer que recentemente li sobre algumas coisas interessantes que me fizeram refletir. O que exatamente seria o meio bdsm? Onde eu me encaixo? Essas duas perguntas me instigaram e fui procurar suas respostas. Encontrei uma que aceitei como sendo a correta. Se no relacionamento há a definição clara de poder, ou seja, um comanda e o outro acata as ordens, é um relacionamento que se enquadra no meio bdsm. Há variados tipos de relacionamento dentro do bdsm.
No meu processo de autodescobrimento, me descobri masoquista (sente prazer ao receber dor ou humilhação) e me encaixei no meio bdsm por também me descobrir submissa (que se submete aos desejos ou ordens do Dominador). Voltando ao assunto inicial, não sei bem o momento exato em que fiz a transição do universo "baunilha" para o universo "bdsm". Em algum momento da minha existência percebi que o que eu vivia não era o suficiente para mim e comecei a procurar por mais. Comecei a descobrir o que gostava, o que me dava prazer e me sentia mergulhando cada vez mais fundo em um lugar desconhecido para mim e para a maioria das pessoas. Tinha por volta dos doze anos quando comecei a reparar no que gostava. Reparei que, quando conversava com as pessoas sobre alguns detalhes, eu precisava ser mais superficial para não assustá-las pois elas tinham sonhos e perspectivas diferentes demais das minhas. Enquanto eu gostava que me mordesse forte e que me apertasse contra a parede, me deixando imóvel, simples chupões eram motivo de inúmeras conversas animadas para elas. Eu não tinha a mínima noção de onde estava entrando, só sabia que queria estar ali e não em qualquer outro lugar. Não sei em que ponto comecei a pesquisar sobre o assunto. Ouvi informações de pessoas que tinham algum conhecimento a respeito de sadomasoquismo, mas eram muito imprecisos e questionáveis.
A Internet foi minha melhor amiga nesse descobrimento. Filtrei as informações de vários sites e de blogs de pessoas que se intitulavam pertencentes ao sadomasoquismo e afins. Ainda não conhecia o termo bdsm, ele é relativamente novo para mim. Descobri nesses sites uma lista incontável de "fetiches" e me enquadrei em alguns. Acho que o termo fetiche não é um termo certo para se usar aqui, já que, para a maioria dos praticantes, o universo bdsm é o único no qual mantêm relacionamentos. Eu, por exemplo, não consigo ter uma relação com um homem que não tem conhecimento da minha essência. Demorei para aceitar o que sou. É difícil você de repente descobrir que é diferente das outras pessoas em uma coisa que é impregnada de tabus como é o sexo. Pensei que poderia ser apenas uma fase ou que poderia viver sem adentrar em minha essência. Aos poucos percebi que não adiantava me revoltar, afinal, isso é o que sou. Não preciso gritar aos quatro ventos, mas também não preciso me encolher em um canto e chorar por ser assim. No final você descobre que tem muito mais possibilidades para experimentar do que as pessoas do mundo baunilha. Você descobre que as coisas podem ser muito mais interessantes.
A minha intenção aqui era dar uma introdução à "minha realidade" e ao "universo bdsm". Quero deixar claro aqui que tudo que escrever é com base em minhas experiências e em textos que li a respeito. Ainda me considero uma iniciante, por ainda ter tantas experiências para experimentar. Talvez eu seja uma eterna iniciante, quem sabe? Outra coisa: o mundo bdsm não é para curiosos. Se você está curioso, pode ler diversos textos e livros e ver filmes a respeito, o que vai te dar bastante informação e pode matar sua curiosidade. Você pode experimentar fingir uma sessão entre um Dom e uma sub ou uma Domme e um sub, mas apenas por brincadeira. Repito: Bdsm não é lugar para curiosos. A essência do bdsm é o respeito entre os parceiros e a segurança (SSC- são, seguro e consensual). Um Dom ou uma Domme tem total responsabilidade por seus subs antes, durante e após as sessões. Bom, não é para ser um sermão, é apenas um aviso. Ninguém deve ser privado de novas experiências, mas não entre em um universo do qual não sabe nada nada a respeito.

Relatos reais de uma submissaOnde histórias criam vida. Descubra agora