Quatro

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O meu coração prendeu-se na minha garganta. 

Instantaneamente retirei um dos fones dos meus ouvidos como se isso me ajudasse a ouvir melhor. A vida é mesmo irónica.

Os meus olhos a encara-lo.

Ele sorria, um sorriso torto. Mas sorria.

Rubor a subir pelas minhas bochechas.

"Olá." Percebi que ele dizia.

Abri a boca para retribuir o seu cumprimento; mas só consegui engolir mais ar. 

Tu não falas, a minha mente cuspiu.

Sorri nervosamente.

Peguei no meu caderno com uma certa rigidez. 

As minhas pernas estavam prontas a correr, mas os meus pés estavam decididos a ficar.

Permaneci sentada sem conseguir decifrar uma única palavra.

Ele arqueou uma sobrancelha. O seu sorriso a diminuir de dimensão.

"Não falas?" Os seus lábios deixavam escapar.

Exatamente

A minha mente corria. Como é que eu vou responder-lhe? Eu simplesmente... não consigo falar.

Não que seja muda. Mas é tão estranho não ouvir a minha voz, que, acabo por me tornar calada. Definitivamente.

Os meus dedos carregaram na estrutura do meu lápis.

Escreve, a minha mente ajudou.

Num impulso levei o meu olhar para o caderno branco rabiscado. 

'Não me apetece falar,' escrevi.

rasguei o pedaço branco entregando-lhe o de seguida.

Ele pareceu confuso, mas pegou no papel mesmo assim.

Os seus olhos pousaram em mim após ter acabado de ler o meu bilhete. Lançou a cabeça para trás em gargalhadas. 

Os meus lábios contorceram-se num sorriso pequeno.

Ele esticou o seu braço apontando para o meu lápis entre os meus dedos. Entreguei-o.

Não demorou muito até escrever-me uma resposta. Entregou-me o bilhete ainda a sorrir.

"Boa, nem eu."

Os meus lábios riram-se silenciosamente, sem noção. Olhei para ele. O seu sorriso ainda a brincar nos seus lábios rosados. 

Era sem dúvida o sorriso mais bonito que alguma vez encarei.

Numa tentativa de parecer divertida os meus dedos expressaram-se através do lápis devolvido.

'Então, vejo. Estavas numa de vires ter comigo para uma conversa fiada que não funcionou.' Devolvi-lhe o papel. Os meus lábios num sorriso brincalhão.

Este entregou-mo novamente com uma resposta.

"Estava numa de não ser apanhado." 

O meu sorriso aumentou ligeiramente.

Ele ria-se.

Gostava tanto de poder ouvir o som do seu sorriso. O seu tom de voz.

'Prevejo uma tentativa falhada.' Escrevi.

Não pensei poder ser nem um pouco divertida. Mas também nunca pensei estar numa situação destas. 

Uma rapariga surda que ainda não avisou ser surda; bem escreveu. O que faz o rapaz pensar que eu sou normal.

Breathe || H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora