[One]

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A minha vida resume-se a falsas aparências, tudo para passar uma boa imagem tanto aos membros da casa branca como á população americana.
O meu nome é Malia Obama, perdi a minha mãe e a minha irmã quando tinha apenas dez anos de idade...
A Sasha na altura tinha nove anos quando sofreu um ataque cardíaco, que devido ao facto de não ter sido socorrida a tempo, acabou por morrer e passado duas semanas da sua morte a minha mãe suicidou-se e eu nunca mais fui a mesma!
Hoje tenho 17 anos e sou apenas a filha única do presidente dos Estados Unidos.
Sou mais reservada que a maioria das raparigas da minha idade e se há coisa que mais odeio, é de transparecer os meus verdadeiros sentimentos. Tudo isto, para evitar preocupações desnecessárias e sei que já se passaram 8 anos desde que as mulheres mais importantes da minha vida se foram, mas eu irei chorar todos os santos dias ao relembra-las e todos os momentos que passámos juntas!
O meu pai antes de tudo isto acontecer era o homem mais extrovertido aqui da casa branca e ainda o é, mas sinto que algo mudou, mas é claro que mudou...
Eu fiquei sob depressão durante 6 anos consecutivos e só á pouco tempo é que me consegui recuperar minimamente, mas sinto que ainda falta um pedaço do meu coração, ou melhor falta-me mais de metade.
O meu pai, deixou de frequentar os espaços, onde passávamos tempo em família e até com amigos. Deixou também de dar aquelas palestras que costumava dar juntamente com a minha mãe e chegou mesmo a deixar de entrar no quarto onde a única mulher que ele alguma vez amou passou a sua última noite.
Sei que por detrás daquele sorriso genuíno está uma mágoa inimaginável e ele apenas continua a sorrir por mim..
Na altura o governo americano deu-lhe a oportunidade de rescindir do cargo, pois julgavam que ele não se encontrava em condições, para continuar na sala oval e até eu mesma duvidei que ele continuasse. Porém, ele fez questão de honrar a promessa que há muitos anos atrás fez à minha mãe que se baseava em nunca largar o cargo, seja em que situação fosse.
Hoje sinto que as pessoas olham para mim com pena e falam comigo como se eu estivesse quase a morrer, eu percebo perfeitamente, mas acho um absurdo tratarem-me como se eu fosse um objeto de vidro.
O relógio já marcava 12H, saí do meu quarto e encaminhei-me até ao jardim traseiro da casa branca, onde se encontravam as duas campas lado a lado.
Ajoelhei-me perante as mesmas e como sempre e contei-lhes todas as novidades, inclusive que estava prestes a terminar o secundário de direito.
"Menina Obama, o seu pai está a chama-la!" Anunciou o Carter, um dos seguranças, alguns minutos depois.
"Bom dia Claire!" Disse á secretária do meu pai, assim que cheguei à ala este.
"Bom dia Malia, estás com bom aspeto!" Retribuiu ela, com um sorriso.
Assim que entrei na sala oval, o meu pai estava tão vidrado naquilo que estava a fazer que nem reparou na minha presença.
"Bom dia senhor presidente!" Ele retirou os óculos e encarou-me com um sorriso.
"Bom dia menina Obama!" Este jogo de formalidades, na verdade tem a sua graça.
"O que queres que eu faça hoje?" Perguntei com uma cara de tédio, atirando-me para o sofá de centro.
"Eu não te chamei para te dar ordens!"
"A sério? Até parece um sonho!" Disse arregalando os olhos.
"Daqui a uma hora vamos ter um almoço com o comandante das forças armadas Jake Ballard e eu gostaria muito que estivesses presente!" Bufei com aquilo que ele acabara de dizer e não pude deixar de replicar:
"Mais um almoço com um velho barrigudo? Já estou farta de ficar a fazer de emplastra nesses almoços!" Ele gargalhou e disse:
"Malia é mesmo importante! Preciso da tua presença!"
"Que chato que me saíste meu Deus!"
"E nem penses em levar o telemóvel!"
"Então o que sugeres que faça?"
"Pelo menos finge que estás interessada no assunto!"
"Que tortura!" Suspirei.
"A vida na casa branca é mesmo assim querida!"
"Maldita seja esta casa!" Ele apenas gargalhou.
"Não te preocupes que este é o meu último mandato!"
"Já não era sem tempo!" Exclamei, revirando os olhos.
"Vai-te por favor, preparar para o almoço e vê lá se penteias essa juba!"
"Eu muito bem assim, obrigada!" Disse apontando orgulhosamente para o meu outfit que se baseava numas leggings e uma t-shirt branca.
"Não vou voltar a repetir, Malia Ann Obama!" Odeio quando ele pronuncia o meu nome completo! Bufei umas 20 vezes e saí da sala batendo o pé fortemente no soalho.
"Malia!" Disse a Brenda atrás de mim com o seu sorriso matinal.
"Bom dia Beh!" A Brenda é como se fosse uma assistente que me ajuda a tomar qualquer tipo de decisão importante, mas sinceramente, eu vejo-a mais como uma irmã mais velha.
"Já soube do almoço e sei o traje ideal para levares!" Disse ela radiante.
"Eu já estou vestida, não te dês ao trabalho!" Respondi atirando-me para a cama.
Ela gargalhou e disse:
"Mas tu queres mesmo conhecer o comandante das forças armadas a parecer uma sem abrigo?"
"E esse comandante é feito de quê? Ouro?" Ela limitou-se a sorrir e disse:
"Logo verás Malia... Agora mete isto e depois chama-me para eu tratar desse cabelo!" Disse ela saindo do meu quarto.
Encarei o vestido por longos minutos e sabem quando vocês estão com aquela preguiça tão aguda, que apenas vos apetece atirar para o chão e adormecer eternamente? Pois eu estou a passar por uma crise dessas!
Acabei por cair redondamente no chão, visto que a cama estava a mais seis passos de mim e sinceramente não me apetecia percorre-los.
A porta abriu-se novamente e aquela voz suave agora estava transformada:
"Malia!!!!!"
"Diz ao senhor presidente que a sua herdeira está a ter uma convulsão e que não conseguirá comparecer ao seu almoço secante!"
"Infelizmente sei que isso é uma farsa das grandes , por isso levanta-me esse rabo e veste-te ou se preferires visto-te eu como se tivesses 5 anos!" Dei um grito de quem está em sofrimento e levantei-me, mas cambaleei para o chão outra vez.
"Deixa de ser dramática!" Disse ela levantando-me.
"Ás vezes só gostava de ser uma americana normal! Sem casa branca, nem câmaras!"
"Eu sei, eu sei, mas este é o ultimo mandado de quatro anos, passa rápido não te preocupes!" Bufei ao pensar que ainda faltavam 4 anos para finalmente sair daqui...
E com muito esforço e batalha vesti aquele vestido cereja cai-cai e uns saltos pretos.
"Custou muito?"
"Demasiado até!" Atirei e ela sorriu.
Ela retirou-me o elástico, revelando aqueles caracóis selvagens, meteu uma loção para o deixar com menos volume, deixando-o solto e agradeci mentalmente por isso!
Quando finalmente já estava aprontada, deu-me uma vontade enorme de me atirar para o chão novamente.
"Nem penses!" Atirou a Beh, como se me tivesse lido a mente.
Saí do quarto acompanhada por ela e fui logo para o 2º piso, para a grande sala, onde o meu pai costuma organizar os almoços mais importantes. Eu raramente lá estou metida, só quando há um grande evento ou algo do género, porque de resto costumo almoçar na sala de jantar de família, que é bem mais pequena e acolhedora.
Deparei-me com vários homens a conversar e tal como suspeitei... Velhos gordos e barrigudos!
Fui em direção ao meu pai e este sorriu lançou-me um sorriso.
"Querida este é o Jake Ballard, comandante das forças armadas." Quando olhei para o tal Jake, podem ter a certeza que o meu queixo caiu automaticamente e eu só espero que ninguém tenha reparado na cara minha cara de parvinha.
"Prazer comandante!" Disse apenas, estendendo a mão e aqueles olhos verdes penetrantes, encararam-me com suavidade
"Prazer menina Obama! Da última vez que a vi tinha apenas 14 anos, cresceu tão rápido." Corei completamente com a sua afirmação e a vergonha apoderou-se do meu ser, quando me dei conta que ele tinha conhecido, aquela adolescente Malia, cheia de acne.
Fiquei sem resposta e o meu pai finalmente acabou com o silêncio constrangedor e eu agradeci mentalmente por isso.
"De facto os anos passam a correr ainda há pouco tinhas tu 18 anos e agora és o comandante das forças armadas." Ele sorriu, desviando por fim o seu olhar de mim.
"É verdade Barack!" De facto, estranhei a forma dele tratar o meu pai com tanta intimidade, porque toda a gente o trata por senhor presidente, nunca por Barack...
"Vamos para a mesa!" Anunciou por fim.
O meu pai ficou em frente a todos nós, na extremidade da grande mesa retangular e eu fiquei ao seu lado numa das laterais.
Apesar da distância a que me encontrava do Jake, sentia os seus olhos vidrados em mim, o que deixou deveras desconfortável. Limitei-me a beber um golo de água, para disfarçar e fingi estar a ouvir atentamente a todas aquelas conversas sobre política..
De repente comecei a sentir o ar a escassear e caso ainda não tenha referido, eu sou asmática. Levantei-me, bruscamente da mesa e dei graças a deus por todos estarem tão envolvidos naquela conversa e não terem reparado quando saí a correr.
Dirigi-me de imediato para o posto 1 do 2º piso, onde se encontravam todos os primeiros socorros que eu precisava.
Peguei na bomba e inalei três vezes até recuperar o fôlego, mas enrijeci e o meu coração parou, assim que senti uma mão a tocar-me nas costas expostas e estremeci.
"És asmática?" Perguntou aquela voz profunda.
"Sim.." Virei-me dando de caras com o Jake que transparecia na sua expressão, uma certa preocupação.
"Estava um calor horrível na sala e eu fico sempre assim, quando frequento espaços idênticos.." Ele sorriu e disse:
"Já ligaram o ar condicionado.." Assenti com a cabeça e fixei-me nos seus lábios que se encontravam entreabertos e novamente, instalou-se aquele silêncio constrangedor e o pior de tudo é que já não tinha ninguém para acabar com este.
"Tens quantos anos Malia?" Perguntou ele por fim.
"17 vou fazer 18 a 4 de Julho."
"Dia da independência.."
"Foi uma coincidência, de facto." Acrescentei e ele sorriu.
"É melhor voltarmos para a sala, antes que notem a nossa falta!" Assenti e fomos.
O almoço correu lindamente e o Jake fartou-se de falar com todos os outros, mas por algum motivo, eu apenas me conseguia concentrar naquilo que ele dizia.
"Jake não gostarias de ficar para o jantar?" Interrogou o meu pai depois do almoço.
"Por mais que queira, tenho que voltar para o navio Barack!"
"Tudo bem, mas tens que voltar um dia destes!"
"Claro que sim, com todo o gosto!" Disse ele pousando o seu olhar em mim.
Ele deu-me uma beijo demorado na cara e discretamente, entregou-me um papel.
"Está aqui o meu número, se algum dia precisares de algo, liga-me!" Estremeci ao ouvir tais palavras e fiquei estática, apenas aceitando o papel.
Ele acabou por se despedir de todos os presentes e sem grandes demoras, saiu.

A Filha do PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora