Ela não conseguiu dormir pois tudo havia virado uma bagunça, só precisa achar um jeito de consertar tudo. Consertar tudo, aquele sempre havia sido seu lema. Seu pai sempre estava metido em encrencas, ele sempre andava com as piores pessoas possíveis, ele sempre entrava em lutas e estava drogado, ela tentou se convencer por anos de que a morte prematura de sua mãe não havia sido culpa dele. Ela afastou esses pensamentos e decidiu ir ao balanço deprimente, ela não fumava fazia muito tempo e aquilo já estava subindo para sua cabeça. Andou calmamente até lá e sentou-se no balanço, pegou um cigarro do maço que havia em seu bolso e acendeu-o.
Ele não conseguiu dormir pois estava constantemente pensando na garota, pensando o quanto queria ajudar, pensando que talvez ele poderia ter deixado ela bater nele para fugir, mas ela acabaria com problemas piores. Ele queria tanto ajudar, queria poder fazer alguma coisa. Ele estava perdido em seus pensamentos quando sentiu um forte cheiro de cigarro e olhou pela janela. Lá estava ela, fumando. Ele decidiu ir lá, ir lá para talvez falar sobre o como ela não poderia fumar ou talvez apenas para observá-la. Andou rapidamente até lá e quando estava consideravelmente próximo dela decidiu que era uma boa hora para falar.
- Eu posso facilmente te prender - falou sarcasticamente, vendo a garota dar um pulo de susto para logo depois revirar os olhos.
- É apenas um cigarro - faltou e riu baixinho - Não pode me prender por isso.
- Sendo cigarro ou não você continua menor de idade - ele riu um pouco, mas ela continuou fumando e encarando o nada - E eu posso sim te prender por isso.
- Eu já estou presa - sussurrou enquanto ele se sentava no balanço ao lado.
- Você realmente acha que está presa?
- Sim
- Então você não sabe nada estar presa - ele disse estranhamente desconfortável.
- Por que? - ela gargalhou - Você já foi preso, policial?
- Meu pai foi - sussurrou.
- Oh... - disse chocada e pensou em fazer uma piada com isso, mas decidiu não fazer - Por que ele foi preso?
- Uso e trafico de drogas - suspirou, aquele não era um bom assunto.
- Parece que temos uma coisa em comum - riu - Bom, eu preferia meu pai preso. Ele está lá, em algum lugar, ninguém sabe o que ele está passando, ele pode estar morto. Mas... então, e sua mãe?
- Está bem viva - ele riu, agradecido por ela ter mudado de assunto - Ela está na casa dela nesse exato momento com minha irmã.
- Você tem irmã? Quantos anos? - ela perguntou, mas depois se arrependeu. Estou perguntando demais, pensou ela.
- 15, uma adolescente rebelde - gargalhou - E você?
- Eu? - disse confusa - Eu não tenho irmã.
- Não foi isso que quis dizer... E sua mãe?
- Bom ela morreu - disse como se aquelas palavras doessem - Eu estava lá, sabe? Quando aqueles homens entraram e a mataram. Ela estava no meu quarto, tinha acado de ler uma história para mim, eu tinha apenas 6 anos e tinha medo de tudo, eu escutei um barulho enorme e ela rapidamente olhou para mim e disse " Não foi nada Ky, a mamãe está aqui, olhe para mim " então eu olhei nos olhos dela que pareciam mais assustados que os meus, mas passavam uma enorme tranquilidade e disse "Vou precisar que você fique em baixo da cama, é como uma história querida" e eu, bem inocente disse "Como se eu fosse a princesa e o dragão estivesse vindo?" e ela sorriu " Sim querida" então eu me escondi e eles entraram atirando, eu só consegui ver ela caindo e eles indo embora. Eu sai lá e disse "Mamãe o dragão já foi embora?" mas ela não respondia então eu pensei que ela estivesse dormindo e esperei meu pai chegar, 2 horas depois.
Ele não sabia o que falar, sempre achou difícil o fato de seu pai não estar lá e sim na cadeia mas agora entendia que poderia ser pior.
Ela não sabia o por que havia contado tudo aquilo, estava assustada pelo fato de ter contado. Ele parecia confiável, mas não havia tentado ajudá-la horas antes. Um silêncio muito constrangedor começou novamente e ela decidiu quebrá-lo.
- Por isso eu estou desesperada - sussurrou - Ele pode fazer o que for, pode se meter no que for, pode sempre andar com qualquer um e pode até ser a causa da morte de minha mãe, mas ele continua sendo meu pai e eu o amo. Eu já vi minha mãe morrendo, só não aguentaria ver meu pai também.
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Don't give up //
AzioneTalvez, naquele dia, ele não estivesse lá para salvá-la, talvez ele não pudesse salvá-la. Talvez ela pudesse se salvar sozinha, talvez ela não quisesse ser salva. A vida é repleta de grandes talvezes.