Como a Neve - Heyji

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      Ela estava desesperada. Não vou dizer que estou completamente surpreso com isso, mas esperava que Hisui pelo menos fosse manter um pouco a calma. Engano meu. Maria era sim assustadora, a forma fria e calculista com que ela agia sempre me assustou desde criança, mas eu imaginei que Hisui fosse saber lidar com a situação. Mesmo parecendo ser forte, ela nunca teve que lidar com situações reais até Haru entrar em sua vida e começar toda essa confusão.

      - Pra que toda essa demora? - ficar desacompanhado na casa de outra pessoa não era bem a coisa da qual eu mais gostava. Me levantei e andei até o corredor na esperança de ver a anfitriã chegando com o único copo de água que pedi, mas aparentemente a Senhorita Naome gosta mesmo de me deixar na mão. Olho pela janela do quarto e vejo a garota saindo correndo pela porta principal. Mas que raios ela está fazendo?
      -Hey! Sua estranha! Que merda está fazendo? Eu só pedi um copo d'água! - Grito e ela me encara, parecendo ofegante.
      -Tenho assuntos pra resolver agora. Só me faça um favor e tome conta do fantasma na sala, pode beber quanta água quiser mas agora eu tenho que ir! - E lá estava eu, sozinho de novo. Mas o que ela quis dizer com fantasma? Ando até a sala e fora a casa estar completamente vazia, tudo está normal. Tudo está... - Puta merda! - Disse dando um pulo como se estivesse vendo um fantasma. A pequena criatura pálida e com um olhar mórbido continuava me encarando e tudo no que eu conseguia pensar era: "Que diabos uma criança está fazendo aqui?". Nos encaramos por um tempo e por fim, como se pudesse ler minha mente, ele apenas apontou para alguns papéis na mesa de centro.
      - Yukine Hitori. Então a velha mal amada adotou você? Que azar hein... Bem, você já é grandinho então não precisa de babá, estou certo? Eu também não vou receber nada por tomar conta de um pirralho, então deixamos do jeito que está. - Digo sem ouvir nenhuma resposta do anão em minha frente. Ah, eu odeio crianças, principalmente as burras. Vou até a cozinha e me sirvo com algo mais saboroso que encontrei na geladeira. Ao fechar a porta branca, dou de cara novamente com a pequena criatura.
      - Por céus garoto! Qual o seu problema? - Pergunto já irritado, é tudo o que ele faz é apontar para a torta em minhas mãos. - O que foi? Acha que eu não deveria comer isso? Não é minha culpa se a dona da casa me deixou sozinho e com liberdade para desfrutar da cozinha. - Ele novamente permaneceu em silêncio. Esse garoto realmente fala a minha língua? Pois estou tendo sérias dúvidas disso. - Qual o seu problema então? Está com fome? Vem, come um pedaço também. - Digo nos servindo e pela primeira vez ele começa a fazer algo normal que não me assuste. Na primeira garfada senti algo estranho, na segunda pude ver que o garoto já havia parado de comer, na terceira comecei a processar a merda que estava acontecendo e depois da quarta me apressei em cuspir aquela coisa.
      - Mas quem fez isso? Que horrível! Só pode ter sido a ruiva sem cérebro. O que eu fiz de tão ruim pra ser castigado assim?
      - A ruiva não sabe cozinhar. - Ele disse, pela primeira vez.
      - Não mesmo. Ela é péssima. Pelo que eu vejo, fora as habilidades sociais ela é ruim em tudo. Enfim, estou sem nada para fazer então me conte pirralho, como veio parar na família mais anormal de Tokyo?
      - Meus pais morreram.
      - Mas isso é óbvio. Você foi adotado, então ou foi abandonado ou é órfão. Continua.
      - Eu conheci a Reiko no Hospital.
      - E então ela resolveu te levar para casa. Aish, essa mulher não pensa mesmo...
      - Reiko tem sido boa para mim. - Ele diz. Eu tenho certeza que sim. A mulher está morrendo sem nem ter construído uma família, ela está tão desesperada que nem ao menos pensou em como o garoto iria se sentir. Ele perdeu os pais, está se acostumando com a bruxa e depois vai perde-la também, por que raios ela resolveu cuidar dele?
      - Vou te dar uma dica, pirralho. Não se apegue de mais. Pessoas vão embora, e pessoas morrem. Principalmente quando estão doentes.  No meio disso você só se machuca.
      - Não acho que tenha como eu me machucar mais do que isso. Meus pais morreram.
      - Os meus também, e veja só como eu sou. Você não vai querer crescer e ser igual a mim.
      - Você não pode justificar o fato de ser uma má pessoa com a morte de alguém. - Ele diz sem me olhar nos olhos. No fim das contas, ele não é uma criança tão burra assim.
      - Eu sinto muito, pelos seus pais.
      - Eu sinto muito pelos seus, e por você.
      - Eu também. Vou te dar uma dica, que dei a pouco tempo atrás para uma garota impertinente: Chorar não te torna mais fraco. Você ainda é novo, tente chorar um pouco ao invés de guardar pra você.
      - Cheguei com um bolo para você Yuki! - Ouvimos a voz de Reiko entrar na cozinha. Ela certamente se surpreendeu ao me ver. - Oh, o que faz aqui Heyji-Kun?
      - Vim falar com a Naome mais nova, mas ela saiu correndo por algum motivo. Bem, não a culpo por ser estranha.
      - Yuki, não fique perto deste garoto. Ele é uma má influência. - Ela tentava sussurrar para o garoto, me ignorando completamente. Essa mulher é pior do que uma criança.
      - Eu já vou indo. Sei quando não sou bem vindo. Pense no que eu disse, pirralho.
      - Vou pensar. - Ele disse. Eu estava prestes a sair da casa quando ouvi sua voz fina me chamando. - Até mais, Heyji.

      Ele não era exatamente uma criança burra, se fosse eu não teria trocado mais do que duas palavras com ele, e pode acreditar quando digo que essas palavras seriam "cai" e "fora". De certa forma, ele se parece comigo. O jeito quieto, as respostas afiadas, a tristeza... Foi impossível não me lembrar daquele dia.

      Estava nevando, Haru nunca havia visto a forma como a neve transformava toda uma paisagem, e nem como nossa cidade era linda naquela época do ano. Haru nunca havia atravessado o limite do grande portão da mansão Takashi. Queria que ele tivesse visto aquela paisagem em outra situação.
      No velório estavam presentes pessoas que meu irmão e eu nunca havíamos visto antes, inclusive uma pequena garota com cabelos tão loiros que se igualava à cor da própria neve, ao que me parecia ela era filha de um dos maiores sócios de meu pai. Maria, naquela época parecia tão inofensiva e delicada ao ponto de eu não me preocupar muito. Naquele dia, as pessoas presentes, na verdade, pouco me importavam. Mamãe... As coisas ficaram cada vez mais difíceis sem você. Haru ficou cada vez mais difícil sem você. Eu fiquei cada vez mais difícil sem você.





      E depois de muito tempo, a peregrina retorna ao lar!!!!! Como vão vocês, melhores leitores do mundo???? Imagino que alguns tenham desistido de mim (e eu não os culpo) mas como eu sempre digo, eu vou demorar mas sempre vou voltar! Não tenho justificativas dessa vez, apenas o fato do Kpop estar acabando com a minha vida e me prendendo no mundo de fanfics de idols (Park_Mai pra quem ainda não viu). Bem, eu já terminei meus rascunhos de AOCS e fico feliz em anunciar que segundo meus rascunhos vamos ter uma segunda temporada emocionante, sim, ainda mais emocionante do que essa. Bem, eu notei que as visualizações aqui passaram de 8K (É ISSO MESMO PRODUÇÃO????) e fiquei me perguntando "será que eu faço algo de diferente? Alguma interação? Ou eu deixo como está mesmo?" Por isso lhes pergunto: O que acham? Um "personagens respondem suas perguntas", ou "fatos sobre a história" ou "autora responde" ou simplesmente não fazemos nada e só continuamos com a história normalmente? Bem, vocês decidem!

Até a próxima Att <3
    

Apenas outro conto shoujo! [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora