Cap. 2

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Brilhe, brilhe, como o sol
Espalhe seu calor através de todo mundo
Eu te perguntei por que as pessoas morrem
Você disse, "Todos nós temos um enredo"

Funeral Suits - All Those Friendly People

◈◇◈

Deviam ser por volta de cinco e meia da manhã quando finalmente desisti de caçar o sono e me sentei na cama virada para a janela, observando as poucas estrelas que não haviam sido escondidas por nuvens. Não conseguia tirar aquela família de bonecas da minha mente, afinal, eu nunca havia visto nada tão bizarro e sem sentido.

Tinham aproximadamente umas vinte bonecas lá, todas diferentes umas das outras, cada uma assustadora à sua maneira. E no fim, as únicas caixas que eu e Eliel encontramos no sótão continuaram lá, pois nenhum de nós foi corajoso o suficiente para permanecer naquele lugar pelo tempo que fosse.

Meu coração palpitava e a cada meio minuto um arrepio percorria minha espinha. Claro, eu estava morrendo de medo, mas não pude evitar um sorriso. Era tão estranho mas ao mesmo tempo tão legal.

"Deve ser algo que os antigos donos deixaram, não sei" foi o que minha mãe disse, mas é óbvio que eu não engoliria algo assim. Uma louca fanática por terror e que enxerga coisas e motivos sobrenaturais em tudo simplesmente acreditar em uma explicação rasa e normal como essa? Haha, nem em sonho.

Peguei o celular debaixo do travesseiro e apertei um botão qualquer para ver as horas. Faltavam quase dez minutos para as seis e eu ainda estava sem sono algum.

Soltei um grunhido e deitei novamente, afundando o rosto num amontoado de cobertas, almofadas e ursos de pelúcia.

– O que acha, Berrie? – sussurrei para o meu urso favorito, apertando ele contra o peito. - Deve ter alguma coisa e...

Gelei ao ouvir alguém bater na porta. Afundei ainda mais minhas unhas no corpo fofo e cor-de-rosa de Berrie e respirei fundo, ainda hesitando para descer da cama e ir abrir a porta.

Mais três batidas.

Meus parabéns demônios aleatórios, escolheram a melhor hora para assombrar a minha casa.

– Anda Lis, eu sei que você tá acordada... – disse baixinho uma voz sonolenta e, no mesmo instante, saltei da cama para a porta - ou quase isso.

– Mas que merda Eliel, quer me matar do coração? Idiota – xinguei irritada, abrindo a porta, empurrando-o para dentro do quarto e já fechando a porta novamente, quase tudo ao mesmo tempo, tão rápido que nem eu mesma entendi direito o que estava fazendo.

– Para de gritar, vai acordar a mamãe – ele disse cambaleando em direção à minha cama.

– O que está fazendo aqui à essa hora? – perguntei ainda me recuperando do susto anterior. Nada legal.

– Tinham ratos no meu quarto, não me deixaram dormir por causa do barulho – resmungou já se enrolando no edredom.

– Ratos? – perguntei balbuciando, mais para mim mesma do que para ele.

– É, ratos, morcegos... Não sei, tinha algum roedor dentro do guarda-roupa ou embaixo da minha cama, não sei, tô morrendo de sono.

– É, tinham morcegos dentro do guarda-roupa e eles são roedores, sim, com certeza - concordei com ironia. – Seu anta.

– Ah cala a boca, vai dormir também.

Suspirei e revirei os olhos. Ótimo, não bastava não ter sono, tinha que aguentar o idiota do Eliel na minha cama. Que vida mais perfeita.

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