"O que mudou naquele dia?" Hayes perguntou, lenta e demoradamente. Assim, como todos pareciam fazê-lo.
A pergunta fez-me engolir em seco com a resposta presa na minha garganta. As minhas mãos mexiam-se desconfortáveis e o meu coração sabia que algo estava errado. O que havia mudado naquele dia? Como explicar algo que nos quebra? Algo que nos impede de raciocinar com normalidade?
Eu mudei naquele dia. Não fisicamente. Mas as vozes na minha cabeça mudaram.
Parecem mais persistentes, mais zangadas - como se estivessem a tirar algo que era importante para elas. E talvez estivessem. Era complicado explicar. Era muito para dizer por palavras aquilo que eu apenas conseguia manusear por gestos.
Harry mudou naquele dia.
O tempo mudou naquele dia.
Niall mudou.
Zayn mudou.
Ellie mudou.
Todos mudaram.
Todos mudaram de uma maneira tão visível que chegava a ser torturante viver.
Harry já não é sorridente, Niall já não é engraçado, Zayn é na realidade optimista e Ellie já não é presente.
Passaram-se três semanas desde o acidente e Harry continuava sem sequer olhar para mim directamente nos olhos. Sempre que conseguia finalmente encontrar o seu olhar, Harry apenas não o sustentava. Sentia-me tão inútil. Harry era como uma droga que ninguém conseguia curar, eu estava literalmente viciada. Como algo assim consegue mudar tão rápido? Alguns dias é difícil enxergar se sou eu quem realmente não se encaixa na história, ou se apenas sou a única que realmente cumpre com o seu papel.
"Kyra?" Hayes inclinou ligeiramente a cabeça para baixo, a fim de encontrar o meu olhar.
"Tudo mudou naquele dia." Gesto ei secamente.
"Tudo o quê?" Insistiu.
Como quer que eu explique tudo? A palavra tudo diz exactamente isso! Tudo! Tudo mudou! Como não percebe? As vozes mudaram, Harry mudou, Ellie mudou, tudo mudou!
"Nada." Contraí o maxilar e contradisse os meus próprios gestos anteriores. Preferia descrever um nada, do que um tudo.
Olhou-me atentamente como se espera-se que eu voltá-se a gestoar exactamente o contrário do que havia gestoado anteriormente. Mas eu não me mexi. Sentia os meus lábios secos e desidratados, embora não precisasse deles para me fazer entender.
"Harry está melhor?" Perguntou, seguindo um caminho ainda mais obscuro do que aquele que a minha mente poderia ter planeado.
"Defina melhor."
Os meus olhos agora pareciam centrar-se mais no homem à minha frente do que estavam antes de aquela pergunta ser lida pelos seus lábios. Os meus dedos cerraram-se em um punho antes de cruzar as minhas pernas sem sequer desviar o olhar do seu cinza escuro, tudo o que eles conseguiam fazer parecer era uma grande tempestade a caminho. E eu sentia essa tempestade bastante próxima. Mais do que aquilo que eu gostaria de admitir. Mas eu bem sabia que nem os meus olhos iriam parecer o pôr do sol naquele momento.
"Digo, melhor." Pareceu provocar.
Ele está a brincar contigo.
Não demorei a desviar o olhar para algo atrás de Hayes.
Não precisas da simpatia dele. Tu precisas de um milagre.
Cerrei os olhos de maneira a que imagem sobre o ombro de Hayes melhora-se. Era visível. Fazia eco. E tudo o que eu conseguia perceber era o seu sorriso cínico, que por alguma razão brilhava sobre o seu rosto.
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Breathe || H.S
Fiksi PenggemarUma rapariga surda, e um rapaz numa cadeira de rodas. O que pode correr mal? --------------- Uma história onde claramente prova ser difícil perder hábitos aos quais o coração não se quer desapegar.