Férias parte III- A flor da pele.

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      Não sei o que me deu. Eu sentia meu coração palpitar, sentia um frio no estômago e sentia como se fosse explodir... claro, isso é logicamente impossível, mas mesmo assim é como se lógica nem mesmo existisse mais.
      Para pagar a promessa do encontro, Takashi resolveu que poderíamos apenas fazer uma caminhada noturna ao redor da casa. Um pedido muito simples vindo de alguém que estava tão animado, mas claro que isso me deixa mais tranquila.
      Por algum motivo, Reiko insistia em me fazer vestir um vestido, não é como se fosse totalmente necessário, ainda mais nesse lugar frio. Apenas vesti qualquer coisa e voltei para a varanda. Claro que ele ainda estava lá, encarando o céu. Ele parecia bem feliz com um sorriso enorme estampado no rosto. Me recuso a acreditar que eu seja a causa de um sorriso daqueles, isso seria totalmente estranho.
      -Ah Ri-Chan!- Ele disse se virando ao notar minha presença.
      -Uh... oi...- Digo.
      -Então vamos? Vai ser como aquela vez na viagem escolar, quando saímos a noite para achar uma trilha.- Ele diz rindo.
      -Sim eu sei.- Digo e sigo ele. Saímos da casa e começamos a andar por volta dela. Ele olhava para o chão, para mim, para o céu, mas não dizia uma palavra. Não faço a minima ideia de como um encontro deveria ser, mas sinto que não é assim.
      -Uh... Takashi, eu não sei se ficar andando a noite assim seja uma boa ideia.- Digo e então ele para.
      -É... você tem razão. Na verdade não faço ideia de como é um encontro.- Ele diz com a cabeça baixa passando a mão pelo cabelos.
      -Eu sei menos ainda...
      -Tenho certeza que lá dentro deve ter alguma vista mais... apropriada.
      -Uh...  tá certo.
      Quando concordei em entrar na floresta,  só não imaginava que iríamos ficar perdidos! Claro que dá última vez que entramos na Mata,  foi o senso de orientação de Heyji que nos guiou,  mas agora estamos realmente perdidos!
      -Como vamos sair daqui? - Pergunto já depois de algumas voltas.  Ele ainda mantinha a pose de quem sabia exatamente o que estava fazendo.
      -Na verdade não vai ser tão difícil. Vamos ficar caminhando, afinal um encontro fica mais bonito aqui.- Ele diz e eu apenas fico calada e o sigo.
      Não sei o que deu na cabeça dele para me arrastar para a floresta, já que nem mesmo ele sabe como sair daqui. Por enquanto eu estou tentando manter a calma, mas a questão é que foi deixado claro quando Reiko disse "Vocês tem uma hora para voltar" que se nos perdermos, quem vai perder a cabeça é ela.
      Continuamos andando, e mesmo não sabendo nada sobre encontros, sei que esse deve estar sendo um desastre. Notei que já havia passado muito tempo, sem que eu percebesse Takashi já estava segurando minha mão, e talvez o medo de acabar sozinha naquele lugar me impediu de soltá-lo.
      Com certeza já haviam se passado uma hora, ou mais. Reiko já deve estar nos procurando ao redor da casa, já deve estar preocupada, e eu aqui perdida no meio do mato.
      -Podemos parar pra descansar...- Ele diz.
      -Claro.- Disse e me encostei numa arvore.- Por que me trouxe aqui?
      -Não sei... só acho que eu queria um lugar para conversar com você.
      -Conversar o que?
      -Tudo... Mas isso não importa. Deu errado, e agora estamos perdidos por causa de uma ideia estupida que eu tive.
      -Sim. Mas não adianta ficar reclamando agora.- Disse e voltei a me levantar.
      -Tem razão!
      Voltamos a andar, e notei que a noite estava ficando cada vez mais escura, o que eu achei que fosse impossível. Agora realmente posso dizer que odeio estar ligada à natureza dessa forma. Já estava muito escuro, eu mal podia ver o rosto do garoto que me guiava, sem mencionar que já estava muito frio. Sentia meu braço congelando (já que Reiko não permitiu que eu viesse com um moletom). Novamente paramos, ele se virou para mim e ficou me encarando. Eu mal podia ver seu rosto, mas senti que ele não estava sorrindo.
      -Me desculpa... mesmo.
      -Olha... tudo bem, não tem problema...- Disse e comecei a pensar que na verdade tinha problema, estamos perdidos no escuro e no frio! Mas por algum motivo eu não me sinto confortável em dizer isso a ele.
      -Não... veja só, você está congelando.- Ele disse passando a mão pelo meu braço, o que me fez arrepiar mais ainda. Pude vê-lo tirando a blusa e a jogando nas minhas costas. Tento olhar para seu rosto mas me parece que ele está com a cabeça baixa.
      -Por que...
      -É o mínimo não acha?
      -Takashi...- Digo tentando entender o que acontece com ele, que estava tão animado a pouco tempo e agora está quieto...
      -Eu só sinto muito por ter estragado tudo.
      -Sobre o que você queria conversar?- Já mudo de assunto.
      -Não é nada.
      -Você está ficando estranho... tão estranho quanto a Yuno.
      -Talvez eu esteja.
      -E por que?
      -Quer saber por que? Por que eu vi. Por que mesmo não querendo pensar nada, eu não consigo parar de pensar nisso. Mesmo que eu ache que a Yuno tenha sido mesquinha em agir daquela forma, eu não posso evitar de estar com raiva!- Ele disse. Então era isso...- Eu queria te contar tudo, tudo o que eu sinto de verdade. Sinto que Ri-Chan é muito importante para mim, mas agora eu me sinto tão triste. Triste por que querendo ou não eu estou de fora... você nem ao menos me chama pelo nome!- Ele dizia aos berros, parecia realmente magoado, e tudo o que eu pude fazer foi ouvir tudo aquilo em silencio tentando compreender o que estava havendo.
      -Takashi eu...
      -Viu? Continua me chamando assim. Até mesmo a Reiko me chama pelo nome, e você não. Pode parecer ridículo mas eu me importo com isso.
      -Agora você vai me escutar!- Grito o calando.- Estou ouvindo tudo o que você esta me falando, certo! Mas está sendo mais mesquinho do que Yuno agindo assim. Se está bravo, não esconda isso, venha direto dizer qual é o problema. Não sabe o quão duro eu estou dando para entender vocês... vocês são complicados, vezes riem e outras vezes choram e agora estão com raiva. Eu estou com raiva! Tem coisas horríveis acontecendo comigo e vocês ficam guardando suas mágoas e depois descontando em mim!- A esse ponto eu já estava chorando, sinto que ele estava me encarando tentado entender o que estava havendo comigo.
      -Mas por que... por que o Heyji...
      -Por que vocês não tentam entender?! Eu não deveria explicar nada por que essa ideia por si só já é ridícula. Ele estava apenas sendo mais humano e me consolando por algo que eu não sou obrigada a lembrar. Tem coisas horríveis acontecendo comigo, e parece que ele foi o único que reparou nisso... Mas isso não dá créditos à ele. Eu só quero que as coisas voltem ao normal!- Disse dando meia volta.
      -Ri-Chan...
      -Eu vou sair daqui por conta própria!
      -Ri-Chan! Espera!- Ele disse andando atrás de mim, mas continuei andando em passos rápidos.- Ri-Chan! Cuidado com o...- Ele dizia mas de repente não ouvi mais nada. Naquele passo senti que não havia mais chão e me vi caindo. Era isso... "cuidado com o barranco" foi o que ele havia dito, mas eu estava com a cabeça cheia de mais para sequer pensar em ouvi-lo. Estava tudo em câmera lenta, claro. Via meu corpo ser puxado para baixo pela força da gravidade quando sinto algo me envolvendo por trás e me protegendo do possível impacto.
      Era ele. Ele me viu caindo... e ao invés de ir embora ou apenas ficar olhando, ele pulou por mim, pulou me abraçando e me protegendo. Por um instante, consegui ver seu rosto tão perto do meu. Seus olhos brilhando cheio de lágrimas e do nada em seus lábios um sorriso tão grande que quase encobria as palavras que ele sussurrou. "Eu realmente te amo muito"; dizendo isso, pude ver as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e de repente ele afunda minha cabeça em seu peito e me abraça ainda mais forte. Eu pude sentir seu cheiro... tão doce e tão forte...
      O efeito de câmera lenta passou. Pude sentir o medo, desespero e a surpresa passando por todo o meu corpo. Tão rápido, senti o primeiro impacto. Ouvi sua voz num grito de dor, e me desesperei ainda mais.
      -Takashi!- Gritei desesperada e pude ouvir um gemido baixo misturado com um "Tudo bem... estou bem."
      Outro impacto. Outro grito. E mais lágrimas minhas escorriam. Ele se jogou me protegendo, está sofrendo e o que eu fiz? Eu o tratei tão mal... agora eu me sinto tão mal...
      Se passaram mais três fortes impactos até que paramos de cair. Quando finalmente ficamos fora de movimento, apenas fiquei deitada sobre seu peito. Talvez o medo de me levantar e ver que algo horrível possa ter acontecido não me permitiu levantar a cabeça. Mas foi inevitável me levantar quando senti suas mãos, que antes agarravam minhas costas com tanta força, caindo.
      -Takashi...- Sussurro e ele nada me responde. Paro sentada ao seu lado e vejo que ele está desacordado.- T-Takashi....- Digo colocando as mãos em sua cabeça e me assusto ao ver que saia sangue.- N..não... por favor... acorda...- Disse em meio a soluços. Ele estava desacordado, sujo e todo ferido... estava praticamente morrendo, e por minha culpa!
      Sinto um aperto no peito, um vazio, uma tonelada de lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Meu corpo dolorido não se comparava com a angustia que eu estava sentindo. Pensar que ele... que ele poderia morrer era tão absurdo, tão errado... eu sentia que tudo estava errado, que tudo estaria errado sem ele... eu não sei mais o que estou pensando... Takashi... eu sinto que ele agora é tão especial para mim... penso em como tudo seria diferente sem ele e eu não posso mais imaginar estar sem ele. Ele me ama, ele realmente se jogou para me salvar e agora está aqui, morrendo. Não... eu não me conformo em dizer isso, é tão absurdo quanto a ideia de perder Reiko.
        -Takashi...- digo mais uma vez, mas dessa eu o seguro no rosto encostando nossas testas.- H..Haru... por favor... Haru, acorda.- Dizia baixo. Dizia seu nome. Senti que agora eu queria dizer esse nome. Haru, eu realmente gosto desse nome.- Por favor... eu... eu te amo Haru. Não faça isso! Me desculpa! Acorda, por favor acorda!- Comecei a erguer a voz. De repente ao fundo, ouvi passos rápidos.
      -Hisui!- Ouvi uma voz gritando de longe. De relance vi que Reiko, Kouji, Yuno e Heyji vinham correndo em nossa direção. Não mais de um metro de distancia, eles pararam e ficaram nos encarando. Os olhos de todos aumentaram de tamanho surpresos e assustados. Heyji apressou seu passo e correu até nós.
      -O que houve?!- Ele gritava encarando o irmão. Eu não dava a minima para o que ele estava falando, apenas continuei chorando e dessa vez me joguei ao lado do garoto desacordado deitando minha cabeça em seu peito.
      -Haru...- Chorava ainda mais.- Por favor acorda... Haru eu... eu te amo...- Disse e por um instante senti que os ali presente estavam surpresos com o que eu dizia.
      -O que houve?- Reiko perguntou já se juntando a Heyji.- Hisui... você está bem...- Reiko disse colocando sua mão em meu ombro mas a tirei rapidamente. Tanto pela dor que senti no lugar, quando pelo desespero que eu estava sentindo.
      -Para! Ele... ele está morrendo!- Disse chorando olhando para eles que me encaravam com pena, e voltei a encara-lo.- Haru...- Disse por fim antes que tudo se apagasse. Não senti mais força para sustentar meu corpo de pé e tudo o que eu pude ouvir foi as vozes gritando meu nome.

Nota da Marce: Aguentaram ler até aqui? Bem... eu não sei como vocês se sentiram, mas sei que eu terminei esse capitulo com lágrimas nos olhos. Talvez possa ser exagero meu, e nem esteja tão emotivo assim, mas espero que tenham gostado. 

Apenas outro conto shoujo! [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora