Fingir que se está bem, sabendo que a palavra bem, é uma palavra bastante vaga; não é tão difícil como pode fazer parecer. Afinal, o mais difícil é encarar directamente nos olhos das pessoas. Se apenas sorrir e lançar uma piada seca, chegava a conseguir disfarçar o nó, que na realidade, nunca chegou a deixar a minha cabeça. Na aula de desenho, Niall quase foi um alvo extremamente complicado de se convencer do meu bem estar, mas um meio sorriso, e um rolar de olhos, chegou a concluir esse facto. Esse falso facto.
A minha mente, era um misto de vozes e pensamentos suicidas. Ou preocupava-me com a minha mãe e o Paul, ou apenas com o resto da minha família, que decidiu implantar-se na minha casa, e acusar a minha mãe do meu suposto 'mau' comportamento. Depois da minha saída naquela noite, as coisas ficaram piores, ao ponto de a minha avó pensar que ando rebelde. Quero dizer, jura? Era dramático. Ela era melodramática. Era desgastante. Chegava mesmo a pensar nas reações estranhas de Lisa, e o afastamento de Ellie em relação ao Nathan. Não que eu a pudesse julgar. Harry e eu também andávamos meio afastados. Engoli em seco, quando a imagem de Harry apareceu na minha cabeça. Faziam-se quatro dias desde o acontecimento no parque, e nem sinal de Harry durante o decorrer deles. E cada dia que passava, era um desafio ainda maior, não mandar-lhe uma mensagem a perguntar se estaria tudo bem.
Falar com Ellie sobre esse assunto, era o mesmo que fingir que eu ouvia o que eu dizia, que eu conseguia ouvir-me a mim mesma. Por isso, suspirei pesadamente, e arranjei coragem para fazer essa mesma pergunta a Zayn. Sim, a Zayn Malik.
"Posso perguntar à Kyla, se quiseres." Sugeriu, depois de negar-me que sabia. Demorei algum tempo a lembrar-me quem Kyla era, e quando o fiz, não me orgulhei assim tanto da minha memória ser de longo prazo. Neguei com a cabeça e Zayn riu-se. "Se realmente queres saber dele, eu posso perguntar, sem qualquer problema." Respondeu lentamente, de maneira a que eu conseguisse apanhar cada palavra sua.
Gostaria mesmo de responder que sim, que ele podia perguntar-lhe. Mas não sei se irritava-me mais o facto de ele ter mencionado o nome dela, ou se simplesmente, ela ser a única a saber dele, ser uma opção. Fiz uma careta involuntária com o pensamento.
Pensei que a esta hora, tu e o Harry já estivessem mais envolvidos.
Mordi o interior da minha bochecha esquerda e olhei diretamente para Zayn. Como se assim, a esperança de ter sido ele a falar, ainda pudesse ser uma esperança fiável. Mas quando Zayn apenas acendeu um cigarro perto dos seus lábios, essa esperança morreu. Não foi Zayn quem falou, e mesmo que fosse, os meus ouvidos nunca me permitiriam ouvi-lo. Os meus ombros caíram com a voz presa na minha cabeça.
Depois daquele episódio, em frente à porta principal da casa de Paul, eu não voltei a ouvir aquela voz. E fiquei desiludida por saber que ela não se havia ido embora, como eu pensei que ela o tinha feito à seis anos atrás.
Ainda nem um beijo nasceu do vosso amor. Porque achas que isso ainda não aconteceu?
Intensifiquei a mordida contra o interior da minha bochecha, sentindo o sabor metálico do sangue invadir o interior da minha boca, e olhei atentamente para Zayn. O meu olhar suplicava para que ele gestuasse ou falasse qualquer coisa, que me distraísse da voz infernal vinda da minha cabeça. Quando esse momento não chegou, vi-me obrigada a tocar levemente no ombro dele, e pedir-lhe que falasse com a amiga de Harry.
Quando os seus olhos claros, olharam directamente nos meus, encontrei-me a engolir em seco e assentir. Ele demorou algum tempo a perceber o porquê de eu estar a assentir, mas logo percebeu que eu queria que ele falasse com ela, mesmo que isso me custasse um pouco do meu orgulho. Eu queria saber como Harry estava, e nada era mais insuportável que não saber de nada.
Quando finalmente pegou no seu telemóvel, e, pensei eu, enviar a tal mensagem a Kyla, eu apenas sentei-me ao seu lado e concentrei-me nos meus pés. Comecei a batê-los um no outro, não aguentando ficar quieta.
Inspiro e expiro lentamente, repetindo o processo novamente, e, infelizmente, sem conseguir evitar a minha mente de vaguear por entre os meus pensamentos mais inseguros. Embora eu não quisesse admitir, tornava-se impossível não o fazer. Aquele eu, que antes se encontrava disfarçado, e que desde a noite do parque, decidiu invadir a minha mente com verdades dolorosas, falava a maldita verdade. Por quanto tempo mais eu e Harry iríamos continuar neste impasse? Não devia ser como nos filmes? Não deviam de passar dois meses, e o nosso amor crescer e florescer, e quando não aguentássemos mais, explodíssemos todos os nossos sentimentos para fora? Porque é tudo bem mais complicado do que isso? Alguma vez terei coragem de admitir cada pedaço dos meus sentimentos, a ele?
Terei coragem de admitir, perante os seus verdes olhos, que cada dia que passa, eu mais quero agradecer-lhe por tudo? Por me fazer aguentar mais o meu pequeno mundo solitário e mudo. Por conseguir sorrir sempre que ele apenas passava pelos corredores, ou almoçava em uma mesa próxima da minha? Como é suposto eu aguentar todas as minhas vozes mentais, gritarem comigo, sempre que a sua pele roça na minha?
Involuntariamente, o meu lábio levantou um canto, e revelou-me um meio sorriso, torto e desajeitado.
Será que nunca tive apaixonada antes? Não. Eu já estive apaixonada antes. Uma pequena paixão de criança. Mas desde o início da minha adolescência que estive demasiado ocupada a pensar na minha infeliz sorte, por não conseguir ouvir o mundo reclamar com a vida, que não tive tempo de me apaixonar novamente. O que foi parvoíce minha, pois estar apaixonada é uma sensação linda, e ao mesmo tempo, devastadora.
De repente, senti um encontrão no meu ombro direito, e não consegui evitar olhar para a fonte. Zayn sorria torto e mostrava-se divertido.
"Um dólar pelos teus pensamentos." Disse. Lenta e demoradamente, para que a surda conseguisse perceber labial mente tudo o que ele dizia. Demorei algum tempo a responder, mas logo peguei no meu telemóvel e escrevi uma breve nota.
'Um dólar não chega.'
Zayn respirou fundo e encarou seriamente o meu rosto. O que me deixou demasiado desconfortável, e obrigou-me a corar involuntariamente. Malditas bochechas rosadas.
Sem mais nem menos, uma mão agarrou o meu queijo, obrigando-me a olhar directamente nos olhos do moreno. Engoli em seco e respirei com dificuldade, enquanto segurava o seu olhar por mais quatro segundos, entes de desviar a atenção para o seu telemóvel, preso na sua única mão livre, e o ver brilhar. Sem esperar mais por momentos embaraçosos, apontei para o seu telemóvel, ganhando a sua atenção. O facto de o objeto ter brilhado, indicava mensagem recebida, o que podia significar que Kyla havia respondido à sua mensagem sobre Harry.
Zayn levantou uma das suas sobrancelhas enquanto lia a mensagem recebida.
Olhei com expectativa para ele, e esperei ansiosamente que algo saísse dos seus lábios. E assim Zayn o fez, e foi por isso que os meus ombros caíram quando ele revelou que Harry voltou a sentir aquela dormência perturbadora nas pernas, e que deu entrada no hospital na mesma noite em que aquela pequena voz infiltrou a minha sanidade. E, mais uma vez, igual àquela noite, eu esqueci-me de como é que se fazia para respirar. A diferença, é que desta vez, aquela voz não interrompeu o meu horror.
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Mais uma vez, desculpem a demora!Votem e comentem, embora eu não mereçaa.
Peace**
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Breathe || H.S
FanficUma rapariga surda, e um rapaz numa cadeira de rodas. O que pode correr mal? --------------- Uma história onde claramente prova ser difícil perder hábitos aos quais o coração não se quer desapegar.