Vinte

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A partir do momento em que entrei naquele hospital, precisamente uma hora e vinte e seis minutos depois de saber a notícia, o mundo à minha volta mudou. Eu sabia que nada voltaria a ser como antes, e isso apertava fortemente o meu coração. Enquanto Zayn pedia o número do quarto de Harry, senti a minha respiração prender-se na minha garganta, dificultando a minha circulação. Senti o meu corpo tremer, como se o frio invadisse incessantemente o meu organismo, e eu fosse incapaz de me aquecer. As lágrimas lutavam contra a minha sanidade, implorando-lhe que lhes permitisse saírem e lhes desse a passagem para explorarem o meu rosto, o máximo de tempo, o quanto conseguissem. Fechei os punhos e concentrei-me em respirar fundo enquanto seguia as costas do moreno, e rezava ao máximo, para que Harry não estivesse tão desanimado como a minha mente exigia em fazer-me pensar.

Foi difícil manter-me positiva.

Mas eu mantive-me fiel à minha esperança e à minha positividade. Até ver a cara de Harry.

Dizer que doeu vê-la, é usar um eufemismo numa hipérbole. E saber que não podia fazer nada, foi o que mais me arrasou. Senti-me inútil, desprezível, sem sequer uma palavra para dizer. Senti-me calada. E essa é a pior sensação do mundo.

Não poder dizer as palavras que quero, no momento que eu as quero dizer, é a pior sensação do mundo. É como ser uma mobília inválida, sem valor. Que embora o dono a trate como lixo, ela não possa dizer nada. Mesmo que ela não sinta nada. Na verdade, foi um péssimo exemplo. Porque até mesmo uma mobília se sentiria melhor do que eu naquele momento.

A minha mente insistia em passar-me falas de conforto, insistia em obrigar-me a sorrir, e mostrar que estava tudo bem. Mas o meu coração não conseguiu mentir-lhe.

Era mau. Era muito mau, mesmo depois de Harry fazer a operação, ele ter aquela recaída. E eu senti que ele sabia disso, e que mais do que tudo, ele queria gritar. Oh se queria gritar.

E eu queria gritar com ele.

Pensei em pegar-lhe na mão, mas tive medo que ele a recusasse agarrar, que a rejeita-se. Pensei em olhar-lhe nos olhos, mas tive medo em mostrar-lhe o meu pânico através deles. Pensei em caminhar para junto dele, em sentar-me ao seu lado; mas o meu corpo simplesmente encontrava-se mais lento, mais incapaz, em relação à minha mente. Sabia que a minha circulação trabalhava demasiado rápido para o meu metabolismo, e que o meu organismo não aguentou a pressão da situação. Não sabia porque o meu corpo reagia assim. Parecia até um exagero, ficar daquela maneira, apenas por uma expressão.

Mas aquela não era uma expressão qualquer. Harry estava cansado. E eu, sem mais nem menos, percebi o porquê. Sem palavras, olhares, ou mesmo gestos; eu apenas compreendi tudo o que ele sentia. Embora o assunto fosse diferente, a expressão era igual. E naquele momento, eu senti pena por ele. 

Porque, uma pessoa que carregava mais amor em um sorriso, do que a maioria das pessoas em si próprias, não merecia aquilo que se estava a passar com ela. Gostava de poder levá-lo para um mundo secreto, e não o deixar olhar para trás. Não o deixar olhar para um mundo onde o seu sorriso, aquele pelo qual eu sentia orgulho, não iria existir. Porque eu não sabia se ia voltar a ver o Harry de sempre, se ele perdesse a capacidade de andar. Irei perder o Harry? Irei perder a personalidade que ele supostamente devia carregar até ao final da sua vida? Uma personalidade cheia de vida, que até onde eu sabia, conquistava a atenção de qualquer pessoa.

Naquela altura, eu tive medo por ele. Que ele se perdesse num lugar onde eu já me encontrei antes, e onde eu jamais o iria conseguir encontrar. Um lugar que eu sabia não ser agradável, e que me levou ao meu estado atual, em primeiro lugar. 

A minha cabeça só gritava perguntas, ao qual eu nunca poderia responder. 

A pessoa que sempre esteve presente para mim, precisava de mim? Era a única pergunta que martelava o meu ser. Eu não sabia o que fazer no momento, e sei que nunca iria saber o que fazer. Eu não sabia se ele precisava de mim, ou se eu desejava fortemente que ele precisasse de mim.

Eu apenas nunca pensei que naquele dia, tudo se desmoronasse completamente, como um vento forte que arrasta-se tudo à sua frente.

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Pequeno, sim, eu sei.

Está confuso? Se acharem que sim, por favor digam. Eu não estou a apressar a história, desta vez ela está a ir como eu quero que ela vá. Eu apenas preciso de saber, se precisam que explique qualquer coisa.. 

Mais uma vez demorei e sela, tenho que aprender de uma vez a calar-me e apenas escrever mais capítulos.

Aqui está mais um capítulo, para quem esperou por ele, espero que tenham gostado <3

Breathe || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora